Trabalhadores do turismo em Matanzas presos pela crise do transporte



A empresa Transmetro, responsável pelo transporte do pessoal turístico, já não garante o nível de serviço que permitia a mobilidade em Varadero, Matanzas e Cárdenas.

Trabalhadores do turismo em MatanzasFoto © Periódico Girón / Raúl Navarro González

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A crise do transporte em Matanzas alcançou um ponto crítico que afeta especialmente aqueles que sustentam um dos setores mais estratégicos do país: os trabalhadores do turismo.

Milhares de funcionários de hotéis e serviços associados - essenciais para a economia nacional - enfrentam diariamente uma odisseia para chegar ao trabalho e voltar para casa, em um contexto onde as falhas do sistema já não são episódios isolados, mas parte da rotina.

O cenário descrito pelo jornal Girón revela um deterioro que não admite nuances.

A empresa Transmetro, responsável pelo transporte do pessoal turístico, deixou de garantir os níveis de serviço que durante anos permitiram a mobilidade em Varadero, Matanzas e Cárdenas.

Hoje, os ônibus que antes operavam com relativa estabilidade não apenas falham com frequência, mas também tiveram turnos completos eliminados, provocando esperas intermináveis, jornadas prolongadas e um desgaste que se faz sentir em toda a cadeia de trabalho.

O dia a dia transformado em uma corrida de obstáculos

Histórias como a de Wicho, um veterano trabalhador com 36 anos de experiência no setor, ilustram a magnitude do problema. Ele mora a 50 quilômetros do hotel, e sua rotina - que já era exaustiva - tornou-se imprevisível.

Antes, ele podia quase sempre depender do ônibus que o pegava em Cárdenas e o levava a Varadero. Hoje, não sabe se a guagua passará pela manhã, nem se conseguirá voltar às 15h30 como costumava fazer, porque esse horário desapareceu. Ele deve esperar até às 17h30, com a incerteza se a viagem acontecerá sequer.

Enquanto isso, uma multidão de trabalhadores desesperados tenta chegar "como der": motos improvisadas, carros particulares, caronas, qualquer meio que consigam para não perder parte do salário por chegarem atrasados.

E se na entrada do hotel cada chegada é uma pequena vitória, na saída repete-se o mesmo pesadelo, com paradas congestionadas e multidões tentando entrar nos poucos ônibus que restam.

Um sistema colapsado

Por trás desse caos, há um problema estrutural: o transporte público de Matanzas opera com apenas 32% de um plano de combustível que já é insuficiente por si só.

Essa redução levou a que, em algumas ocasiões, a disponibilidade para o transporte de passageiros seja "zero", conforme reconheceu o próprio diretor da Empresa Provincial de Transporte.

Transmetro, que antes recebia combustível garantido para os trabalhadores do turismo - 8.500 litros diários para Matanzas e 6.500 para Cárdenas - agora deve lidar com entregas muito abaixo desses números.

Em alguns momentos, a rota Matanzas–Varadero teve apenas 3.000 litros, uma queda drástica para um circuito que depende de numerosos ônibus funcionando ao mesmo tempo.

A isso se soma um parque de veículos em ruínas: dos 145 ônibus ideais, apenas 66 estão em operação em Matanzas. O restante está parado devido à falta de pneus, baterias, peças de reposição e lubrificantes.

O resultado é uma oferta de transporte incapaz de cobrir a demanda real. Os horários são reduzidos, unificados e deixam centenas de pessoas acumuladas em poucos turnos.

E quando as guaguas falham - algo que acontece cada vez mais - gera-se um efeito dominó que acaba ultrapassando o limite do tolerável.

Captura do Facebook / Periódico Girón

"Segunda posição": um adesivo que não resolve

Como resposta, o Transmetro implementou uma solução improvisada: o chamado sistema de "segunda posição". Quando um ônibus termina sua rota, ele retorna para pegar aqueles que ficaram parados.

Mas embora essa medida permita movimentar alguns trabalhadores, as consequências para eles são negativas: se chegarem tarde ao hotel, perdem duas ou três horas de salário; se precisarem ficar mais tempo aguardando por um substituto, essas horas extras não são pagas.

A secretária-geral do Sindicato Provincial de Hotelaria e Turismo explicou de forma direta: após 24 horas de trabalho, se o substituto não chega e eles devem permanecer cinco horas adicionais, não apenas se exaurem, mas oferecem um serviço deteriorado. E os clientes percebem isso.

Apesar disso, alguns dirigentes insistem em minimizar a crise.

Funcionários do Transmetro asseguram que "não existe instabilidade", apenas "alguns atrasos", e afirmam que ninguém fica sem transporte, pois sempre aparece a segunda posição.

No entanto, os trabalhadores preferem evitar esse sistema precisamente pelo dano econômico e físico que implica.

Além disso, os problemas de comunicação agravam a situação: embora os gestores do turismo sejam informados sobre as rotas afetadas desde a noite anterior, essa informação nem sempre chega aos funcionários que dependem dela para organizar seu dia.

Medidas que agravam o problema e soluções rejeitadas

Em vez de se resolver, a crise se aprofunda.

Para lidar com a falta de combustível e de ônibus, o Transmetro unificou os turnos, o que resulta em veículos ainda mais congestionados e obriga muitos trabalhadores a buscar alternativas privadas que nem sempre conseguem pagar.

A isso se somam relatos de motoristas que se negam a pegar ou deixar pessoas em paradas unificadas, alegando que "não lhes compete", e até mesmo casos de abuso verbal. Tudo isso em um momento em que a cooperação deveria ser um requisito mínimo.

As propostas do sindicato -como contratar ônibus da Transtur, que dispõe de veículos e combustível- foram rejeitadas porque, segundo argumentam, essa empresa só pode transportar turistas.

Também foi rejeitada a opção de contratar transportadores privados. Enquanto isso, os trabalhadores continuam pagando antecipadamente por um serviço que não lhes é garantido.

Uma esperança tênue

Poucas horas antes da publicação de Girón, foi informado que o fornecimento de combustível começava a se normalizar e que novas medidas seriam anunciadas para aliviar a carga do pessoal turístico.

No entanto, após meses de precariedade, a expectativa é cautelosa.

Até que não haja soluções reais, milhares de empregados - como Wicho - continuarão se levantando de madrugada, improvisando rotas, acumulando atrasos, perdendo salário e chegando exaustos a um setor que exige excelência.

A crise do transporte não só afeta o seu tempo e o seu bolso: também erode a qualidade do serviço turístico em uma província onde a economia depende, literalmente, de que os ônibus passem.

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