
O mandatário Miguel Díaz-Canel voltou a culpar o embargo dos Estados Unidos a Cuba pelas "carências e dificuldades" (sérias) que o sistema de saúde na Ilha enfrenta.
Na opinião do sucessor de Raúl Castro, não tem importância alguma que seu governo invista 14 vezes mais no turismo do que na saúde e nos serviços sociais, ou que o dinheiro confiscado dos médicos enviados "de missão" ao exterior, sob a justificativa de destinar esses fundos à saúde pública, não seja perceptível em nenhum hospital, pelo menos, daqueles que o povo frequenta.
Para Díaz-Canel, o inferno são os outros. E por isso não há uma pitada de autocrítica no post que ele compartilhou nesta terça-feira na rede social X (anteriormente Twitter) parabenizando os médicos pelo Dia da Medicina Latino-Americana.
"No Dia da Medicina Latino-Americana, nosso reconhecimento a todos os trabalhadores da Saúde, orgulho da nação, pela sua dedicação à mais nobre das profissões, em meio às carências e dificuldades impostas pelo bloqueio", escreveu o ditador.
As respostas ao seu tweet o deixaram em uma situação complicada. "O salário básico de um médico especialista é de 5.560 pesos por mês (16 dólares) e um par de sapatos em Cuba custa 15.000 pesos (45 dólares), e isso é apenas um exemplo. Imagine comer, se vestir e pagar aluguel", reprochou um usuário.
"Talibán, de onde você tirou essas fotos? Porque as que eu tenho dos hospitais da região são muito diferentes. Desfaça-se dessas fotos", apontou outro usuário, mostrando imagens atualizadas da decadência da saúde cubana, bem distintas do mundo hospitalar idílico que compartilhou Díaz-Canel.
"É preciso reconhecer os trabalhadores da Saúde diante das necessidades e dificuldades, porque para os hospitais há dinheiro, mas para investimentos em hospitais, não," reclamou outro internauta.
Até houve quem criticasse Díaz-Canel pelo fato de suas netas terem nascido em um hospital destinado a dirigentes. "Lá não havia nem carências nem dificuldades, muito menos bloqueio. Você até desfocou o fundo da foto para que ninguém visse os hospitais do mundo paralelo do clã mafioso, que está bem longe das carências e necessidades. É imoral", disse outro, em meio a um mar de elogios à medicina cubana, provavelmente vindos, entre outros, de ciberclarias treinadas para louvar o ditador.
A resistência do Minsap
Na mesma linha de Díaz-Canel, o Ministério da Saúde Pública (Minsap) aproveitou suas felicitações aos médicos para falar de "resistência", omitindo os casos de profissionais de saúde que abandonam seus cargos "porque não se pode viver disso".
À ausência de medicamentos, higiene e instalações deterioradas, o ministro da Saúde, José Ángel Portal, fala de "tempos desafiadores", sem mencionar a terrível crise sanitária que o país enfrenta, repleto de doenças contagiosas como o oropouche e a dengue, que os especialistas atribuem à insalubridade das ruas do país, devido à falta de coleta de lixo.
O desfile de sinônimos não se restringiu apenas a "carezas e dificuldades", "tempos desafiadores" ou à menção de "resistência". O primeiro-ministro Manuel Marrero acrescentou outro sinônimo para se referir à terrível debacle do sistema de saúde cubano: "complexidades".
Essa estratégia de mascarar a realidade não é nova. Os maiores eufemismos que se lembram são "Período Especial", usado para se referir à terrível crise econômica cubana dos anos 90, após a queda do Muro de Berlim, e a "Tarefa Ordenamento", que alude ao enésimo intento fracassado de unificar moedas e conter a hemorragia econômica que enfrenta Cuba. Essa última situação resultou na atual onda de apagões, que chegou a deixar o país três dias sem luz em outubro passado.
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