A repulsa cresce pelo assassinato, em uma prisão cubana, do bisneto do Poeta Nacional Nicolás Guillén

Sobre o jovem pesava uma condenação de seis anos de prisão.


Conforme as horas passam, cresce nas redes sociais o repúdio ao assassinato na prisão de Manuel de Jesús Guillén Esplugas, jovem preso político que também era bisneto do Poeta Nacional de Cuba, Nicolás Guillén.

Guillén Esplugas, de 29 anos, cumpria uma pena de seis anos na prisão Combinado do Leste, em Havana, por sua participação nas protestas de 11 de julho.

O regime informou à família que o jovem tirou a própria vida, algo que Yan Franco Esplugas, que se identificou nas redes como primo do jovem falecido, negou veementemente.

Não faltou quem, nas últimas horas, comparasse a sorte diferente do descendente de Nicolás Guillén à de Sandro Castro, neto de Fidel Castro, que se prepara para celebrar seu aniversário em grande estilo.

“O bisneto do poeta Nicolás Guillén, preso político, é assassinado de uma pancada na prisão. O neto de Fidel Castro publica em seu Instagram obscenas duckfaces enquanto anuncia sua festa de aniversário em seu bar de junior empresário”, escreveu no Facebook Caterina Camastra, que observou que "seria comédia se não fosse tragédia".

Captura do Facebook/Caterina Camastra

Uma frase recorrente nas redes tem sido que a "revolução devora seus filhos", referindo-se à proximidade que Nicolás Guillén manteve com o regime durante décadas.

Captura do Facebook/Alberto González

“Tantas medalhas, Nicolás Guillén, e aquele a quem você tinha que fechar a muralha hoje assassinou seu bisneto. A revolução devora seus filhos. À ditadura: feche a muralha. A quem persegue e assassina quem opina diferente: feche a muralha”, denunciou Cati de Luca.

Tem sido recorrente a menção à poesia de Guillén para denunciar a injustiça da qual agora foi vítima um membro da família do poeta.

"'Tenho, vamos ver, tenho o que tinha que ter'. Quando Nicolás Guillén escreveu 'Tengo', ele não imaginava que décadas depois sua própria descendência sofreria a violência do regime que tão ilusoriamente defendeu, a que tanto cantou e dedicou seus poemas. Sim. O bisneto de Nicolás Guillén, Manuel de Jesús Guillén Esplugas, foi assassinado a golpes em uma prisão cubana", escreveu Daykel Angulo.

"Su delito: manifestarse pacíficamente el 11 de julio de 2021.'...Vuelvo los ojos, miro, me veo y toco, y me pregunto cómo ha podido ser...", añadió Angulo.

Captura do Facebook/Daykel Angulo

"Pedimos aos governos democráticos que intercedam para alcançar justiça para Manuel de Jesús e para todos os nossos mártires. Exigimos a Díaz-Canel e Raúl Castro o fim da brutal repressão, a liberdade de #SOSFerrer e de todos os detidos e prisioneiros políticos, e que saiam do poder imediatamente. Nossas condolências a familiares e amigos. Descanse em paz, Manuel de Jesús, que nosso Senhor o acolha em seu santo seio", escreveu, por sua vez, Ana Belkis Ferrer, irmã do também preso político, José Daniel Ferrer.

Membro da União Patriótica de Cuba (UNPACU) e promotor do Cuba Decide, em 2023 o jovem manifestante do 11J já estava preso há mais de um ano e meio, sem que uma data para seu julgamento fosse marcada ou que a petição do Ministério Público fosse comunicada.

Sua mãe, Dania María Esplugas, apresentou um segundo Habeas Corpus ao Tribunal Provincial de Havana exigindo sua liberação imediata, após o primeiro pedido ter sido rejeitado em janeiro pela sala de segurança do Estado do Tribunal Supremo de Justiça.

O caso de Guillén Esplugas tem sido apontado por opositores como um exemplo das violações legais cometidas pelo regime cubano em casos relacionados com a explosão social do 11J.

Residente em Habana Vieja, o jovem foi detido de forma violenta no dia 17 de julho de 2021 por agentes da segurança do Estado, após ter divulgado nas redes sociais vídeos que documentavam sua participação nos protestos do 11J.

Nicolás Guillén, poeta nacional alinhado com o castrismo.

O bisavô de Manuel de Jesús Guillén Esplugas, Nicolás Guillén (1902-1989), é um dos poetas cubanos mais destacados do século XX, reconhecido como a voz literária da identidade afrocubana e da luta social na ilha.

A obra de Guillén, profundamente enraizada nas tradições populares e culturais de Cuba, mescla poesia social, política e lírica com ritmos que são característicos do son cubano. Autor de obras emblemáticas como Motivos de Son (1930) e El son entero (1947), Guillén explorou temas como a desigualdade racial, a identidade nacional e a justiça social, consolidando-se como uma figura central do movimento literário afrocubano.

