Ativista cubano Oscar Casanella arrisca seu futuro em um tribunal de imigração em Miami

O cientista e opositor ao regime cubano enfrentará uma audiência crucial de asilo político no dia 24 de junho, coincidindo com o aniversário de seu filho mais velho.

Oscar Casanella é vítima da repressão em CubaFoto © Facebook / Oscar Casanella

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Na próxima terça-feira, 24 de junho, o bioquímico cubano Oscar Casanella comparecerá perante o tribunal de imigração em Miami para uma audiência que pode definir o destino de sua vida e de sua família.

Esse dia, que também coincide com o aniversário de seu filho mais velho, será decidido se as autoridades americanas lhe concedem o asilo político ou o expõem a uma possível deportação para Cuba, onde teme por sua integridade física.

Captura de tela Facebook / Oscar Casanella

“Se me deportarem, minha vida está em perigo”, alertou Casanella em uma entrevista recente. Não se trata de uma simples suposição: durante anos foi objeto de vigilância, repressão e ameaças por parte da Segurança do Estado cubano.

Em 2021, após passar quase todo o ano em prisão domiciliar, incomunicado e sob constante vigilância, decidiu abandonar o país junto com sua esposa, então grávida, e seu filho pequeno.

Casanella é um rosto conhecido do ativismo em Cuba. Foi professor de Imunologia na Universidade de Havana e colaborador próximo de outros opositores, como Ariel Ruiz Urquiola e Gorki Águila. Precisamente seu vínculo com o grupo de rock contestador 'Porno para Ricardo' provocou que a repressão contra ele aumentasse a partir de 2013.

El 16 de janeiro de 2022, por El Paso, Texas, e solicitou proteção internacional. No entanto, em vez de receber um parole —como muitos outros migrantes cubanos— foi liberado com um documento conhecido como I-220A, que o deixou em um limbo legal sem direito a se beneficiar da Lei de Ajuste Cubano.

“Não me fizeram uma entrevista com medo credível. Simplesmente me deixaram sair do centro de detenção dois dias depois”, denunciou.

Desde então, Casanella tem enfrentado um processo de asilo que se prolonga no tempo e que, segundo sua advogada Deliane Quiles, pode se estender por anos.

“Esse dia em corte pode haver várias coisas. Poderia ser apresentada uma moção para rejeitar o caso, ou o juiz poderia negá-la, abrindo, então, a porta para uma apelação. Se o caso for processado sob deportação expeditiva, seria necessário solicitar uma entrevista de medo creível”, explicou Quiles.

Enquanto isso, sua situação migratória impede que possa acessar certos direitos básicos: não pode optar por residências, bolsas universitárias ou determinados empregos. Também não pode sair do país ou solicitar créditos para se estabelecer com sua família. “Esse processo pode levar 10 anos ou mais. Minha família e eu estamos presos em uma incerteza constante”, afirmou em entrevista ao CiberCuba.

O ativista também denunciou publicamente a contradição de que repressores cubanos cheguem aos Estados Unidos com facilidades migratórias, enquanto opositores como ele enfrentam obstáculos burocráticos. “É inadmissível que aqueles que nos reprimiram estejam vivendo em liberdade aqui, enquanto nós, suas vítimas, continuamos desprotegidos”, lamentou.

Em uma publicação recente no Facebook, Casanella recordou com angustia como foi pressionado a sair de Cuba sob ameaça direta de prisão: “Disseram-me que eu tinha 30 dias para ir embora, que se ficasse, me encerraríamos em um regime fechado. Já não podiam destinar 12 agentes para vigiar minha casa todos os dias”.

Além de Cuba, foi hostilizado por agentes afins ao regime em países como a República Dominicana. Em 2017, foi interrogado e ameaçado no aeroporto de Santo Domingo por supostos funcionários que o recriminaram por seus vínculos com outros ativistas.

Agora, do sul da Flórida, Casanella conta com o apoio de parte do exílio cubano e espera que o tribunal de imigração avalie seu histórico de perseguição. “Só quero justiça e uma oportunidade para recomeçar minha vida em liberdade com minha família”, concluiu.

Seu caso é um exemplo das complexidades do sistema migratório americano e dos desafios enfrentados pelos verdadeiros exilados cubanos que fugiram após a repressão desencadeada pelo regime contra os manifestantes das maciças e espontâneas protestas de 11 de julho de 2021.

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