Em 2015, o atleta Yasmani Acosta (Matanzas, 1987), vice-campeão em luta greco-romana nos Jogos Olímpicos de Paris, tomou a decisão de escapar da delegação cubana com a qual participou dos Jogos Pan-Americanos do Chile, daquele ano, e para conseguir isso, contou com a ajuda do lutador chileno Andrés Ayub, com quem o cubano ainda mantém uma boa amizade.
Tudo se forjou em uma conversa na academia, quando Yasmani Acosta, que havia viajado ao Chile junto ao hoje cinco vezes campeão olímpico Mijaín López, perguntou a Ayub quais eram as possibilidades de encontrar trabalho no Chile. Segundo a história que Ayub contou ao El Deportivo, ele respondeu que, se quisesse ficar, poderia contar com sua ajuda.
Nessa ocasião, Yasmani Acosta, que representou o Chile em Paris, estava nervoso, competiu e perdeu para um dominicano, mas cumpriu seu compromisso de entregar a vaga, ao contrário de outros cubanos, explica Ayub, que fogem antes da competição.
O lutador chileno lembra que a situação foi complexa porque tinha que esconder Yasmani Acosta e escolheu para isso o motel Marín 014, famoso por suas habitaciones temáticas. "Entramos os dois, imagina quando nos viram chegar... Eu passei algumas grana (dinheiro), algo de comida e no dia seguinte fui buscá-lo. Aí o levamos com um amigo para uma residencial. Ele ficou dois dias dormindo em camas pequenas como de meia praça e daí o levamos para a casa de um amigo", lembra.
Esses primeiros anos, como já contou em alguma ocasião o próprio Yasmani Acosta, foram particularmente difíceis porque, ao ficar no Chile, ele não podia retornar a Cuba em cinco anos, embora depois soubesse que eram três. Ele lembra que no início sentiu muita falta da família e, além disso, a incerteza de não saber se havia tomado a decisão correta o sobrecarregava. "Sou muito caseiro. Não sou de sair e sofri bastante", disse em uma entrevista à Cooperativa FM, em referência à separação de sua família.
Para ajudar Yasmani Acosta a superar a nostalgia, os amigos chilenos, incluindo Ayub, o convidavam para todas as celebrações familiares. Depois, o cubano conheceu sua namorada, Rommina Sepúlveda, nascida na Suécia, mas criada no Chile, que, segundo relata o meio chileno En Cancha, conheceu o subcampeão olímpico de luta greco-romana pelo Tinder e pagou uma passagem para que ele a visse. Ambos estão juntos há oito anos e moram em Valparaíso.
Andrés Ayub também assegura que ajudou Yasmani Acosta com a papelada junto às autoridades. No entanto, o cubano passou dois anos sem treinar, trabalhando como segurança, até conseguir a residência no Centro Olímpico do Chile. E a partir desse momento, sua vida mudou. Ele retomou seus sucessos esportivos até chegar a Paris.
Em declarações à imprensa chilena, Ayub lembrou que viveu, a nível desportivo, uma experiência semelhante à de Yasmani Acosta, que disputou a final com seu amigo e mentor Mijaín López. Ele teve que lutar contra 'O gigante de Herradura' em Toronto e naquela ocasião, como aconteceu agora em Paris com Yasmani, disse: "Nos vemos na final".
Para Ayub, a disputa pelo ouro de Yasmani Acosta e Mijaín López foi "a final perfeita que ele buscava" o cubano nacionalizado chileno e por isso acredita que se não se machucar e se cuidar, pode conseguir o ouro em Los Angeles 2028.
Em qualquer caso, a prata conquistada em Paris por Yasmani Acosta compensa a quinta colocação e o diploma olímpico obtido em Tóquio, algo que ele não tinha superado antes destes Jogos Olímpicos. De fato, em uma entrevista, ele chegou a confessar que Tóquio ainda lhe dói porque conserva a sensação de que naquela ocasião os árbitros não o favoreceram quando lutou pelo bronze e por isso se esforçou muito desta vez para que sua vitória não dependesse do critério de um terceiro.
O Chile estava atento à medalha olímpica que Yasmani Acosta poderia trazer para estes Jogos. O próprio presidente chileno, Gabriel Boric, enviou uma mensagem ao lutador de origem cubana nas redes sociais antes de ele disputar o ouro em um duelo histórico contra Mijaín López. E após conquistar a medalha, escreveu: "Tremendo Yasmani em Paris 2024! Obrigado pela sua medalha de prata para o Chile na luta greco-romana. Sabemos do seu esforço e trabalho para chegar onde você está. Parabéns, cra!"
No dia 25 de março de 2024, Yasmani Acosta avisou aos seus seguidores no Instagram sobre o início da "preparação mais importante e mais dura" para os Jogos Olímpicos de Paris. Quase cinco meses atrás, ele escreveu que havia planejado ficar várias semanas fora do Chile treinando no mais alto nível para a "batalha final". Essa, que lhe deu uma medalha de prata olímpica ao seu país adotivo e à sua dura carreira esportiva.
O que você acha?
COMENTARArquivado em: