Goteras dentro do ônibus: Assim vão para a escola as crianças com necessidades especiais em Cuba

“Agora mesmo há algumas crianças doentes devido à chuva do dia 1 de setembro. Uma mãe e seu bebê de um mês foram contaminados com a gripe porque sua filha mais velha adoeceu naquele dia. O que é preciso esperar? Que ocorra uma tragédia, que uma criança fique doente de pneumônia?”


As crianças com necessidades especiais que frequentam a escola Dora Alonso, localizada na Cidade Escolar Libertade, no município de Marianao, viajam em um ônibus que tem goteiras nos dias de chuva, o que motivou denúncias nas redes sociais.

Um vídeo compartilhado pelo jornalista Mario J. Pentón mostrou as condições em que são transportados os pequenos alunos com necessidades especiais, que precisam se proteger com capas de chuva e guarda-chuvas para não se molharem dentro do ônibus que os leva à escola.

"Estas são as condições em que vão as crianças da escola especial Dora Alonso em Marianao, Havana. Nossos filhos - que têm necessidades educativas especiais - passam três horas neste ônibus. É terrível", descreveu à Pentón a fonte que enviou a gravação.

Por sua parte, o perfil de redes sociais e jornalismo cidadão La Tijera publicou no Facebook fotografias do ônibus e a denúncia de uma mãe que relatou “as condições precárias em que se encontra a guagua em que se trasladam crianças com autismo”.

Captura de tela Facebook / La Tijera

De acordo com o relato desta pessoa, cuja identidade não foi revelada, “as crianças, professores e o motorista ficam ensopados dentro [do ônibus] e chegam em casa como pintinhos molhados”.

"A escola não tem recursos para consertar isso. Foram feitas queixas pertinentes (…) escrevi para a Atenção à População no Governo, e a queixa desceu tanto que chegou à [autoridades de] Educação do [município] Cerro. Fizeram-me assinar uma carta [dizendo] que eles não tinham nada a ver com isso, sendo este um assunto de Educação de Marianao", explicou a denunciante.

Após expor a situação diante "da direção da base de transporte e do chefe provincial de transporte escolar, a resposta é que não há recursos", acrescentou a mãe.

“Agora mesmo há algumas crianças doentes por causa da chuva do dia 1 de setembro. Uma mãe e seu bebê de um mês se contagiaram com a gripe porque sua filha mais velha adoeceu naquele dia. A que devemos esperar? A que haja uma tragédia, que uma criança adoeça de pneumonia? São crianças que, na sua maioria, não falam, que não sabem expressar seu mal-estar, que são difíceis de medicar, e além disso não há medicamentos,” questionou a mãe em sua denúncia.

Impotentes, os pais se perguntam se são eles “os que têm que resolver essa situação” e se, além de seus filhos, “os professores também merecem isso depois de um dia intenso de trabalho?”.

Por isso tornam pública a denúncia e exigem que as autoridades solucionem o problema do transporte escolar de crianças com necessidades especiais. “Cada tarde que chove é triste ver o que acontece. Há vídeos das correntezas neste ônibus.”

“Eu, mãe de uma criança que viaja nesse ônibus, exijo uma solução imediata. Como eu, somos muitas que a cada tarde de chuva sofremos esperando nossos filhos e rezando para que não adoeçam.”

Em abril de 2013, a subdiretora da escola especial Dora Alonso, Yaima Demósthene Stering, explicou à imprensa oficialista os métodos que são aplicados nas escolas especiais cubanas para atender o autismo, um transtorno associado à afetacão da socialização, da comunicação e do comportamento.

Segundo ele disse, trata-se de programas de estimulação que estão ligados a especialidades como a logopedia, a fisioterapia, a música e a computação, entre outras. Stering destacou a importância da "continuidade de todo o aprendizado da escola em casa e a generalização nos ambientes sociais".

“É preciso ser pessoas verdadeiramente consagradas ao serviço dos outros; um pode apreciar, ao vê-los ali com seu aluno, o trabalho incessante, o esforço e, além disso, a infinita satisfação que experimentam toda vez que conseguem um avanço”, disse o ditador Fidel Castro sobre os professores e o pessoal em geral da escola ao inaugurá-la.

Um artigo publicado em janeiro de 2020 pela Tribuna de La Habana afirmava que "durante 18 anos de trabalho, a escola adquiriu reconhecida experiência na educação de crianças com autismo, que a partir de então contaram com os recursos materiais e humanos para sua atenção individualizada e intensiva, de acordo com suas necessidades particulares".

Talvez esteja na hora de a jornalista oficialista Norma Ferrás Pérez dedicar um novo artigo à Escola Especial Dora Alonso, expondo como, quatro anos depois, as crianças cubanas com autismo viajam em um transporte escolar cujo estado prejudica sua saúde e seu bem-estar.

"Um abraço aos mestres e trabalhadores do setor da Educação, que prepararam e abriram as escolas com todo amor e carinho. Cuba continuará apostando em uma educação de qualidade para todos", escreveu no X o governante Miguel Díaz-Canel desejando um feliz início de ano letivo.

“Felicidades para essas crianças que hoje podem começar o ano letivo. Existem mães que não puderam comprar mochilas de 8 mil e 10 mil pesos e sapatos que custam super caros, sem mencionar a quantidade de crianças que hoje não têm nada para lanchar”, respondeu uma mãe cubana.

O que você acha?

COMENTAR

Arquivado em:


Tem algo a relatar? Escreva para a CiberCuba:

editores@cibercuba.com +1 786 3965 689