Jimmy Carter e sua lição de democracia a Fidel Castro no histórico discurso proferido em Havana

“Quando os cubanos exercerem este direito de mudar pacificamente suas leis por meio de um voto direto, o mundo verá que são os cubanos e não os estrangeiros que decidirão o futuro deste país”, afirmou Carter naquele dia em Havana.

Jimmy Carter y Fidel Castro en La Habana © Cubadebate
Jimmy Carter e Fidel Castro em HavanaFoto © Cubadebate

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O ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, que faleceu neste domingo aos 100 anos em Plains, Geórgia, deixou um legado de diplomacia e reconciliação com o governo cubano, liderado na época por Fidel Castro.

Um dos momentos emblemáticos de sua aproximação a Cuba ocorreu em 13 de maio de 2002, quando proferiu um discurso histórico na Aula Magna da Universidade de Havana, na presença de Castro.

Este evento marcou um marco nas relações entre Cuba e Estados Unidos, caracterizadas por décadas de tensões e confrontos.

Durante sua intervenção, Carter reconheceu a complexa história entre os dois países, destacando que, embora os Estados Unidos tenham apoiado a independência de Cuba no início do século XX, a Emenda Platt evidenciou uma relação desigual.

“A dura realidade é que nem os Estados Unidos nem Cuba conseguiram definir uma relação que seja positiva e benéfica”, afirmou, sublinhando a necessidade de uma mudança na forma como ambos os países se percebem e dialogam.

Em seu discurso, Carter apresentou propostas concretas para melhorar a relação bilateral. Defendeu o levantamento do embargo econômico, salientando que este “induz à ira e ao ressentimento, restringe a liberdade dos cidadãos dos Estados Unidos e dificulta a troca de ideias e o respeito mútuo”.

Além disso, sugeriu a criação de uma comissão para resolver disputas históricas relacionadas a propriedades confiscadas após a Revolução Cubana e promover intercâmbios culturais e estudantis como pontes entre as duas sociedades.

Um ponto interessante surgiu quando o ex-presidente abordou o tema dos direitos humanos e da democracia, reconhecendo os avanços de Cuba na educação e na saúde, mas criticando a falta de liberdades civis.

Destacou iniciativas como o Projeto Varela, que buscava mudanças pacíficas por meio de mecanismos legais estabelecidos na Constituição cubana. "Fui informado de que tal esforço... conseguiu reunir assinaturas suficientes e apresentou um pedido dessa natureza à Assembleia Nacional.”

“Quando os cubanos exercerem esse direito de mudar pacificamente suas leis por meio de um voto direto, o mundo verá que são os cubanos, e não os estrangeiros, quem decidirá o futuro deste país”, afirmou.

Carter, que sempre se destacou por sua autocrítica, admitiu as imperfeições dos Estados Unidos em relação aos direitos humanos, como as desigualdades raciais e o acesso limitado à saúde.

No entanto, defendeu a capacidade das democracias de corrigir erros históricos, apresentando este modelo como uma estrutura adaptável às mudanças sociais.

O discurso concluiu com um apelo à reconciliação e uma visão esperançosa de um futuro em que Cuba e Estados Unidos poderiam superar sua divisão histórica.

"Depois de 43 anos de sentimentos carregados de animosidade, esperamos que em um futuro próximo, vocês possam estender a mão sobre esta grande divisão que separa nossos dois países", disse Carter, imaginando um hemisfério democrático e unido.

Em março de 2011, Carter fez sua segunda visita a Cuba, encontrando-se com o então governante Raúl Castro, líderes religiosos e membros da sociedade civil.

Embora a visita tenha sido de caráter privado, foi interpretada como um esforço para mediar em assuntos bilaterais, incluindo a situação de Alan Gross, um contratante americano detido na ilha.

Governo de Carter (1977-1981) e sua relação com Cuba

Durante o governo de Jimmy Carter (1977-1981), as relações entre os Estados Unidos e Cuba passaram por um período de relativa abertura e diálogo em comparação com as administrações anteriores.

Carter adotou uma abordagem mais pragmática e conciliadora, buscando reduzir as tensões herdadas da Guerra Fria. Nesse contexto, uma de suas conquistas mais significativas foi a reabertura das Seções de Interesses em Washington e Havana em 1977.

O ex-presidente também implementou medidas para suavizar as restrições de viagem para Cuba, permitindo que grupos de acadêmicos, jornalistas e religiosos pudessem visitar a ilha.

Além disso, facilitou o envio de remessas e pacotes para familiares em Cuba, fortalecendo os laços pessoais entre os cubanos da ilha e aqueles que viviam no exílio.

O nome de Carter também ficou indissociavelmente ligado a um dos maiores êxodos marítimos da história cubana: o êxodo do Mariel.

Entre abril e outubro de 1980, cerca de 125.000 cubanos chegaram ao sul da Flórida em barcos, após a decisão do governo cubano de permitir a saída em massa de cidadãos pelo porto de Mariel.

Esse êxodo gerou uma tempestade política para Carter, que enfrentou críticas tanto por sua gestão do tema quanto pelas tensões sociais que surgiram nos Estados Unidos devido à chegada em massa de refugiados.

Em um discurso proferido em maio daquele ano, Carter reafirmou a postura humanitária de seu governo, declarando que os Estados Unidos “continuarão oferecendo o coração e os braços abertos aos refugiados que buscam a liberdade”.

No entanto, este evento se tornou um tema politicamente divisivo e possivelmente contribuiu para sua tentativa frustrada de reeleição em 1980.

Carter também enfrentou desafios significativos em suas tentativas de normalizar as relações. O apoio de Cuba a movimentos revolucionários na África e na América Latina gerou tensões com os Estados Unidos, que viam essas ações como uma ameaça aos seus interesses geopolíticos.

Além disso, embora tenha sido discutida a possibilidade de levantar o embargo econômico, a oposição política interna e o contexto da Guerra Fria impediram avanços substanciais nesse tema.

No entanto, apesar desses episódios, sua administração lançou as bases para futuras discussões sobre a normalização das relações e é lembrado como um presidente que buscou construir pontes em uma relação historicamente conflituosa.

Perguntas frequentes sobre Jimmy Carter e seu discurso histórico em Havana

O que destacou Jimmy Carter em seu discurso em Havana em 2002?

Em seu discurso em Havana, Jimmy Carter destacou a necessidade de melhorar as relações entre os Estados Unidos e Cuba. Defendeu o levantamento do embargo econômico e a promoção de intercâmbios culturais e estudantis. Além disso, criticou a falta de liberdades civis em Cuba e ressaltou o Projeto Varela como um esforço para conquistar mudanças pacíficas na ilha.

Qual foi a postura de Jimmy Carter sobre os direitos humanos em Cuba?

Jimmy Carter reconheceu os avanços de Cuba em educação e saúde, mas criticou a falta de liberdades civis e direitos humanos na ilha. Promoveu a ideia de que os cubanos deveriam ter o direito de mudar suas leis por meio de um voto direto, como parte de um processo democrático.

Qual foi o impacto do discurso de Jimmy Carter nas relações entre Cuba e Estados Unidos?

O discurso de Jimmy Carter em Havana em 2002 foi um marco nas relações entre Cuba e os Estados Unidos, pois foi a primeira vez desde 1959 que um presidente americano visitou a ilha. Ele apresentou propostas concretas para melhorar as relações bilaterais e estabeleceu as bases para futuros diálogos sobre a normalização das relações entre os dois países.

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