Padre cubano que decidiu emigrar: "De Cuba nos obrigam a sair aqueles que se apoderaram dela"

"Precisamos ter a consciência de que Cuba não pertence a ninguém e temos o direito de não viver longe dela. Terei que partir devido ao egoísmo de alguns e à covardia de muitos."

Manuel Viera  © Manuel Viera Porelcambio / Facebook
Manuel VieraFoto © Manuel Viera Porelcambio / Facebook

O advogado cubano Miguel Viera, que recentemente anunciou que deixará o país porque não vê um futuro para sua filha na Ilha, contou o quão doloroso está sendo o processo de vender todos os seus pertences.

Viera, muito popular na internet por suas críticas ao governo, revelou que tomou a decisão de emigrar porque precisa fazê-lo, mas que isso não o torna feliz.

"Quando alguém vem ver a casa, é minha esposa quem cuida de tudo, ela é quem está encarregada de vender toda a minha vida. Nesse momento, vou para a garagem e me fecho dentro do carro; lá, trancado e no escuro, espero que o tempo passe. Não tenho coragem de negociar minha vida. De vender as coisas pelas quais tanto lutei," disse em seu mural do Facebook.

Captura do Facebook / Manuel Viera Porelcambio

O jurista afirmou que Cuba está ligada a raízes que lhe custam muito a arrancar, que carrega profundamente o sentimento de ser cubano e que sempre que viajou no passado, sempre voltou.

"De Cuba, somos obrigados a sair por aqueles que se apoderaram dela. Aqueles que impõem sua doutrina e sua política sem direitos. Nos forçam a serem desterrados, a sentir falta do sol, a sonhar com as praias à distância, a ansiar pela nossa infância, a chorar por nossas famílias", denunciou.

"Teríamos que tomar consciência todos de uma vez de que isso não é o que queremos! Que Cuba não é de ninguém e que temos direito a não viver longe dela! Terei que ir embora pelo egoísmo de uns poucos e pela covardia de muitos, e eu me incluo... eu irei, mas nesse dia um pouco, um pouco não, bastante, morrerei por dentro!", enfatizou.

Manuel Viera, conhecido em suas redes como "Manuel Viera Porelcambio", afirmou em setembro que a principal razão de sua saída é o desencanto político.

"Não estou saindo de Cuba por problemas econômicos, estou saindo por problemas políticos", afirmou, e garantiu que a sociedade cubana está "quebrada" e "ninguém quer consertar".

O advogado anunciou então a venda de sua casa no município da Playa, uma residência na qual investiu 18 anos, construída "pedra por pedra" e "onde vi nascer meus três filhos, pensada para viver e ter o negócio ali".

Ele também está vendendo seu carro, um velho Dodge argentino que herdou de seu pai e que o acompanhou por mais de três décadas. "Conheço cada porca e cada parafuso do meu palmiche", disse.

Viera, que em 2021 comentou que Cuba jamais progredirá enquanto os que governam não respeitarem a pluralidade de ideias políticas em igualdade de direitos, ressaltou que não voltará enquanto "cheirar a medo" e persistir o controle político sobre a sociedade.

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