A relação de Nicolás Guillén com o governo cubano foi marcada por uma profunda afinidade ideológica e por uma colaboração ativa após o triunfo da Revolução em 1959. Guillén, que desde cedo expressou uma inclinação pelo marxismo e pelas ideias socialistas, encontrou no governo liderado por Fidel Castro uma realização de seus ideais de justiça social e transformação das estruturas opressivas em Cuba.

Seu apoio ao regime foi explícito e constante, a ponto de se tornar um representante cultural do governo tanto dentro quanto fora da ilha.

Guillén ocupou cargos de relevância no âmbito cultural, sendo presidente da União de Escritores e Artistas de Cuba (UNEAC) desde 1961, ano em que a UNEAC foi fundada, até a morte de Guillén, em 1989.

Neste papel, Guillén foi um defensor firme das "políticas culturais da Revolução", alinhando-se com as diretrizes estatais na promoção de uma literatura comprometida com os valores do socialismo. Essa proximidade ao poder o colocou em uma posição ambivalente em relação à censura e às restrições impostas a outros intelectuais que não compartilhavam plenamente a linha oficial.

Sua posição como figura institucional o ligou a decisões que marginalizaram escritores e artistas por suas posturas críticas ou por não se adequarem aos cânones do "realismo socialista".

A nível internacional, Guillén desempenhou um papel fundamental como embaixador cultural do governo cubano, utilizando seu prestígio literário para projetar uma imagem positiva da Revolução.

Aumenta o número de mortes de presos cubanos.

A organização não governamental Cubalex, especializada em monitoramento de direitos humanos em Cuba e na oferta de assistência jurídica gratuita na ilha, publicou um relatório sobre a repressão no país durante o primeiro semestre de 2024, que resultou em 26 mortes sob custódia.

As condições nas prisões cubanas continuam alarmantes, com evidências de torturas, tratamentos cruéis e desumanos, além de uma grave falta de assistência médica que contribui para as mortes sob custódia.

O número é ainda mais impressionante se considerarmos os últimos dois anos, período em que ocorreram 56 mortes de pessoas que estavam sob custódia das autoridades do país, com a morte sendo a consequência final desses casos.

Atualmente, o regime cubano mantém 554 pessoas encarceradas por participarem dos protestos de 11 de julho em dezenas de cidades e vilarejos de Cuba, os maiores registrados no país.

Perguntas frequentes sobre o assassinato de Manuel de Jesús Guillén e a repressão em Cuba

Quem era Manuel de Jesús Guillén Esplugas?

Manuel de Jesús Guillén Esplugas era um prisioneiro político cubano, membro da União Patriótica de Cuba (UNPACU) e promotor do Cuba Decide. Participou das protestas de 11 de julho de 2021 e estava confinado na prisão Combinado del Este, em Havana. Seu assassinato foi denunciado em circunstâncias não esclarecidas pelas autoridades, o que gerou indignação e protestos por parte de ativistas e opositores cubanos.

O que se sabe sobre as condições dos presos políticos em Cuba?

As condições dos presos políticos em Cuba são alarmantes, com denúncias de torturas, tratamentos cruéis e desumanos, e falta de atendimento médico adequado. Relatos indicam que as prisões cubanas enfrentam severas carências de alimentos e produtos de higiene, o que contribui para um estado de saúde deplorável entre os detidos. Ativistas e organismos internacionais têm exigido melhorias nas condições carcerárias e a libertação dos presos políticos.

Como a comunidade internacional reagiu à repressão em Cuba?

A comunidade internacional tem expressado preocupação com a repressão em Cuba, com apelos de figuras políticas e organizações de direitos humanos para que cessem as detenções arbitrárias e sejam libertados os prisioneiros políticos. O secretário adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental dos Estados Unidos e eurodeputados solicitaram sanções e ações concretas contra o governo cubano.

Qual é a situação atual de José Daniel Ferrer, líder da UNPACU?

José Daniel Ferrer, líder da UNPACU, continua encarcerado sob condições que foram denunciadas como cruéis e desumanas.Ele foi vítima de agressões e encontra-se em um estado de saúde debilitado, o que gerou denúncias por parte de sua família e da comunidade internacional. Apesar disso, Ferrer mantém seu compromisso com a luta pela liberdade e pelos direitos humanos em Cuba.

O que os familiares dos presos políticos denunciaram sobre o tratamento que recebem?

Os familiares dos prisioneiros políticos em Cuba denunciaram o tratamento desumano e as condições degradantes a que seus entes queridos são submetidos. Há relatos de torturas físicas e psicológicas, falta de atendimento médico e severas restrições no contato com suas famílias, o que agrava sua situação de saúde e bem-estar. Essas denúncias buscam gerar pressão internacional para melhorar as condições dos prisioneiros e conseguir sua libertação.

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