Captado em câmera tentativa de desalojo em Villa Clara

O aumento da pobreza e da exclusão social em Cuba, somado ao maior êxodo migratório de sua história, resultou em um crescimento no número de ocupações de habitações e locais vazios na Ilha, tanto de particulares como pertencentes ao Estado.


Uma mãe cubana com dois filhos pequenos gravou o momento em que agentes da Polícia Nacional Revolucionária (PNR) acompanharam os supostos proprietários da casa que ela havia ocupado para proceder ao seu despejo.

O vídeo gravado pela mãe ocupante da habitação mostrou a discussão que ocorreu com os supostos proprietários que exigiam que ela deixasse a casa, assim como a chegada posterior de duas patrulhas da PNR ao local.

Captura de tela Facebook / Marvelis González

O fato foi denunciado no Facebook pela usuária identificada como Marvelis González e teria ocorrido na terça-feira, 17 de setembro. Ao que parece, a mãe não teria onde viver e, por esse motivo, teria ocupado uma residência vazia.

“Hoje, 17 de setembro de 2024, uma desesperada chamada Bárbara Rodríguez Bonachea, com uma menina nos braços, é desalojada na rua Libertadores Nº 112, entre as ruas Tristá e San Cristóbal, no bairro Raúl Sancho (El Condado), município de Santa Clara, província de Villa Clara”, relatou a internauta.

Captura de tela Facebook / Marvelis González

Segundo a publicação de González, posteriormente removida da rede social, Rodríguez Bonachea teria ocupado a residência em um gesto de desespero, “porque não tem onde viver com seus dois filhos”.

“A polícia esteve no local e não fez nada [para ajudá-la]. Só querem que a senhora saia com as crianças para a rua, e toda a gente que está lá [os vizinhos] está dizendo para ela sair", relatou González, criticando a atuação da polícia e a atitude dos vizinhos por serem insensíveis.

Gravado do interior da residência, o vídeo mostrou a barricada colocada atrás da porta de entrada pela mãe, que colocou uma mesa para dificultar a entrada dos reclamantes. Ao mesmo tempo, ela carregava seu filho mais novo nos braços, utilizando-o como escudo humano para coibir qualquer ação violenta da polícia e supostos proprietários.

Parece que, pelo que está registrado no áudio da gravação, o jovem que o instava a abandonar a residência é o filho da proprietária. Segundo a mãe que ocupava a casa, o jovem não morava lá e convivia com a mãe. Como a residência estava desabitada, a mulher considerou que poderia ocupá-la, dada sua situação de desamparo com crianças menores sob sua responsabilidade.

O incidente foi denunciado por González como uma "desocupação". "Olhem o que acontece em Cuba, onde supostamente dizem que não há desocupação. Olhem para aquela mulher batendo na janela até quebrá-la e dizendo àquela mãe com seus dois filhos que saia para a rua", disse a internauta que apoiou o suposto direito da mãe a ocupar uma casa.

Suas duas publicações foram deletadas do Facebook, por motivos que são desconhecidos. No momento de redigir esta nota, também não se conhece a situação em que se encontra Rodríguez Bonachea e seus dois filhos pequenos, assim como a atuação das autoridades neste caso (além de enviar a polícia) e o resultado final da disputa.

Em 2023, o regime cubano endureceu as ferramentas legais para a desocupação de pessoas que ocupam ilegalmente habitações ou propriedades estatais, fenômeno que se intensificou em meio à crise de habitação na ilha e ao êxodo migratório.

O Tribunal Supremo Popular publicou no Diário Oficial o Parecer 471 de 2023, que contém as "Instruções sobre como proceder no caso do crime de Usurpação do Artigo 421 do Código Penal".

No entanto, o aumento da pobreza e da exclusão social em Cuba, somado ao maior êxodo migratório de sua história, resultou em um crescimento no número de ocupações de moradias e locais vazios na Ilha, em algumas ocasiões de particulares, mas em muitas outras pertencentes ao Estado.

A finais de julho, um grupo formado por várias mães numerosas, 19 crianças, uma pessoa acamada e uma jovem grávida enfrentou uma tentativa de despejo da antiga Fábrica de Gelo, em Santiago de Cuba, que haviam ocupado desde maio passado devido a graves problemas habitacionais.

O jornalista independente Yosmany Mayeta Labrada informou no Facebook que o grupo de pessoas ocupou o velho edifício, localizado na rua Barracones e que havia sido utilizado como lixão, porque estavam desesperadas pelo “jogo de palavras e a mentira governamental”, após anos de espera por uma solução habitacional.

Dias antes, um cubano denunciou o despejo de sua avó octogenária de sua casa em Bayamo, Granma, e condenou a total inação da Polícia Nacional (PNR), que não aceitou receber sua denúncia, expondo que sua avó havia sido vítima de golpistas disfarçados de policiais e autoridades de Habitação.

Líbia Sablon Aguilera, de 83 anos de idade, apresentava uma fratura de quadril no momento da desocupação e sofreu uma isquemia cerebral devido à violenta e desagradável situação em que se viu envolvida.

Em maio, um jovem casal cubano, junto com três crianças doentes, denunciou viver em condições precárias sem receber ajuda do governo, motivo pelo qual haviam ocupado uma casa sobre a qual não deram detalhes.

“Estamos em uma moradia porque não temos onde ficar, não temos casa”, destacou o jovem pai, enquanto a mãe denunciou que as autoridades cubanas não ajudavam mães com filhos e as ameaçavam com despejo.

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