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Uma publicação do jornal oficialista Escambray no Facebook , relembrando a despedida a Fidel Castro em Sancti Spíritus, desencadeou uma avalanche de críticas, zombarias e mensagens de indignação entre cubanos dentro e fora da ilha.
O meio, órgão do Partido Comunista naquela província, compartilhou imagens do cortejo fúnebre de 2016, quando as cinzas do ditador atravessaram o território rumo a Santiago de Cuba. Nas fotos, é possível ver cidadãos chorando, enquanto o texto evocava a suposta “emoção” daquele momento.
No entanto, a reação popular foi exatamente o oposto. Centenas de usuários responderam com sarcasmo e frustração. “Nesse dia ele foi se divertir, só falta os 40 ladrões que estão caindo aos poucos”, escreveu um. Outro ironizou: “Estou ansioso para que façam a outra caravana com o outro, para ver quanta gente vai sair.” Um terceiro comentou: “Se eu lembro bem, me disseram no trabalho: você precisa ir para a estrada central, e se não for, vamos retirar o incentivo de 60 chavitos.”
Entre as respostas mais repetidas, muitos lembraram da sensação de engano e manipulação daqueles dias. “O dia em que pensei que seríamos livres e não foi assim, me mentiram”, escreveu uma internauta. Outro acrescentou: “Ainda estão nessa bobagem. Coloquem-se a resolver o problema da população, é uma vergonha como um país não tem solução econômica”. Também abundaram comentários como “Que teatro, por Deus”, “Eu chorei de alegria” ou “Esse foi o dia mais feliz da minha vida”.
Outros foram mais duros: “Ele não está descansando, aquele demônio tomou o lugar do diabo”, “Algumas décadas antes teria sido muito bom para Cuba”, ou “Nesse dia, Fidel fez sua maior contribuição ao povo: morrer”. Houve também quem resumiu o sentimento de muitos: “Eu não sei como ainda têm vontade de venerar esse monstro que afundou Cuba; ele nunca deveria ter nascido”.
Embora algumas mensagens tenham defendido a memória do ex-governante com frases como “Obrigado por tudo, Fidel” ou “Os agradecidos te lembramos”, foram amplamente superadas por expressões de cansaço, ira e rejeição. Uma das mais compartilhadas dizia: “O povo de Cuba sofre da síndrome de Estocolmo”, e outra ironizava: “Que vazio você nos deixou, comandante, nos esvaziou as prateleiras, as farmácias, tudo senhor”.
Vários usuários relembraram as condições em que vivenciaram o funeral: “Nos acordaram às quatro da manhã, em pé sob o sol, esperando horas até que o carro com as cinzas passasse”, escreveu um. Outro recordou: “Nesse dia não se podia tocar música, nem vender cerveja, nem nada. Foi como um luto obrigatório.” A sensação geral nos comentários foi que a homenagem do meio provincial reabriu uma ferida que muitos cubanos ainda associam à repressão, miséria e controle.
Um culto reativado em meio ao colapso nacional
A publicação de Escambray coincide com uma nova ofensiva propagandística do regime para manter vivo o culto à figura de Fidel Castro. Dias antes, o portal oficialista Cubadebate publicou um artigo assinado por Marxlenin Pérez Valdés —companheiro do neto do ditador— que pedia “acudir ao cavalo, ao gênio” de Fidel para resolver os problemas do país. O texto foi recebido com sarcasmo: “O cavalo deixou uma dívida que nem uma cabra salta”, escreveu um leitor, enquanto outro ironizou: “Valeu a pena ter vivido no século de Fidel… mas fora de Cuba”.
Em paralelo, o governante Miguel Díaz-Canel assegurou na rede social X que Fidel “continua falando da imortalidade de suas ideias”, uma declaração que provocou incredulidade e zombarias entre cidadãos que enfrentam apagões diários, fome e escassez.
A maquinaria oficial também recorreu às crianças. Imagens publicadas por instituições educativas de Moa e Camagüey mostraram menores depositando flores e recitando versos em homenagem ao ex-governante, como documentou um reportagens recente que denunciou o uso de menores em homenagens políticas. Nos comentários, pais e usuários criticaram o adoctrinamento infantil: “Que falta de pudor levar essas crianças a prestar homenagem a quem arruinou o país”, escreveu uma internauta indignada.
O legado de pobreza e desigualdade
A par desses homenagens, análises recentes têm lembrado que o verdadeiro legado de Fidel Castro foi a destruição da classe média cubana e a criação de uma estrutura social dependente do Estado. O modelo implantado pelo castrismo eliminou a autonomia econômica e beneficiou uma elite militar e partidária ligada à GAESA, enquanto o restante do país afundou na pobreza.
Um país exausto diante da propaganda
Enquanto o regime tenta reativar o mito de Fidel em meio ao caos, as redes sociais refletem uma mudança de época. Frases como “Esse dia foi meu segundo aniversário”, “Não se pode deixar que esse demônio volte a morrer” ou “Só falta o irmão” resumem a perda de respeito por uma figura antes intocável. Outras mensagens condensaram a frustração coletiva: “Esse homem afundou o país, separou famílias e condenou gerações. Não há nada a celebrar”.
A nove anos de sua morte, a figura de Fidel Castro divide cada vez menos e cansa cada vez mais. A resposta ao post de Escambray confirma que o relato heroico do regime já não convence: a maioria do povo associa o nome de Fidel à origem da crise que hoje os aflige.
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