Vozes do regime cubano responsabilizam a American Airlines pelo desterro de Anamely: "A negativa mais direta não partiu de nós."

Con Filo é um programa da Televisão Nacional de meados de 2021, destinado ao público jovem, que apresenta a versão do regime sobre os acontecimentos nacionais e internacionais.


Este artigo é de há 2 anos

A apresentadora do programa televisivo oficialista Con Filo, Gabriela Fernández Álvarez, disse que a companhia American Airlines é a principal responsável pelo desterro da ativista cubana Anamely Ramos.

"Hasta agora, a negativa mais direta e objetiva não foi dada por nós, mas os meios de comunicação têm um culpado claro, porque como sempre, Miami confirmou isso," disse Fernández Álvarez em tom irônico.

A comunicadora oficialista também expressou aos telespectadores que deseja que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, preste "a metade da atenção" às solicitações do governo cubano que suas companhias aéreas.

O comentário de Fernández Álvarez é interpretado como uma tentativa de desacreditar as declarações da American Airlines, que afirmam que Cuba não permitiu a entrada da ativista.

Nos breves minutos dedicados a comentar este caso, o programa Con Filo omitiu informações relevantes para sua audiência. Por exemplo, não mencionaram que Ramos não tem residência nos Estados Unidos nem em nenhum outro país fora de Cuba.

Tampouco informaram que a recusa do regime cubano em permitir a entrada da professora universitária no país a obriga a infringir as leis de imigração dos Estados Unidos, uma vez que seu visto está prestes a expirar e ela ficaria em situação irregular nesse país.

Um terceiro elemento que também não foi mencionado é que Ramos afirma que não deseja solicitar asilo político nos Estados Unidos, mas sim retornar à sua terra natal, como é seu direito, para continuar lutando pela liberdade dos prisioneiros políticos e tornando seus casos visíveis nas redes sociais.

A companhia aérea americana, para explicar a impossibilidade de Ramos de embarcar no voo para Havana nesta quarta-feira, recorreu a um protocolo internacional que as companhias aéreas dos Estados Unidos devem seguir em relação à migração e afirmou que o governo da ilha ordenou que ela não fosse autorizada a entrar.

A própria ativista deu declarações após participar de uma reunião com funcionários do Aeroporto de Miami e pessoal da American Airlines. "Se Cuba diz que uma pessoa é inadmissível e não pode entrar no país, eles têm que acatar", afirmou Ramos, que acredita que há algum interesse por parte da American Airlines em tudo o que aconteceu.

A jornalista independente Camila Acosta denunciou em suas redes sociais a estratégia utilizada pelo governo cubano para se pronunciar sobre o desterro de Ramos.

"Através do programa Con Filo, o regime cubano responde à negativa de entrada em Cuba de Anamely Ramos: foi uma decisão da companhia aérea. Cinismo e desvergonha são termos insuficientes para classificá-los. A American Airlines deve se pronunciar sobre isso", disse Acosta em seu perfil no Facebook.

Con Filo é um programa da Televisão Nacional, iniciado em meados de 2021, voltado ao público jovem, com o intuito de apresentar uma versão do regime sobre os acontecimentos nacionais e internacionais. Afirmam que "denunciam a manipulação da qual a realidade cubana é alvo nos meios digitais".

O conhecido porta-voz oficialista Humberto López teve uma postura diferente sobre este assunto. Ele justificou o exílio de Ramos citando o Decreto-Lei 302 de 2012, uma regulamentação que permite ao governo cubano negar a entrada no território a qualquer pessoa que estimule, realize ou participe de ações "hostis" contra os fundamentos políticos do Estado.

López não utilizou os meios de comunicação oficiais para sua declaração. Em vez disso, fez uso das redes sociais, especificamente de seu perfil no Facebook, onde citou o Decreto-Lei 302 de 2012, que modificou a chamada "Lei de Migração" de 1976.

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