O jornalista cubano José Luis Tan Estrada parte para o exílio

José Luis Tan Estrada, jornalista camagüeyano, parte para o exílio após anos de hostilidade e ameaças do regime cubano, denunciando ter saído sob "condições extremamente difíceis" e repressivas.

Periodista José Luis Tan Estrada © Facebook / José Luis Tan Estrada
Jornalista José Luis Tan EstradaFoto © Facebook / José Luis Tan Estrada

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O jornalista camagüeyano José Luis Tan Estrada, reconhecido por liderar campanhas de ajuda humanitária e denunciar os abusos do regime cubano nas redes sociais, anunciou sua decisão de partir para o exílio, forçado pelo constante assédio e pelas ameaças do governo.

Durante uma transmissão ao vivo pelo Martí Noticias, o jornalista independente relatou que deixou Cuba enfrentando "condições extremamente difíceis".

"Saí com os olhos fechados e colocando o peito à frente", confessou Tan, que no passado sofreu múltiplos episódios de assédio por parte do regime.

Ele também destacou que a constante repressão do governo, evidenciada por cortes de internet, vigilância, perseguição e convocações, acabou forçando-o a abandonar seu país.

“Há mais de dois anos estou sofrendo uma repressão constante por parte da Segurança do Estado”, declarou Tan à Martí Noticias, denunciando sua expulsão da Universidade de Camagüey e uma campanha de difamação organizada pelo governo e pelo partido local, voltada contra ele.

“Uma coisa que não se consegue e isso se reflete nas pessoas nas redes sociais”, apontou o jovem que, nos últimos meses, realizou uma importante atividade solidária, demonstrando especial sensibilidade com as crianças e jovens mais vulneráveis.

Tan relatou que foi encarcerado em Villa Marista, onde passou uma semana em uma cela de tortura. Durante esse período, devido à má alimentação, perdeu dois dentes, pois “mastigava tanto uma pedra de sal quanto uma pedra no arroz”.

Além disso, ele lembrou das dificuldades que enfrentou até para receber atendimento médico em Cuba, afirmando que precisava fazê-lo "escondido, com máscara e boné", pois ninguém queria arriscar-se a ajudá-lo por medo de represálias. Vários amigos lhe ofereceram apoio, mas sempre em segredo, já que os diretores das clínicas temiam que, ao descobrirem, o regime tomasse medidas contra eles.

Segundo o ativista, a maioria das ameaças da Segurança do Estado eram direcionadas a suas postagens nas redes sociais e ao seu trabalho jornalístico, devido ao "alcance de suas publicações" e, especialmente, às "ajudas humanitárias" que ele gerenciava.

Dentre estas últimas, destacou que os oficiais viam suas publicações com desagrado porque "estava denegrindo os feitos da Revolução Cubana".

Sobre sua saída do país, Tan explicou que a Segurança do Estado "não lhe facilitou nada"; pelo contrário, obstruiu seus planos.

Relatou que no dia 25 de dezembro tentou viajar para a Nicarágua a partir do aeroporto de Havana, mas as autoridades nicaraguenses lhe proibiram a entrada. "É importante denunciar a cumplicidade do regime da Nicarágua com o regime cubano e com a Segurança do Estado", afirmou, acrescentando que perdeu 5.000 dólares na tentativa frustrada.

Além disso, revelou que havia recebido uma nova convocação para o dia 9 de janeiro, “com o agente Cristian, responsável pela repressão da Segurança do Estado”, sob o pretexto de supostamente violar a Lei de Comunicação Social.

Tan revelou ao Martí Noticias que, graças a informações fornecidas por pessoas próximas, sabia que antes do final do ano ou no início de 2025, seria encarcerado novamente sob a alegação de ter violado a Nova Lei de Comunicação.

Após confirmar essa informação, o jornalista começou a notar a presença de viaturas estacionadas perto de sua casa. Nos momentos em que não havia veículos, colocavam um agente em uma motocicleta marca Suzuki em frente à sua residência, vigiando-o constantemente.

Por outro lado, o ativista denunciou que não apenas ele foi vítima de repressão, mas também seus vizinhos e sua própria família, incluindo sua mãe e seu irmão mais novo, o que foi outro fator que o levou a deixar Cuba.

“Minha mãe, nos últimos dias, sofreu um ato de repúdio por parte de uma senhora do bairro, que a chamou de contrarrevolucionária, insinuando que minhas ajudas vinham de contrarrevolucionários... ou seja, foram várias ações que foram se intensificando, porque a Segurança do Estado sabe que o elo mais fraco que se tem é a família”, sublinhou.

O jovem ativista denunciou que foi alvo de repressão até o último minuto. “Ao passar pela imigração, o represssor que estava lá me olhou várias vezes, mandou que eu ficasse em frente à câmera umas três vezes, fez uma ligação, se afastou e voltou com outro represssor, um Major do MININT, que me ameaçou. Ele disse que se eu retornasse a Cuba, haveria consequências para mim, ‘gusanito’, que foi a palavra que usou.”

Posteriormente, foi levado a uma sala onde foi completamente despido. "Fingiram que estavam revistando minhas roupas", relatou o jornalista, que também denunciou que um Major do MININT estava presente no momento do embarque para garantir que ele subisse no avião.

Também expressou sua gratidão a uma amiga, cujo nome preferiu manter em anonimato, e graças a quem conseguiu viajar para a Guiana, país onde se encontra atualmente.

Quase ao concluir suas declarações ao Martí Noticias, o jovem jornalista camagüeyano confessou –entre lágrimas– que a maior dor de se exilar foi deixar para trás sua família, especialmente sua mãe e seu irmãozinho.

“Deixei para trás pessoas que ajudei, velhinhos, crianças órfãs, que dependiam de mim, comiam por minha causa”, e sobre isso, com grande pesar, relatou que no dia anterior à sua partida para Havana, um avô e duas crianças órfãs o visitaram, em evidente sinal de que precisavam de ajuda. “Assim é sanguinária a ditadura cubana.”

“Estou certo de que o que faço está atingindo o coração dela”, foram as palavras de ânimo expressas por Tan, que se reconfortava por não poder celebrar o Ano Novo ao lado de sua família.

“E não vão me calar, não vou desistir, e continuarei fazendo jornalismo e ajudando a todos que puder ajudar”, concluiu.

Poucos minutos após suas declarações ao portal Martí Noticias, o jornalista José Luis Tan Estrada compartilhou palavras cheias de emoção em seu perfil no Facebook, refletindo a mistura de dor e determinação que marcou sua partida para o exílio.

Captura do Facebook / José Luis Tan Estrada

“Este 31 de dezembro será diferente. Longe da minha mãe, do meu irmãozinho, da minha família, do meu povo, da minha terra. Dentro de quatro paredes em um apartamento no meio de uma cidade que amanhece mais cedo do que o habitual, onde se fala inglês misturado com seu dialeto. Onde o café não tem gosto de café. Olho para o céu da Guiana e penso no da minha República Independente de Camagüey”, escreveu o jornalista, descrevendo o desarraigo que enfrenta longe de Cuba.

Tan culpou diretamente o regime cubano pelo seu exílio, afirmando que "meu jornalismo, minhas publicações nas redes sociais e minhas denúncias atingiram seu calcanhar de Aquiles". Ele denunciou os métodos repressivos da Segurança do Estado, os quais responsabilizou por obrigá-lo a deixar a ilha “em situações extremas e sob ameaças”.

Apesar das adversidades, o jornalista reafirmou seu compromisso com seu trabalho e com seu país. “Aos capangas da Segurança do Estado, eu digo que continuarei fazendo jornalismo, que continuarei advogando pela liberdade dos prisioneiros políticos e pela liberdade de #Cuba sem cessar”, escreveu, assegurando que nem a distância nem o exílio silenciarão sua voz na luta por justiça e liberdade.

"Hoje, enquanto olho para o futuro, reafirmo meu compromisso com a verdade e a justiça. Embora a distância me separe fisicamente do meu lar, meu coração e minha voz sempre estarão unidos à luta por um país livre. Este 31 de dezembro, embora diferente, será um lembrete de que a esperança e a resistência nunca se extinguirão", concluiu, encerrando com um enérgico "Viva Cuba Livre!".

Esta mensagem, repleta de coragem e esperança, reafirma a decisão de Tan de manter-se firme em seu compromisso com os valores que o definiram como jornalista e ativista, mesmo a partir do exílio.

Perguntas frequentes sobre o exílio do jornalista cubano José Luis Tan Estrada

Por que o jornalista José Luis Tan Estrada decidiu se exilar de Cuba?

José Luis Tan Estrada decidiu se exilar devido ao constante assédio e ameaças por parte do regime cubano. Esse perseguição incluiu interrogatórios e ameaças de encarceramento se ele continuasse com seu trabalho jornalístico crítico em relação ao governo. Apesar de seu firme compromisso com o jornalismo independente e a denúncia de injustiças, as condições tornaram-se insustentáveis, obrigando-o a deixar o país para proteger sua segurança pessoal.

Qual foi o papel da Segurança do Estado na saída de José Luis Tan Estrada de Cuba?

A Segurança do Estado cubana foi fundamental na decisão de José Luis Tan Estrada de se exilar. Ele foi convocado para interrogatórios em várias ocasiões, onde agentes o advertiram sobre possíveis acusações de crimes como mercenarismo e propaganda contra o governo. Essas ações repressivas tinham como objetivo intimidá-lo e pressioná-lo a deixar o país, o que finalmente aconteceu devido à persistência do assédio.

Qual tem sido o impacto da repressão nos meios de comunicação independentes em Cuba?

A repressão teve um impacto devastador na mídia independente em Cuba. Os jornalistas enfrentam interrogatórios, apreensões de equipamentos e fundos, além de ameaças de encarceramento. Essa pressão levou muitos, como José Luis Tan Estrada, a se exilar ou a interromper suas atividades, enfraquecendo a capacidade dos meios de informar de maneira independente e crítica sobre a realidade cubana.

Quais estratégias o regime cubano utiliza para silenciar os jornalistas independentes?

O regime cubano utiliza estratégias de hostigamento, ameaças de prisão e coerção para silenciar os jornalistas independentes. Táticas como a tortura psicológica, convocações para interrogatórios e a aplicação de leis restritivas, como a Lei de Comunicação Social, são comuns. Essas ações visam desarticular qualquer iniciativa crítica ao regime e controlar o fluxo de informações na ilha.

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Redação da CiberCuba

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