O caramelo se propõe como a quinta moeda em Cuba

"Se eu quiser pagar com caramelos na agricultura, será que dá?"

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Em uma reviravolta surrealista que só poderia acontecer em Cuba, o caramelos emergiram como uma alternativa para o troco nas novas supermercados em dólares.

O relato viral de uma usuária que visitou o recém-inaugurado supermercado de 3ra e 70 em Havana desencadeou nas redes sociais uma onda de comentários sarcásticos e reflexões humorísticas sobre a "dolarização parcial" da economia cubana.

Atordoados por este novo golpe da classe dominante em Cuba e pelas explicações do primeiro-ministro, Manuel Marrero Cruz, sobre a necessidade de "dolarizar parcialmente a economia para avançar na desdolarização", os cubanos vivem um autêntico pesadelo, mas não renunciam ao "choteo" como forma de se opor a toda ordem, hierarquia, autoridade ou poder.

"Ontem foi a um mercado novo na 3ª com 70 e comprou vários artigos, pagando em dinheiro, mas o troco era pouco e lhe deram em balas", começou "relatando" a internauta.

O texto continuou com perguntas que combinaram humor e crítica:

- Se eu quiser pagar com balas no agro, será que dá para fazer?

- Se eu der alguns doces a uma das moças que atendem no registro civil ou em qualquer outro lugar, isso é considerado suborno ou corrupção?

- Se alguém só gosta de doces "deafuera", isso é uma desviação ideológica ou são revolucionários confusos?

- O Toque informará a quanto está o caramelos em relação ao dólar no mercado informal?

- Haverá uma taxa de referência dependendo do país de origem do caramelho?

- Se eu for pego vendendo balas na rua, isso é tráfico de divisas?

- Se eu quiser abrir um pequeno negócio para fabricar doces, será que poderei ou isso será incluído na lista de atividades proibidas para o exercício por conta própria?

- Quando inaugurarem o hotel do K, posso reservar um quarto pagando com balas? Quantas carretas serão?

- Se eu receber doces "de fora", isso é considerado remessas ou doação?

- No aeroporto, será necessário declarar os doces na alfândega ou eles terão valor comercial?

- Aqueles que importam doces, como eles declaram, como alimentos ou como transferência de dinheiro?

- Se eu tiver mais de 20 doces, isso é considerado acaparecimento?

- Se a Mipyme quiser me dar o troco em balas, elas precisam ser de produção nacional?

- Sandrito terá muitos doces em casa?

- ... por dúvidas assim é que não consigo descansar.

Meme. Captura de tela Facebook / Cuba Primeiro

Caramelos em um contexto de crise econômica

O episódio do troco em balas é um exemplo dos absurdos cotidianos gerados pela crise econômica cubana, exacerbada pela dolarização parcial do sistema.

O supermercado da 3ra e 70, inaugurado recentemente, tem sido alvo de várias críticas devido aos seus altos preços e à sua desconexão com a realidade da maioria dos cubanos.

Por exemplo, em suas prateleiras foi encontrado um rum a 779 dólares, o que desencadeou uma avalanche de indignação nas redes sociais. Enquanto isso, outros produtos, como carne ou detergente, estão sendo vendidos a preços que apenas uma minoria privilegiada pode pagar.

Estes supermercados, criados para atrair divisas, intensificaram a polarização social, deixando a maioria da população fora do sistema de consumo em dólares.

O dólar, o caramelo e a realidade do bolso cubano

A dolarização em Cuba disparou o preço das divisas no mercado informal, com o dólar alcançando 330 pesos nesta terça-feira, 7 de janeiro. Nesse contexto, os doces como troco são uma solução "criativa", mas também refletem a precariedade do sistema financeiro e o afã acumulador de divisas do regime.

O relato do caramelo contrasta fortemente com as imagens das inaugurações luxuosas desses supermercados, onde as prateleiras estão cheias, mas apenas para quem pode se dar ao luxo. Para a maioria, o caramelo não apenas adoça o café, mas também uma realidade econômica que parece cada vez mais amarga.

Uma "solução doce" que amarga a vida dos cubanos

O caramelo como troco em um supermercado de luxo encapsula os contrastes da economia cubana.

Em um país onde o surrealismo é cotidiano, este incidente se soma a uma longa lista de exemplos de como o engenho popular e o humor transformam as adversidades e o sofrimento em histórias inesquecíveis.

No entanto, por trás da ironia, o episódio destaca problemas mais profundos. A dolarização, longe de ser uma solução inclusiva, está ampliando a distância entre aqueles que têm acesso às moedas estrangeiras e aqueles que mal sobrevivem com pesos cubanos.

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Redação de CiberCuba

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