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Vice-primeira ministra de Cuba apaga tweet com estratégia do regime para "confrontação" nas redes sociais.

Não é a primeira vez que Inés María Chapman Waugh comete um deslize problemático na gestão de suas redes sociais.

Inés MAría Chapman Waugh y diapositiva delatora © Captura de video / Canal Caribe - X / @Camaguey1514
Inés María Chapman Waugh e slide revelador.Foto © Captura de vídeo / Canal Caribe - X / @Camaguey1514

A vice-primeira ministra de Cuba, Inés María Chapman Waugh, publicou um tweet (posteriormente eliminado) no qual por engano revelou parte da estratégia do regime para o chamado "confronto nas redes sociais".

Preocupado com o impacto das redes sociais na opinião pública dos cubanos e com o crescente descrédito dos meios de comunicação e mensagens oficiais entre a população, o regime totalitário cubano busca desesperadamente recuperar terreno perdido na "batalha da informação" contra os "odiadores" (ativistas e sociedade civil em geral).

Nesse sentido, a Assembleia Nacional do Poder Popular (ANPP) aprovou no final de maio do ano passado a Lei 162/2023 "De Comunicação Social", que entrou em vigor em 5 de junho após sua publicação no Diário Oficial de Cuba.

Em consequência desta novidade no cenário legal, que procura "regular e organizar o Sistema de Comunicação Social" em Cuba, o Instituto de Informação e Comunicação Social (ICS) realizou uma conferência de imprensa na qual "foram detalhados aspectos sobre a Lei e suas normas complementares".

E é aqui que entra em cena a vice-primeira-ministra de Cuba e membro do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba (PCC), que esteve presente na conferência de imprensa organizada pelo ICS (antigo ICRT), conforme divulgou em suas redes sociais.

Captura do tweet deletado por Inés María Chapman Waugh / @Camaguey1514.

Mas... oh, as redes sociais! Chapman Waugh teve a ideia de compartilhar em sua publicação fotografias do evento e, em uma delas, os usuários notaram uma informação que chamou a atenção deles.

No ICS, trocando ideias com executivos dos vários organismos da Administração Central do Estado sobre a Comunicação Social em todos os seus domínios. Os três pilares da gestão do governo: CTI, transformação digital e a Comunicação Social para o desenvolvimento - afirmou a vice-primeira ministra em sua conta de X (antigo Twitter).

X / @InesMChapman (publicação eliminada)

No entanto, uma das fotografias do evento compartilhada pela líder mostrou um funcionário do ICS explicando um slide projetado em uma tela com o título "Gestão de Redes Sociais".

O texto do slide indicava que, para a "gestão de redes sociais", o ICS possui "98 linhas corporativas, das quais 71 estão integradas na luta na plataforma X".

Além disso, era necessário que "a organização do trabalho nas redes contasse com 6 usuários-chave, 25 estratégicos, 3 de ligação e o restante de suporte".

Não tinha passado nem meia hora desde a publicação do tweet de Chapman Waugh quando o usuário Camagüey detectou a informação contida na foto compartilhada pela vice-primeira ministra do regime cubano. O print screen era evidente.

"Inesita la inepta nos muestra cómo organizan o trabalho das ciberclarias nas redes a partir do governo castrista", afirmou Camagüey em sua publicação, na qual compartilhou o tweet de Chapman Waugh e uma ampliação de sua foto compartilhada, na qual era legível o texto do slide.

De imediato, o erro da líder se espalhou pelas redes sociais. E imediatamente (menos de uma hora depois de descoberto), a vice-primeira ministra de Cuba apagou sua publicação. "Enviaram Inesita, a Inepta, para apagar o post!", disse Camagüey em outro tweet.

Mas já era tarde: as redes sociais e a sociedade civil cubana já haviam feito a captura e interpretação da imagem, chegando à conclusão de que o slide do ICS evidenciava parte da estratégia de "enfrentamento" do regime nas redes sociais.

"Ah, não! A ministra Inés María Chapman deixou escapar informações confidenciais sobre a espontaneidade com que agem... Diz que possuem 98 linhas corporativas, das quais 71 são incorporadas para espalhar propaganda espontânea, chamada 'combate'... 6 usuários-chave, 25 estratégicos...", alertou o usuário identificado no Facebook como Edmundo Dantés Junior.

