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A narrativa oficial do regime cubano adicionou nesta segunda-feira um novo capítulo à longa lista de explicações inusitadas que costuma oferecer quando falha o já deteriorado Sistema Elétrico Nacional (SEN): o sargasso foi a causa, desta vez, da parada de uma unidade geradora de Energás Jaruco, na província de Mayabeque.
Em um comunicado breve divulgado às 06h55 da manhã pela União Elétrica (UNE) através de suas , foi informado que a Unidade 6 de Energás Jaruco ficou fora de operação devido à presença de sargaço no canal de entrada da bomba centrífuga BC‑4705.
A planta, que faz parte do esquema de geração elétrica com gás natural e combustível na costa norte cubana, ficou inoperante "por tempo indefinido" enquanto se avaliam as condições para sua reintegração ao sistema.
Embora não tenham sido especificados os megawatts afetados, estima-se que a unidade contribuía com entre 30 e 40 MW, uma perda significativa em meio a uma frágil capacidade de geração nacional.
O mar como desculpa: Um novo pretexto em uma longa tradição de justificativas
Não é a primeira vez que o ambiente natural é apontado como responsável pelos apagões em Cuba.
Nos últimos anos, os cubanos tiveram que ouvir explicações tão insólitas quanto trovoadas que provocam apagões, descargas elétricas atmosféricas que afetam subestações, ou tempestades locais que desativam todo o sistema.
Agora, o sargasso —uma macroalga marinha que prolifera no Caribe— entra em cena como o novo antagonista.
Embora a acumulação de sargaço tenha gerado problemas reais nas infraestruturas costeiras de outros países, como plantas dessalinizadoras no México ou estações de bombeamento na República Dominicana, o fato de que uma planta energética fique fora de operação por causa de algas em um canal sem que tenham sido previstas medidas de proteção ou limpeza rotineira reforça a percepção pública de improvisação e precariedade.
Um sistema em ruínas
O SEN atravessa um de seus piores momentos desde o colapso energético dos anos 90. Com termelétricas obsoletas, geradores fora de serviço e uma rede de distribuição instável, qualquer evento — natural ou não — pode provocar apagões em massa.
Segundo dados da própria UNE, mais de 60% do parque gerador apresenta algum tipo de deterioração estrutural ou necessita de peças de reposição que não estão disponíveis no país.
Nesse contexto, os "fenômenos estranhos" que o regime invoca como causas das falhas adquirem um caráter quase simbólico: servem como cortinas de fumaça para encobrir décadas de desinvestimento, gestão ineficaz e falta de planejamento.
Falta de transparência
Outro elemento comum nesses relatórios oficiais é a ausência de detalhes técnicos e prazos claros.
No caso da Energás Jaruco, não foi indicado quantas horas o canal estava obstruído, se existia algum protocolo de limpeza, nem quando a unidade afetada poderia estar novamente em funcionamento. Também não foi informado como essa interrupção afetaria o déficit de geração previsto para o dia.
Enquanto isso, os apagões continuam afetando a população com cortes de mais de 18 horas em várias províncias, sem que se vislumbre uma solução estrutural.
O problema é o sargasso?
O que ocorreu em Jaruco é apenas mais um exemplo de como o deterioro do sistema elétrico cubano se manifesta não apenas em números, mas também no absurdo crescente das justificativas oficiais.
A natureza foi transformada no bode expiatório de um sistema que está afundando, literalmente.
Enquanto o regime aponta para o mar, para o céu ou para fenômenos atmosféricos como causadores dos apagões, a realidade é que o verdadeiro “sargasso” que asfixia o SEN é a falta de manutenção, investimento e gestão profissional.
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