Sacerdote cubano Alberto Reyes: Não se muda um país com maldições pelo apagão, a liberdade tem um preço.

"A Revolução cubana terá ganhado a imprensa, a televisão, a propaganda… mas perdeu o coração dos cubanos."

Sacerdote cubano Alberto Reyes © Alberto Reyes / Facebook
Sacerdote cubano Alberto ReyesFoto © Alberto Reyes / Facebook

O sacerdote cubano Alberto Reyes, forte crítico do regime, afirmou que o importante para uma ditadura não é ganhar, mas "não perder", o que é diferente, e que por isso em Cuba não há eleições, para que o povo não possa tirar os ditadores do poder.

O Padre publicou no Facebook um texto em que afirma que o governo está ciente de que perdeu o coração dos cubanos; por isso, se concentra em não perder o poder e reprime qualquer tentativa de questionamento e dissidência.

Reyes, da diocese de Camagüey, instou as pessoas a não jogar o jogo da ditadura e a não participar no que lhes propuserem, e lembrou-lhes que a situação não mudará com queixas em casa, já que a liberdade tem um preço e é preciso estar disposto a pagá-lo para não sermos um país sem futuro.

A seguir, CiberCuba compartilha o texto integral da publicação.

"Tenho estado pensando... (LXXXI) por Alberto Reyes Pías"

Tenho pensado que o importante para uma ditadura não é ganhar.

Já sabemos qual é o mecanismo básico das ditaduras atuais: utilizando as oportunidades que a democracia oferece, conseguem que o povo lhes conceda o poder, e uma vez no poder, destroem a democracia para se perpetuarem no poder.

Por isso, uma vez que 'ganharam', já não precisam voltar a ganhar. Precisam não perder, o que é diferente.

Há alguma dúvida sobre a fraude eleitoral de Nicolás Maduro? Há alguma dúvida de que a vontade do povo venezuelano é a saída de Maduro e de seu grupo do poder? Não, ninguém duvida, começando por eles. Mas o interesse deles não é 'ganhar' umas eleições que sabiam que eram impossíveis de ganhar. O interesse deles é não perder o poder sobre o povo, não perder o controle sobre o país que colocaram a seu serviço.

Desde o ano 59, em Cuba não temos eleições. Só temos 'votações', um teatro nacional esporádico cujo resultado não define nem um milímetro a vontade deste povo. O clã do poder em Cuba é consciente de que, ao longo dos anos, sua proposta ideológica tem se diluído cada vez mais, até chegar à maior derrota que um sistema pode sofrer: a derrota no coração do povo. Porque a Revolução cubana há de ter ganhado a imprensa, a televisão, a propaganda… mas perdeu o coração dos cubanos.

Captura do Facebook / Alberto Reyes

Por isso, os esforços desse sistema nunca se direcionam a 'ganhar', porque sabem que, diga o que disser o povo, eles vão impor tudo o que quiserem.

Seu interesse real é não perder, não perder o poder, deixar bem claro que toda tentativa de questionamento será interrompida, que toda tentativa de 'dissidência' será paralisada.

Por isso se mobilizam imediatamente diante de qualquer indício de protesto: um cartaz em uma parede, a simples manifestação pacífica de um civil ou o simples anúncio dessa manifestação, a convocação a uma oração pública ou o som de um sino em meio à escuridão.

Têm pânico de perder o controle, têm terror de deixar de ser os senhores, os controladores da vontade de um povo. Como o faraó bíblico, não podem se permitir ficar sem escravos.

O restante não lhes importa. Não lhes importa a miséria e o aumento dos preços dos bens básicos, não os preocupa o sangramento que implica a emigração contínua, zombam dos anseios mais profundos deste povo: seus desejos de liberdade, de progresso, de democracia… Por não importar, já não lhes importa nem mesmo o colapso do sistema de saúde e da educação, esses bastiões que tanto lhes serviram para vender sua ideologia ao mundo.

O que podemos fazer enquanto não tivermos eleições, enquanto não se puder militar livremente em partidos de oposição, enquanto sair às ruas para protestar continuar sendo a antesala da prisão?

Podemos deixar bem claro em nosso entorno que não os temos, que não vamos aplaudi-los, que não vamos fazer o jogo deles, que não vamos participar do que nos propuserem.

Porque não se muda a situação de um país com queixas em casa, nem com maldições na hora das apagões. A liberdade tem um preço, e se não somos capazes de pagar o mínimo preço de dizer o que pensamos e acreditamos, se não somos capazes de pagar o mínimo preço da verdade, então seremos para sempre um país sem futuro.

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