Sem-teto de Miami se queixam da lei que lhes proíbe dormir nas ruas.

Alguns argumentam que não existem abrigos suficientes.


Após a entrada em vigor, nesta quarta-feira, da lei Estadual HB 1365, que proíbe que os sem-teto durmam nas ruas da Flórida, várias pessoas expressaram seu descontentamento, argumentando que a medida agrava a situação daqueles que já se encontram em condições vulneráveis e não oferece soluções reais para abordar o problema da falta de moradia.

Um reportagens transmitido pela cadeia de televisão América TeVé refletiu que alguns moradores de rua não estão dispostos a cumprir a lei.

“Não quero um abrigo porque já tive quatro vezes no abrigo. O governo tem que me pagar meu dinheiro, tem que chegar a um acordo comigo”, apontou Humberto Morales.

Miguel Santiago, que sim deseja acatar a nova lei, opinou que não têm onde ir: “Procurem um lugar ou um imóvel vazio onde todo mundo se acomode, mas não fazem nada”.

O jovem desamparado relatou ao canal de televisão que as autoridades lhe ordenaram mudar de lugar, uma medida que ele qualificou de absurda, já que simplesmente o obriga a mudar de localização, mas continuaria vivendo na rua de qualquer forma.

A lei HB 1365, que proíbe que pessoas sem-teto durmam em espaços públicos nas cidades e condados, entrou em vigor nesta terça-feira.

A normativa busca pôr fim à ocupação de parques, calçadas e outros lugares de uso comum por parte de desabrigados, implementando medidas rígidas para regular a situação em todo o estado, com especial impacto em Miami.

Paralelamente, organizações que ajudam pessoas em situação de rua se mobilizam para obter mais camas e abrigos.

Malena Legarre, diretora da organização Hermanos de la Calle, explicou à América TeVé que a nova medida gerou que pessoas “que nunca antes nos haviam solicitado ajuda agora estão pedindo uma cama em um abrigo”.

Indicou que a polícia não está realizando prisões, uma vez que tanto o governo quanto a cidade de Miami, junto com o condado, estão focando em buscar soluções e oferecer alternativas para as pessoas sem-teto.

O objetivo não é criminalizar os desamparados, mas sim oferecer opções que melhorem sua situação, considerou.

A lei HB 1365, em vigor para todo o estado da Flórida, permite que os governos locais estabeleçam acampamentos onde pessoas em situação de rua possam ficar por um ano, contanto que estejam afastados de áreas residenciais e comerciais.

Ditos emplazamentos receberão a supervisão do Departamento de Crianças e Famílias do Estado, está estritamente proibido o consumo de álcool e drogas, ressaltou a rede de televisão.

No entanto, a diretora da organização Hermanos de la Calle considerou que “o importante agora é focar os recursos em casas de acolhimento e camas disponíveis, mas não em acampamentos”.

“Estamos tendo que gerar mais espaços, mais lugares, por isso as organizações, o Homeless Trust, a cidade de Miami, estão trabalhando nessa geração de espaços”, apontou.

Além disso, mencionou que a organização que dirige está “alugando mais casas” graças ao apoio do DDA, o que lhes permite continuar se expandindo. Atualmente, contam com 22 residências e seu objetivo é alcançar 25 no curto prazo.

Ron Book, presidente do Homeless Trust de Miami-Dade, informou à América TeVé que no condado “não haverá acampamentos desse tipo”, embora tenha enfatizado que “estão se preparando para ampliar a disponibilidade de camas nos abrigos”.

A necessidade de criar essas capacidades é urgente, já que a nova lei estipula que, se uma pessoa desamparada rejeitar a ajuda oferecida pela cidade ou pelo condado, os departamentos de polícia local estariam facultados a arrestá-la.

A lei HB 1365 tem como antecedente uma ordenança similar aprovada em Miami Beach há um ano, pontuou a emissora.

A juízo do comissário Alex Fernández, a medida funcionou muito bem, já que permitiu realizar 322 reunificações familiares e 538 pessoas foram acolhidas em abrigos. Além disso, apenas foram realizados 249 arrestos durante todo o ano.

“Já faz um ano que a cidade de Miami Beach tem a ordenança mais rígida do estado da Flórida, onde oferecemos assistência aos desabrigados, mas se rejeitarem essa assistência, a polícia pode fazer uma prisão,” destacou.

Além disso, explicou que a intenção “não é criminalizar o desamparado, ao contrário, é oferecer-lhe assistência.”

Atualmente, existem mais de 1.000 desabrigados nas ruas e 3.800 em abrigos no condado de Miami-Dade, números que permanecem abaixo da Califórnia e de Nova York, indicou a América TeVé.

A lei HB 1365, que entrou em vigor na última terça-feira, faz parte da agenda "lei e ordem" do governador Ron DeSantis, e foi assinada em março de 2024, em um evento em Miami Beach.

Nesse momento, DeSantis destacou que a legislação não tem apenas como objetivo manter a segurança nos espaços públicos, mas também abordar de maneira humanitária o problema das pessoas em situação de rua, facilitando sua reintegração social.

No entanto, atualmente o estado da Flórida enfrenta uma importante crise migratória.

Na cidade de Hialeah, por exemplo, onde um aluguel "econômico" pode custar mais de 1.300 dólares, os migrantes cubanos optam por dormir em seus carros e viver nas ruas, conforme retrata uma reportagem da emissora Univisión.

“Eu prefiro dormir em uma camionete do que pagar um aluguel, porque um estúdio custa 1.300 dólares. Tem quem pague 1.800 dólares”, disse um cubano em anonimato ao mencionado meio televisivo.

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