Captura de tela do Facebook / Edmundo Dantés Júnior

E como ele, muitos outros ecoaram o erro da ministra que expôs a estratégia do regime totalitário de enfrentar mensagens contrárias aos seus interesses através de robôs, cibercombatentes (conhecidos como cíberclarias) e outras contas a serviço da propaganda da "continuidade" supostamente liderada pelo governante Miguel Díaz-Canel.

Não é a primeira vez para Inés María.

Não é a primeira vez que Inés María Chapman Waugh comete um deslize problemático em seu uso das redes sociais.

Em meados de agosto de 2021, durante o auge da pandemia de coronavírus e com os hospitais do país colapsados pelo número de pacientes, a vice-primeira ministra cubana apagou um tweet no qual postava imagens do centro de isolamento onde ela e seu filho passaram a Covid-19, o que gerou indignação entre os usuários das redes sociais.

Chegam mensagens de agradecimento aos médicos: depois de 8 dias de isolamento e luta contra a Covid-19, meu filho e eu já testamos negativo e estamos em casa. Muito obrigado à equipe médica, de enfermagem e paramédicos do Centro de Isolamento Raúl Tamayo, em Holguín", postou a funcionária do regime cubano, juntamente com duas fotografias.

No entanto, as condições dessa instalação contrastavam com as destinadas à população do país, onde não havia medicamentos, conforto ou banheiros confortáveis, conforme denunciado pelos internautas.

Em uma das fotografias, podia-se observar um quarto privativo com duas camas e um banheiro adequadamente equipado no centro de isolamento onde a vice-primeira ministra e seu filho passaram a quarentena em Holguín. Também era possível ver a equipe de limpeza da sala, decorada com quadros e até mesmo equipada com uma televisão.

Apesar de ter apagado a publicação, numa tentativa tardia de ocultar os privilégios desfrutados pelas altas esferas do poder em Cuba, o principal hashtag nas respostas do tweet evidenciou o descontentamento dos cubanos e a desaprovação que a publicação gerou.

Vários internautas fizeram captura do tweet e publicaram denúncias nas redes sociais, em que mais uma vez criticaram a vida dos dirigentes cubanos e sua falta de empatia para com o sofrimento da população. O tweet de Chapman Wauhg até recebeu um like de Díaz-Canel.

Lei de Comunicação Social: Um instrumento de censura do regime cubano.

A Lei 162/2023 "De Comunicação Social" foi projetada, entre outras adaptações da "continuidade", para silenciar as vozes dissidentes e controlar a narrativa pública em Cuba.

Um dos seus princípios ou eixos fundamentais é proibir a divulgação nos meios tradicionais e no ciberespaço de informações que possam desestabilizar o "Estado socialista".

Apenas os meios de comunicação ligados ao governo, ao PCC e às organizações de massa têm legitimidade no país. Esse controle rigoroso da informação vai contra os princípios de liberdade de imprensa e expressão, essenciais em uma sociedade democrática.

A Constituição em Cuba declara que os meios de comunicação são de propriedade socialista e não podem ser de outro tipo. Esta disposição, juntamente com a nova lei, garante que qualquer meio independente que tente operar no país será automaticamente ilegal.

Os ativistas e jornalistas independentes, que foram alvo de programas como Hacemos Cuba e "Con Filo", veem nesta lei uma ferramenta a mais do governo para silenciar qualquer forma de crítica ao Estado.

A lei também especifica que o conteúdo não pode ser usado para subverter a ordem constitucional nem para sustentar agressões comunicacionais contra o governo. As disposições são suficientemente vagas para justificar a censura de qualquer conteúdo que o regime considere inadequado.

Permitir a publicidade comercial e o patrocínio nos meios de comunicação parece ser uma abertura, mas está condicionada pela aprovação estatal, garantindo que as receitas não provenham de fontes que o governo considere subversivas.

Embora apresentada como uma modernização do framework regulatório, a Lei de Comunicação Social de Cuba é na verdade mais uma ferramenta do regime para manter seu controle absoluto sobre a informação e reprimir com maior força e rapidez qualquer voz dissidente.

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Arquivado em:

Iván León

Licenciado em jornalismo. Mestrado em Diplomacia e Relações Internacionais pela Escola Diplomática de Madrid. Mestrado em Relações Internacionais e Integração Europeia pela UAB.


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