Nos últimos dias, a imprensa oficial do regime cubano publicou artigos que exibem uma contradição em suas abordagens sobre as manifestações no mundo e a protesto social na Ilha.
Um claro exemplo disso pode ser encontrado no meio oficialista Cubadebate, que demonstrou compreensão em relação aos manifestantes que - em Valência, Espanha - exigiram a renúncia do presidente autonômico devido à gestão das devastadoras inundações causadas pela DANA, e em outro artigo justificou a repressão contra aqueles que protestam pelos apagões em Cuba.
A solidariedade do Cubadebate com os afetados valencianos pelo fenômeno atmosférico contrasta com o alinhamento do meio que é dirigido pelo porta-voz do regime cubano, Randy Alonso Falcón, com os argumentos da Procuradoria Geral para deter e processar os manifestantes cubanos que protestam contra a gestão governamental da crise energética.
Um artigo do Cubadebate sobre os protestos em Valência descreveu como 130.000 pessoas tomaram as ruas para expressar sua "ira" contra o governo valenciano devido à sua resposta insuficiente após a DANA, que deixou 222 vítimas fatais e milhares de afetados.
A manifestação, convocada por 65 organizações e apoiada por outras 83, ocorreu pacificamente, com exceção de alguns incidentes menores, como o lançamento de barro e tinta contra edifícios governamentais.
Em sua cobertura, o Cubadebate parece apoiar as reivindicações dos manifestantes, destacando os gritos de "Mazón dimita" e "o povo unido jamais será vencido", e dando voz às críticas contra a Generalitat pela falta de resposta oportuna e eficaz durante a emergência.
Em contraste, um segundo artigo publicado pelo referido meio oficial adotou uma postura oposta em relação aos manifestantes em Cuba, onde as autoridades iniciaram processos penais contra pessoas em Havana, Mayabeque e Ciego de Ávila por participarem de atos de protesto.
Segundo a Procuradoria Geral da República, cujo texto foi reproduzido pela referida mídia, foram impostas medidas cautelares de prisão preventiva aos acusados por "atentado, desordens públicas e danos".
A nota do Cubadebate argumentou que esses atos de desobediência afetam a “tranquilidade cidadã” e justificou as ações das autoridades cubanas, aludindo à necessidade de “ordem, disciplina e respeito às autoridades”.
Além disso, o comunicado da Procuradoria elogiou a atitude daqueles que "se dedicam às tarefas de recuperação do país", contrapondo-a à suposta irresponsabilidade dos manifestantes.
A disparidade entre ambas as posturas ressalta a dupla moral do regime cubano. Enquanto apoia as reivindicações de justiça dos manifestantes espanhóis, que exigem responsabilidade e prestação de contas de suas autoridades, condena enérgicamente os protestos de seus próprios cidadãos, a quem nega o direito de se expressar e criticar a gestão governamental.
A Procuradoria do regime cubano, cujas palavras foram assumidas pelo Cubadebate, não mencionou os problemas que levaram às protestas no país — principalmente, os apagões prolongados e a escassez de recursos — mas descreveu os manifestantes como uma ameaça à ordem e à segurança.
Além disso, a linguagem utilizada, referindo-se ao "respeito pela legalidade socialista", reforçou a narrativa de que qualquer dissidência ou crítica em Cuba é inaceitável e deve ser punida.
Esse contraste se torna ainda mais evidente quando se examinam as semelhanças entre ambas as manifestações. Tanto em Valência quanto em Cuba, os protestos surgem em um contexto de crise, embora em cenários diferentes.
Na Espanha, os protestos foram uma reação à gestão inadequada de uma tragédia natural; em Cuba, a população saiu às ruas em meio a uma crise energética e uma situação econômica que impacta todos os aspectos da vida cotidiana.
No entanto, enquanto o regime cubano considera a protesto em Valência como uma expressão legítima da frustração cidadã, recusa-se a reconhecer as mesmas motivações em seus próprios cidadãos e recorre à repressão e a processos penais para silenciar o descontentamento.
A posição oficialista cubana reflete um claro duplo padrão e revela uma hipocrisia institucional. O regime cubano, que se orgulha de defender os direitos dos povos em nível internacional, reprime seus cidadãos quando estes exercem esse mesmo direito de protestar e exigir melhorias.
Enquanto as autoridades valencianas permitiram a protesto sem maiores represálias, o regime cubano respondeu aos seus manifestantes com detenções e julgamentos, em uma tentativa de controlar a dissidência e impedir a expressão do descontentamento popular.
Esta contradição no discurso da imprensa oficial deixa em evidência o desafio que os cubanos enfrentam: um regime que apoia as protestos em outros países enquanto reprime as manifestações em seu próprio território, demonstrando uma política de censura e punição para quem questiona a realidade na Ilha.
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