Em uma escalada das tensões comerciais, o Canadá anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre produtos estadunidenses, em resposta à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar com a mesma alíquota as importações canadenses.
A medida também inclui uma carga tarifária de 10% sobre o petróleo e o gás natural provenientes do país norte-americano.
Paralelamente, a China advertiu que tomará represálias pelos novos impostos de Washington, em um contexto de crescente protecionismo e disputas comerciais globais.
Canadá responde com tarifas equivalentes
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, qualificou a ação de Trump como um "ataque injustificado" e anunciou que seu governo responderá com medidas proporcionais.
A partir da próxima terça-feira, o Canadá aplicará tarifas de 25% sobre produtos americanos no valor de 30 bilhões de dólares. Uma segunda rodada de impostos, estimada em 125 bilhões de dólares, entrará em vigor três semanas depois.
"Canadá não tolerará um ataque de um país que se supõe ser aliado e amigo", declarou Trudeau, apontando que a medida de Trump viola os acordos comerciais vigentes, incluindo os tratados com o México.
Além disso, segundo El País, o mandatário canadense incentivou seus cidadãos a consumir produtos nacionais e demonstrou seu apoio aos setores afetados pela decisão dos Estados Unidos.
Em Ottawa, Trudeau esteve acompanhado pelos ministros das Relações Exteriores, Finanças e Segurança Pública, que concordaram na necessidade de uma resposta firme.
Posteriormente, o presidente do país do norte manteve uma reunião virtual com os governadores das províncias e teve uma conversa telefônica com a presidente do México, Claudia Sheinbaum.
A economia canadense pode ser severamente afetada pela política de tarifas de Trump, considerando que 76% de suas exportações têm como destino os EUA. Segundo o Banco do Canadá, o PIB do país pode reduzir-se em 2,4% no primeiro ano de implementação dessas medidas.
O preço que os EUA pagarão pelos tarifas de Trump
Em um artigo para The Atlantic, o jornalista David Frum explicou que as tarifas impostas por Trump não afetarão apenas o Canadá e o México, mas também a economia dos Estados Unidos.
"Todo imposto sobre importações é também um imposto sobre exportações", destacou Frum, explicando que produtos como a cevada americana, que é em grande parte exportada para o México para a produção de cerveja, serão afetados pela diminuição da demanda.
A economia dos Estados Unidos também sofrerá devido ao aumento dos custos de insumos essenciais, como vidro e alumínio, o que afetará setores como a construção e a aviação.
"Estados Unidos Primero" poderia ser traduzido como "Estados Unidos Só", advertiu Frum, sublinhando que as políticas protecionistas de Trump poderiam isolar os EUA de seus aliados comerciais.
No passado, países que tentaram se industrializar por meio de altas tarifas, como a Argentina e a Índia, acabaram marginalizados dos mercados globais. A história sugere que as barreiras comerciais podem prejudicar mais do que beneficiar.
A China promete represálias em resposta às tarifas dos EUA.
Por sua parte, o ministério do Comércio da China anunciou que tomará "contramedidas adequadas" para salvaguardar seus interesses após a decisão de Trump de aplicar uma tarifa de 10% sobre as importações chinesas.
Em um comunicado divulgado no domingo, Pequim afirmou que também apresentará uma demanda à Organização Mundial do Comércio (OMC), acusando os EUA de violar as normas do comércio internacional.
Além disso, alertou que essas medidas poderiam afetar a cooperação entre as duas nações em temas como o controle do fentanilo e outras substâncias ilegais.
"China insta os EUA a corrigirem suas práticas erradas e a estabelecer um diálogo franco para gerenciar as diferenças com base no respeito e no benefício mútuo", destacou o comunicado oficial do gigante asiático.
Os economistas alertam que as tarifas podem prejudicar tanto a China quanto os EUA, aumentando os custos para consumidores e empresas. Segundo estimativas da Tax Foundation, citadas pela agência EFE, essas tarifas representarão um custo adicional de 830 dólares anuais por lar americano em 2025.
Impacto global e perspectivas futuras
Os tarifários de Trump também poderiam impactar a economia global. De acordo com o Peterson Institute for Economics, a inflação em 2025 aumentaria em 2,27% no México, 1,68% no Canadá, 0,54% nos EUA e 0,17% na China.
Em relação ao PIB, prevê-se uma queda de -0,22% no Canadá, -0,18% no México, -0,16% na China e -0,06% nos EUA.
Em um mundo onde os EUA precisam de aliados para contrabalançar a influência da China, as políticas comerciais de Trump podem enfraquecer as relações estratégicas que definiram o comércio internacional desde 1945.
"Os Estados Unidos enfrentam um novo tipo de adversário", concluiu Frum, advertindo que uma política protecionista poderia deixar os EUA isolados em um ambiente global cada vez mais competitivo.
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