Dezenas de viajantes cubanos exigiram nesta segunda-feira que a companhia aérea de baixo custo Wingo lhes permitisse embarcar em um voo com destino a Bogotá, Colômbia, durante um protesto no Aeroporto Internacional José Martí, em Havana.
"Queremos voar", exigiram em coro os passageiros aos funcionários da companhia aérea colombiana e do aeroporto, conforme mostram vídeos compartilhados em redes sociais pelos próprios prejudicados pela decisão da Wingo de exigir "visto de visitante" dos cubanos para fazer escala no país sul-americano.
A polícia dispersou a manifestação no terminal aéreo na manhã desta segunda-feira, confirmou Martí Noticias; enquanto vários viajantes se dirigiram ao consulado colombiano para exigir uma explicação.
O jornalista Mario Pentón publicou na rede social X um vídeo da desocupação dos manifestantes pelas forças do MININT e pela Polícia.
"Num país normal, as autoridades defenderiam seus cidadãos", afirmou o repórter. "Em Cuba, a ditadura mais antiga do hemisfério ocidental, as forças opressoras não aceitam nem mesmo a justa reivindicação daqueles que perderam tudo para comprar passagens e hoje não os deixam voar. E depois dizem que não se trata de política... Tudo se trata de política nesse país".
A medida da Wingo deixou milhares de passageiros presos na semana passada, enquanto a Embaixada da Colômbia garantia em comunicado que os cidadãos cubanos não precisam de visto para uma escala no país.
A companhia aérea explicou em uma nota postada no Facebook que "devido ao fato de a Wingo operar somente de ponto a ponto, sem conexões, os viajantes de nacionalidade cubana devem apresentar um visto de visitante no momento do embarque em seu voo. Este documento deve ser emitido pelo Consulado colombiano em Cuba".
A empresa colombiana também afirmou que é importante o passageiro apresentar um bilhete de retorno confirmado para o país emitido pela Wingo.
No entanto, o Consulado da Colômbia em Havana esclareceu que não é necessário visto de trânsito para escalas inferiores a 24 horas.
A maioria dos cubanos que comprou passagens para a Wingo com destino à Colômbia tinha planejado continuar a viagem para a Nicarágua, a fim de cruzar a América Central até chegar à fronteira do México com os Estados Unidos, onde mais de 600.000 cubanos solicitaram asilo nos últimos três anos.
Milhares de residentes em Cuba que planejam chegar à fronteira sul dos EUA usam a rota Havana-Bogotá, Bogotá-San Salvador e San Salvador-Manágua para iniciar a jornada migratória.
Na quinta-feira passada, várias pessoas foram retiradas à força do Aeroporto Internacional de Havana enquanto exigiam explicações da Wingo sobre o anúncio de que, a partir de 8 de julho, os cubanos que pretendem voar para Bogotá precisariam de um visto de trânsito.
Nenhum representante da companhia aérea os atendeu, no entanto, foram ameaçados e obrigados por militares cubanos a abandonar o local.
Os afetados declararam a Pentón que um tenente-coronel os ameaçou dizendo que os levaria presos. "A companhia aérea não respondeu, ninguém veio dar qualquer explicação. Não sabemos se estamos sendo levados para a embaixada. Entraram boinas negras, entraram policiais e nos expulsaram", disseram.
Um grupo dos cubanos prejudicados pelas cancelações repentinas da Wingo compareceu na sexta-feira à Embaixada da Colômbia em Havana para pedir explicações.
De acordo com depoimentos dos reclamantes, o embaixador colombiano garantiu na época que já haviam sido apresentadas reclamações contra a companhia aérea e que esta adotaria as medidas apropriadas para resolver o problema. No entanto, pediu aos afetados que tivessem paciência enquanto aguardam por respostas concretas.
Uma mulher que se encontrou com os funcionários da sede diplomática disse que o embaixador mostrou a ela as denúncias apresentadas contra a Wingo há duas semanas e confirmou que a Colômbia não exige visto de trânsito, como alega a companhia aérea.
No entanto, as pessoas afetadas consideraram que isso era uma falácia e não foram oferecidas soluções reais.
Sobre a informação fornecida pela embaixada, uma mulher argumentou: “Para começar, esses são procedimentos demorados, tudo: reembolsos, processos, não há respostas imediatas. Para quem perdeu o voo, não há mais tempo, para quem viaja em julho, também não... A opção é pegar outra companhia aérea... Uma companhia aérea que segue sozinha e funcionários que estão 'exigindo'. Isso parece uma novela. Tudo soa como mentiras”.
Outra viajante foi contundente: "A embaixada não chegou a um acordo ontem, se não, já poderíamos voar, tão simples assim. Esse panfleto é para a embaixada se limpar", enquanto outro dos afetados opinou: "Que Deus permita que eu esteja errado. Mas não há clareza com a solução, de verdade".
Este incidente ocorreu apenas alguns dias depois de a companhia aérea Avianca ter cancelado seus voos de Havana para Bogotá e deixado muitos cubanos retidos, os quais tinham vendido seus pertences para iniciar a jornada migratória.
Em meio à pior crise migratória da história do país, os cubanos não têm instâncias para protestar, reclamar ou exigir o reembolso de seus bilhetes das companhias aéreas ou agências de viagens. As autoridades do regime, em vez de apoiar suas reivindicações, responderam com repressão.
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