Com seu habitual sarcasmo e engenhosidade, o humorista cubano Jardiel González voltou a criticar a insalubridade crescente em Havana, uma capital onde se acumulam montanhas de lixo nas esquinas de todos os seus bairros.
Em uma de suas simpáticas e diretas críticas, Jardiel mostrou o que definiu como uma “nova modalidade de lixo”, a qual denominou “lixão em [forma de] ‘L’”.
Para isso foi suficiente um pequeno percurso por uma quadra do município de Marianao, onde o lixo se acumulava em duas de suas esquinas. Enquanto em uma os resíduos se acumulavam em um monte, na outra o lixo dobrava a esquina e se estendia ao longo de duas ruas.
“Está este tipo que é um lixeiro montoncito. Aqui, no pleno 51 e 118, ao lado de Prodanza, eh, para que o lixeiro dance… Mas agora eu vou te mostrar um lixeiro em ‘L’, que é um lixeiro lindo. Você vê? Olha como dobra a esquina… Vou te dar lixeiro lindo em ‘L’, seu cachorro penco”, disse o humorista em seu vídeo.
A Jardiel não deixa escapar nenhum tema de atualidade ou de interesse social e, com agudeza, questiona tanto as incoerências do sistema monetário imposto pelo regime e seu impacto nos bolsos dos cidadãos comuns, quanto recria, com um humor misturado com tristeza, como as crianças cubanas vivem o Dia de Reis.
Entre chiste e chiste, o ex-integrante do grupo humorístico Punto y Coma questiona o estado de abandono e miséria em que se encontra a cidade e critica os responsáveis por essa desoladora situação.
Buracos nas ruas, entulhos e lixo por toda parte, drenos destampados... têm sido alvo de seus mordazes vídeos, que provocam risadas, mas também fazem refletir sobre a crítica realidade cubana.
No final de março, o humorista surpreendeu posando em um dos inúmeros lixões que proliferam em Havana, para denunciar, com seu sarcasmo habitual, a falta de limpeza na capital cubana e a indiferença das autoridades diante de um problema que representa um risco para a saúde da população.
Em julho do ano passado, Jardiel criticou a quantidade de lixo que havia em todas as cidades do país, fundamentalmente em Havana, e propôs que transformassem os carrinhos de bagagem do Aeroporto Internacional "José Martí", da capital, em latões de lixo.
"As esquinas estão parecendo lixões", disse. "Carritos para o lixo é o que faz falta... Tomara que se comesse lixo, para você ver como íamos estar alimentados", disse, embora decidiu baixar o tom de voz para que ninguém decidisse colocar na cota de racionamento uma quantidade de lixo.
Em datas recentes, diante da situação de insalubridade que padece o bairro de Luyanó, em Havana, vizinhos desesperados denunciaram as condições deploráveis em que vivem, apontando a acumulação massiva de lixo e a falta de ações por parte das autoridades competentes.
Dias antes, um vídeo que circulou nas redes sociais evidenciou a grave crise na coleta de lixo em Havana, onde esquinas populares foram colonizadas pelos montes de resíduos sólidos.
As imagens mostraram a esquina de Lealtad e San Lázaro, em Centro Habana, convertida em um enorme lixão, enquanto internautas cubanos afirmaram que "assim está toda Cuba" e questionaram as intenções do governo de "impulsionar o turismo na ilha" com tanta sujeira nas ruas.
"Eu gostaria de saber que turista vai querer vir aqui se Cuba é um desastre total", disse uma das muitas pessoas que comentou na publicação.
Por sua parte, o governo cubano reconheceu problemas para gerenciar o lixo. Em um recente anúncio, afirmou que estava buscando apoio de investidores estrangeiros para resolver a crise na gestão de resíduos sólidos no país, principalmente em Havana, onde o aumento do lixo coloca em risco a saúde de milhares de pessoas.
Empresas estrangeiras apresentaram suas alternativas para solucionar o problema do lixo no Sistema Integral de Gestão de Resíduos de Havana. O regime assegurou que há mais de dez projetos de investimento estrangeiro nesse tema.
No entanto, até a data, nenhum projeto se concretiza e os cubanos continuam sofrendo com o problema do lixo, especialmente em Havana.
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