Crise energética em Cuba: Por que a UNE tem reportado números mais baixos de interrupções?

Pouco a pouco, a agonia sofrida pelos cubanos nestes dias apocalípticos volta à "normalidade", ou seja, a dias com serviço elétrico parcial, pontuados por longas horas de apagão.

Apagón en Cuba (imagen de referencia) © Facebook / Hanoi Moreno Enríquez
Apagão em Cuba (imagem de referência)Foto © Facebook / Hanoi Moreno Enríquez

Desde a desconexão total do sistema eletroenergético nacional (SEN) ocorrida no dia 18 de outubro, seguida por outros eventos similares durante o processo de recuperação, a União Elétrica de Cuba (UNE) tem relatado números de geração, demanda e déficit diferentes dos habituais antes do colapso de sua infraestrutura.

Por que a UNE tem relatado números mais baixos de “afetações” (apagões) desde que anunciou pela última vez a restauração do SEN, na terça-feira, 22 de outubro?

A resposta foi oferecida pelo engenheiro Lázaro Guerra Hernández, diretor geral de Eletricidade do Ministério da Energia e Minas, entrevistado na segunda-feira, 11 de novembro, pela Revista Buenos Días da Televisão Cubana.

As baixas cifras de apagões previstas pela UNE a partir de 22 de outubro devem-se ao fato de que o "restabelecimento" do SEN não é completo, mas sim parcial, pois até esta segunda-feira ainda permaneciam parcialmente desconectadas do sistema as províncias de Pinar del Río, Artemisa, Havana e Mayabeque.

As cifras de déficit, capacidade de geração e apagões “não consideram as províncias afetadas de Pinar del Río até Havana”, ressaltou Guerra Hernández em sua apresentação diária. Ou seja, os dados apresentados na previsão da UNE referem-se ao serviço oferecido às províncias de Matanzas até Guantánamo.

"A afetación se concentra da província de Matanzas até a província de Guantánamo. Pinar del Río, Artemisa, Havana e Mayabeque não estão incluídas nesta situação. Tudo que pode ser disponibilizado nessas províncias neste momento está sendo oferecido", explicou o especialista.

Na tarde da noite de segunda-feira, após mais de 120 horas consecutivas de apagão, a província de Pinar del Río conseguiu restabelecer sua conexão com o SEN.

A província mais ocidental de Cuba, que não sofreu grandes danos pelo furacão Rafael, ficou isolada do sistema elétrico devido à queda de várias torres de alta tensão em Artemisa, deixando a região sem fornecimento de energia.

“A província tem sido atendida por microsistemas isolados, mas devido à sobrecarga, esses sistemas mostraram instabilidade, afetando serviços essenciais como hospitais e fontes de água potável”, mencionou a empresa elétrica da província em um comunicado.

Por outro lado, a capital do país, Havana, avançava na segunda-feira para 98,36% na recuperação do serviço elétrico, que já havia sido restabelecido para mais de 846.000 clientes, de acordo com relatórios oficiais. A capital de Cuba representa cerca de um quarto do consumo elétrico do país.

Nesta terça-feira, ao atualizar a situação do SEN, Guerra Hernández informou que operava de maneira estável. “Já temos SEN em todas as províncias do país. Ontem, Pinar del Río foi conectado às 21h44 e, às 3h da manhã, todo o território estava com serviço elétrico”, afirmou o diretor, segundo o portal oficial Cubadebate.

Além disso, comentou que a maior afetção no restante do país, de Matanzas a Guantánamo, foi de 1.047 MW, às 18h40 da tarde de segunda-feira. "É preciso levar em conta que nas províncias de Havana, Artemisa e Mayabeque ainda podem existir afetções", acrescentou em relação ao dia de terça-feira, no qual a UNE anunciou apagões de 1.168 MW (algo mais próximo dos números "normais"), devido a um déficit de capacidade de geração superior a 1.100 MW.

Parece que, com o SEN praticamente restabelecido de ponta a ponta da Ilha, a UNE já começa a fazer previsões de "afet acionamentos" mais semelhantes às dos dias anteriores ao seu colapso total.

Pouco a pouco, a agonia vivida pelos cubanos nesses dias apocalípticos retorna à “normalidade”, ou seja, a jornadas com fornecimento elétrico parcial, salpicadas por longas horas de apagão que, após dias sem eletricidade, parecerão um milagre para alguns, um retorno ao pesadelo habitual para outros, e uma nova “vitória” para o regime que deixou colapsar a infraestrutura elétrica do país enquanto destina bilhões de dólares a seus investimentos hoteleiros.

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