O youtuber cubano conhecido pelo seu canal JSant TV visitou a Amistad 26, o recém-inaugurado mercado em Moeda Livremente Conversível (MLC) localizado no município Plaza de la Revolución.
Decidido a explorar os preços e disposto a gastar os 3,30 MLC disponíveis em seu cartão, o youtuber não teve muita sorte na navegação.
No primeiro dia, fecharam-lhe a porta na cara porque houve uma queda de luz e o local foi encerrado; no segundo dia, após uma fila exaustiva na qual precisou de muita paciência, conseguiu entrar, mas, para sua surpresa, enquanto estava lá dentro, a luz voltou a falhar.
No entanto, desta vez não fecharam devido à falta de energia, mas sim optaram por avisar os clientes de que deveriam pagar através do Transfermóvil, o aplicativo móvel da ETECSA que permite realizar diversas operações bancárias, comerciais e de telecomunicações a partir de um dispositivo móvel em Cuba.
Em meio a um apagão dentro da loja, a JSant TV explorou uma variedade de produtos e preços. Massas, feijões, purê de tomate, queijos, farinha, sal, açúcar e outros produtos, mas a maioria deles estava muito cara.
À primeira vista, a loja parecia mais bem abastecida do que outras do mesmo tipo, mas os preços continuam sendo exorbitantes, com produtos espanhóis a valores claramente superiores aos praticados na Península Ibérica.
Uma grande surpresa para o youtuber e seu acompanhante foi um quilo de arroz a 7,60 dólares, ou seja, cerca de 2.014 pesos se considerarmos o MLC a 265 CUP, que é o preço que se mantém de forma estável no mercado informal.
"Isso é arroz com incrustrações de ouro," comentou o comunicador com ironia.
O arroz em questão é Dacsa, uma marca espanhola reconhecida e certamente nada barata, com denominação de origem valenciana, especializada na produção de variedades de alta qualidade, seleção artesanal e especialmente utilizada em pratos tradicionais como a paella.
É realmente abusivo submeter os clientes cubanos - para os quais o arroz é um alimento básico - a um arroz com tais características e tal preço.
Possivelmente havia a outros preços ou talvez os mais baratos já tivessem acabado, mas o simples fato de comercializar um quilograma de arroz em um mercado em Cuba a 7,60 MLC beira a imoralidade.
Durante seu percurso, JSant explorou e comparou os preços dos produtos disponíveis na loja com seu valor no mercado negro.
No final, o youtuber não conseguiu comprar nada porque, por ter um iPhone - que não permite a instalação do Transfermóvil - ele não tinha como gastar seus 3,30 MLC.
"'O que você precisa pelo melhor preço'... Esse slogan está errado, senhor, isso é falso", concluiu ao sair da loja, em frente à vitrine que vendia como verdadeiro um slogan vergonhoso.
Na seção de comentários do vídeo, dezenas de internautas ficaram escandalizados com os preços, superiores aos valores encontrados nos supermercados espanhóis.
"O slogan deve dizer 'Os melhores preços para quem tem parentes em Miami', sentenciou com ironia um comentarista."
Loja com fornecedor basco
O Mercado Amistad 26, situado na interseção da Avenida 26 com a Zapata, é fruto de uma colaboração entre a Cadena de Tiendas Caribe e o fornecedor basco Aldaketa.
Durante o ato de reabertura, a equipe da loja comprometeu-se a oferecer um serviço de qualidade, enquanto o fornecedor garantiu que trabalhará em melhorias na variedade de produtos e nos preços para se adequar às necessidades da população.
No entanto, esse tipo de anúncio não pode ocultar uma realidade evidente: grande parte do povo cubano não tem acesso à moeda livremente conversível (MLC), o que os exclui automaticamente de poder comprar nessas estabelecimentos.
Fica longe a vazia promessa de Díaz-Canel em 2020, quando explicava a função das lojas MLC como uma necessidade para abastecer as lojas em moeda nacional.
As lojas em moeda livremente conversível (MLC) surgiram em Cuba em 2019 como uma medida econômica do governo para captar divisas estrangeiras em meio a uma crescente crise econômica e a uma severa escassez de produtos básicos.
No entanto, com o tempo, essas lojas se tornaram uma fonte de desigualdade social, uma vez que muitos cubanos não têm acesso direto a divisas, dependendo de remessas ou do mercado informal para conseguir comprar nelas.
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