Para os cubanos, Santa Bárbara encarna um poder imenso. Alguns a veem como a venerável santa católica que foi decapitada por seu pai por defender sua fé. Outros a consideram como Changó, um dos orixás mais populares do panteão trazido pelos escravos africanos à ilha. De uma forma ou de outra, é venerada fervorosamente por milhares de devotos por todo o país.
Segundo Dayana, todo quatro de dezembro ela faz oferendas à sua santa e acende uma vela para que cuide de seus filhos e a ajude a prosperar em seu negócio, para que consiga comprar "em breve" uma casa própria.
"O cubano se vê obrigado a buscar na religião algo em que acreditar para não se render diante de todos os problemas que enfrenta: desde a alimentação até o transporte ou a habitação", explica a jovem de 32 anos.
De acordo com a integrante da Igreja Católica em Cuba, Evarista, de 76 anos, "somos um povo mestiço. Os negros escravizados vieram com suas divindades africanas e as incorporaram aos santos católicos para poder realizar seus ritos. Isso não significa que a devoção a Santa Bárbara não se traduza em amor a Cristo."
Na imagem dos católicos, Santa Bárbara viveu no século IV nas proximidades de Constantinopla e é adorada tanto no Ocidente quanto no Oriente. Ela porta a espada com a qual seu pai Dióscoro lhe cortou a cabeça e é invocada contra tempestades e os perigos de morte súbita, pois seu algoz foi subitamente castigado por um raio.
"Mais do que uma guerreira, Santa Bárbara é um símbolo de fé inabalável, que geralmente é associada a uma coroa e um manto vermelho. Ela também é frequentemente representada com penas de pavão, pois este animal é um símbolo da ressurreição e da imortalidade", afirma.
Segundo Reinier, "apesar de ser filho da Caridade do Cobre, todos os quatro de dezembro eu ofereço uma homenagem a Santa Bárbara porque ela me tirou da prisão. Eu estive preso e fui libertado no mesmo dia em que fui encarcerado porque pedi ajuda a Changó. Por isso, eu coloco príncipes negros, que são suas flores favoritas, além de bananas, maçãs e vinho tinto ou vinho seco. Tem quem também ofereça quiabo e milho."
Changó é o maior que existe. Uma das sete potências africanas. É um santo que se associa à resolução de problemas, sejam eles bons ou maus. Dizem que Changó tem medo dos mortos, mas na verdade ele representa a alegria, a dança, a música, o fogo, a força viril, a vida.
"Tanto Changó quanto Santa Bárbara nos trazem saúde, prosperidade, afeto, misericórdia. Eu procuro onde há uma palmeira, a toco, a chamando e peço por meus entes queridos. Também é associado ao trovão e ao número 6. Ele castiga com firmeza e protege as crianças. É a quem sempre chamamos para resolver rapidamente qualquer dificuldade", afirma o taxista de 41 anos.
Sugere-se que a primeira imagem de Santa Bárbara que chegou a Cuba data de 1599. O santuário nacional desta santa está localizado na capital, na localidade de Párraga.
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