Uma exilada cubana em Miami enfrentou neste domingo um grupo de simpatizantes do regime de Havana que se manifestavam contra o embargo americano e um suposto “ódio entre cubanos”.
Apertrechada com seu telefone celular, a mulher encarou o grupo de migrantes cubanos e simpatizantes de outras nacionalidades que pediam o levantamento do embargo em um posto de gasolina em Miami onde haviam se concentrado.
“Olá, isso é uma manifestação contra Miguel Díaz-Canel? É contra Raúl Castro? Contra a tirania que existe em Cuba?”, perguntou a mulher enquanto se aproximava do grupo de simpatizantes da ditadura cubana.
Apesar do tom e das palavras respeitosas utilizadas pela exilada cubana, os manifestantes pró-regime responderam visivelmente alterados, gritando e gesticulando de forma desafiadora.
“Aqui ninguém vem falar de ditadura. Aqui estamos contra o ódio que os cubanos têm pelo próprio povo de Cuba”, respondeu um dos que aparentava ser organizador da manifestação.
Visivelmente incomodado com a presença da cubana, o homem insistiu: “Estamos contra os odiadores, contra as pessoas que falam de Cuba em vez de falar do povo cubano, que está passando por muitas dificuldades. Estamos a favor de Cuba e contra o bloqueio à pátria”.
“A nós não nos importa Díaz-Canel. O que nos importa é a família cubana, não como a quantidade de cubanos que estão aqui e que têm ódio à sua pátria. Eu sei que tirania é a sua, é a dos shows de pessoas que não se importam com o povo de Cuba”, continuou gritando o simpatizante do regime.
A exilada, cuja identidade não foi revelada, também foi gravada de maneira intimidatória por vários dos presentes na estação de gasolina. “Nós estamos contra o ódio”, gritou na cara da mulher um dos manifestantes.
Apesar de repetir inúmeras vezes que estão "contra o ódio", o comportamento dos emigrantes cubanos lembrou o dos repressors em Cuba, com gestos e expressões ameaçadoras em seus rostos.
Nos carros dos manifestantes podiam-se ler mensagens como: “Não às ratas Ota Loca”; “Chega de ódio entre cubanos”; “Otaola, a rata imunda, a Fifí”; “Não ao Ódio” e “Levante o embargo”, entre outras.
Possuído pela ira, um dos manifestantes se aproximou da cubana, tirou os óculos e mostrou seu rosto para a câmera, dizendo que se chamava Toscano.
“A mim que me importa que você seja toscano, hein”, respondeu a exilada. “Como se você fosse Díaz-Canel, digo isso na sua cara: O único que eu odeio é a tirania que mantém um povo mergulhado na miséria. Estou contra a tirania cubana. Estou contra Raúl Castro e a tirania que faz com que as pessoas passem fome, vivam na miséria e precisem de tantas coisas em Cuba”, retrucou a mulher.
Maior presença de simpatizantes do regime cubano entre migrantes em Miami
Os exilados cubanos em Miami começaram a chamar a atenção e denunciar a crescente presença de simpatizantes do regime totalitário de Havana entre os emigrantes que chegam da Ilha.
Cuba tem enfrentado a maior crise migratória de sua história e, desde 2020, mais de um milhão e meio de cubanos, segundo cálculos conservadores da diáspora, chegaram aos Estados Unidos e a outros países do mundo, o que representa quase 20% da sua população.
Entre os que foram admitidos pelas autoridades americanas, seja pela fronteira ou através do programa de liberdade condicional humanitária, os exilados cubanos identificam muitos que, ou foram funcionários do regime, repressivos, líderes ou "quadros" do Partido Comunista de Cuba (PCC).
Junto à presença comprovada e denunciada desses simpatizantes do regime, o exílio cubano em Miami percebe uma crescente atividade e visibilidade de outros emigrantes que sustentam um discurso "apolítico" e se posicionam a favor do governo cubano e de suas demandas de "levantar o bloqueio".
No final de julho, o Aeroporto Internacional de Miami se tornou o cenário de duas manifestações antagônicas, que se reuniram para reivindicar seus respectivos pontos de vista sobre a situação em Cuba.
Simpatizantes do regime cubano, liderados pelo grupo Puentes de Amor, e exilados cubanos opositores, agrupados no Exilio Unido Ya (EUY), se encontraram no mesmo local, gerando um confronto direto entre as duas facções.
Desde as primeiras horas da manhã, membros do Puentes de Amor, liderados pelo ativista Carlos Lazo, se reuniram na Praça das Bandeiras do aeroporto. Segundo informou o meio oficialista cubano Prensa Latina, os manifestantes agitaram bandeiras cubanas e estenderam um painel com a mensagem "Levantar o bloqueio", visível para todos que entravam na movimentada estação de trem do aeroporto.
Em sua página no Facebook, Lazo destacou que os organizadores do evento haviam informado as autoridades do aeroporto de Miami, a polícia e o FBI sobre possíveis ameaças e ações provocativas por parte de grupos opositores.
Simultaneamente, um grupo de exilados cubanos se manifestou no mesmo local para denunciar a repressão do regime cubano e exigir a libertação dos presos políticos.
Marcel Valdés, um dos líderes do Exílio Unido Já (EUY), comentou que, após muito tempo, finalmente conseguiram autorização para se manifestar no aeroporto. Valdés destacou que a ação tinha como objetivo desmontar o que eles consideram "o circo dos cúmplices de uma ditadura assassina".
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