O regime cubano continua apostando no fortalecimento do cooperativismo como estratégia central para enfrentar a grave crise de produção agropecuária que afeta o país.
Assim ficou registrado no relatório desta terça-feira do Noticiero Nacional de Televisión (NTV), que informou sobre uma assembleia realizada no município de Alquízar, província de Artemisa, como parte do XIII Congresso da Associação Nacional de Agricultores Pequenos (ANAP).
A reunião, na qual foram debatidas estratégias para melhorar a eficiência produtiva no setor agrário, foi presidida por Félix Duarte Ortega, membro do comitê central do Partido Comunista de Cuba e presidente da ANAP, que enfatizou a necessidade de reforçar a organização interna das cooperativas para otimizar seu funcionamento e consolidar seu papel dentro do modelo econômico socialista.
"Vamos chegar ao XIII Congresso da organização após vários dias de trabalho em comissões, analisando como continuar fortalecendo o cooperativismo no país, mas também como consolidá-lo como um caminho para alcançar mais socialismo", afirmou Duarte Ortega.
Imbuída até a medula de doutrinação e da linguagem própria da liderança socialista, a reunião da ANAP foi dedicada à política de quadros, à capacitação do pessoal dirigente e à gestão interna das diretorias.
Como parte dos resultados da reunião, foram escolhidos os integrantes do novo buró municipal, os delegados que participarão da assembleia provincial e os pré-candidatos ao Comitê Nacional, que terão um papel chave no planejamento do XIII Congresso da ANAP.
Por último, foi ressaltada a importância do trabalho político-ideológico nas bases camponesas e destacou-se a necessidade de incentivar o papel da mulher no setor agropecuário.
O cooperativismo e a insistência do regime no modelo socialista
A aposta do regime cubano pelo cooperativismo não é nova. Desde a década de 1960, o Estado tem promovido esse modelo como uma via para alcançar a autossuficiência alimentar, embora os resultados tenham sido questionados.
Nos últimos anos, o governante Miguel Díaz-Canel reafirmou em várias ocasiões que as reformas no país devem estar alinhadas ao socialismo e não se abrir a modelos de mercado mais flexíveis. Em 2022, Díaz-Canel insistiu que qualquer mudança econômica devia “responder ao socialismo”.
Em 2023, citando Lenin, Díaz-Canel pediu “paciência” na construção do socialismo e defendeu a continuidade do modelo apesar de suas falhas. Além disso, reiterou que o aperfeiçoamento do modelo socialista é a única opção viável, apesar da crise generalizada.
Fracasos do cooperativismo em Cuba
Ao longo dos anos, diversas denúncias de camponeses têm evidenciado as deficiências do cooperativismo estatal na ilha. Em 2017, um cooperativista alertou sobre a perda de colheitas inteiras devido à falta de logística estatal para sua comercialização.
Um ano depois, outro produtor denunciou que o Estado lhe devia mais de 20 mil pesos e não garantia pagamentos adequados por seus produtos.
Em 2020, Díaz-Canel reconheceu que o socialismo cubano ainda era “imperfeito e carregado de deficiências”, embora mantivesse sua defesa do sistema.
Félix Duarte Ortega e seu papel na ANAP
Félix Duarte Ortega, que atualmente lidera a ANAP, ocupou diversos cargos dentro do Partido Comunista de Cuba e tem sido uma das vozes mais ativas na promoção do cooperativismo.
Em 2024, Duarte foi eleito para integrar o Conselho de Estado de Cuba, consolidando sua posição na cúpula do poder político do país.
O cooperativismo socialista se mantém como uma das principais apostas do governo cubano para enfrentar a crise alimentar que atravessa a ilha.
No entanto, os resultados do modelo continuam sendo questionados por camponeses e economistas que alertam sobre a falta de incentivos reais, a escassez de insumos e as barreiras burocráticas que dificultam o crescimento do setor.
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