Uma jovem cubana voltou a agitar as redes sociais com uma reflexão contundente sobre as desigualdades e distorções econômicas que marcam a vida cotidiana em Cuba. Em seu vídeo, publicado no TikTok, a usuária @sarai.jun descreve com crueza como a inversão de valores degradou o papel daqueles que estudam, trabalham ou servem ao país.
"Cuba, país onde o universitário é tratado como lixo e a jinetera tem mais dinheiro que o doutor", afirma no início de sua mensagem. Em seu testemunho, ele aponta as consequências de uma economia onde os profissionais qualificados vivem na precariedade, enquanto outros setores, como o turismo ou o comércio privado, concentram privilégios.
Critica, por exemplo, que “um professor que estudou não tem nem para comprar comida suficiente para todo o mês”, e contrasta essa situação com aqueles que possuem negócios privados: “Aquele que tem uma mipyme vive como um rei e um advogado como um miserável”.
Mais adiante, a jovem continua seu diagnóstico: “Cuba, país onde um engenheiro com anos de estudo ganha menos do que aquele que aluga um quarto para turistas”, e acrescenta: “Um país onde um professor forma gerações inteiras, mas não pode se dar ao luxo de levar seus filhos para comer fora”.
Também questiona o tratamento dos aposentados na ilha: “Um aposentado que dedicou toda a sua vida ao trabalho recebe uma pensão que não é suficiente nem para comprar uma cartela de ovos”, e enfatiza a impossibilidade de progredir: “Um assalariado normal não pode se dar ao luxo de economizar para montar um simples negócio, mas vive pensando no que pode comer no dia seguinte e sem poder sonhar com um futuro digno.”
Em outra parte do vídeo, ele se dirige diretamente aos artistas que fizeram declarações otimistas sobre a realidade do país: “Então senhora, você é uma artista reconhecida, tenha respeito. A cabeça não existe apenas para levar cabelos, mas também para falar coerentemente”. E finaliza: “A quem você está enganando? Porque me parece que não é ao povo cubano”.
Suas palavras conectaram-se com o sentimento de muitos usuários dentro e fora da ilha, que reagiram com mensagens de apoio e frustração compartilhada. “Aqui uma gogosera ganha mais do que uma doutora”, comentou um usuário. Outro resumiu o sentimento coletivo: “Este é o vídeo que têm que fazer viral, mas não se importam. E enchem a boca para dizer pátria e vida”. Um terceiro internauta apontou: “A realidade é que os intelectuais somos os que menos ganhamos, porque com fome e necessidade não há união e menos se pode pensar em como mudar a situação”.
Outras mensagens apontam para a dureza do dia a dia: “Cuba é o país de onde se foge do regime e, após um ano e um dia, você volta, segundo eles, para se divertir e aproveitar”. “País onde te dizem que a universidade é para revolucionários e, se você pensa diferente, não tem direito a nada”, acrescentou outro usuário. Também houve quem afirmou: “Assim mesmo, Cuba é um Estado falido”.
Alguns comentários celebraram a clareza do discurso: “Palavras sábias e exatas”, escreveu um seguidor, enquanto outro expressou: “Tão certo tudo que me faltam as mãos para aplaudir”. “Sempre com seu comentário certeiro, sempre tão digna, sempre tão cubana”, opinou outro usuário. “Bênçãos, linda, como sempre dizendo a verdade”, disse mais um. “Adoro seu conteúdo e sua forma de falar, muito fina e muito direta”, apontou outro comentário de Montreal. “Dou 100 de 100”, resumiu alguém mais.
A jovem também denuncia que em Cuba “um médico salva vidas, mas precisa que sua família de fora lhe envie remessas para comprar um par de sapatos”. Ela expõe como essa dependência se repete entre aposentados, trabalhadores e até mesmo pais de família, incapazes de levar seus filhos para comer fora ou de projetar um futuro além do dia a dia: “Um trabalhador normal não pode se dar ao luxo de economizar para montar um simples negócio, mas vive pensando no que poderá comer no dia seguinte”.
A publicação inclui um trecho de uma recente entrevista do canal La Familia Cubana, onde a atriz Maikel Amelia defende que “Cuba é um país seguro”, embora depois ressalte que “já não é tão seguro quanto antes”. Durante a mesma conversa, Alejandro Cuervo comentou que “fizemos colaborações, às vezes uma agência paga a passagem”, referindo-se às viagens que realiza. Essas declarações foram interpretadas pelo público como uma desconexão com a realidade do cubano médio, o que alimentou ainda mais as reações ao vídeo.
Entre os comentários destacados, um internauta escreveu: “Os universitários estudamos uma média de 17 a 18 anos apenas para nos formarmos (...), e somos os que menos ganhamos. Com fome e necessidade não há união, nem se pode pensar em como mudar a situação.” Outra pessoa opinou: “Triste realidade do povo cubano”, enquanto alguém mais resumiu: “A dura realidade.”
Em junho, a mesma jovem enviou uma mensagem direta ao governante Miguel Díaz-Canel após os prolongados apagões na ilha, questionando a falta de empatia do regime e advertindo sobre as consequências de continuar ignorando o povo. Naquela ocasião, disse: “Você está semeando dor, e isso tem um preço.”
Seu novo vídeo não apenas reflete frustração, mas também uma radiografia social de um país onde, segundo suas palavras, “um aposentado que dedicou toda a sua vida ao trabalho recebe uma pensão que não é suficiente nem para comprar um cartão de ovos”.
Perguntas frequentes sobre a situação econômica e social em Cuba
Por que os profissionais em Cuba, como médicos e professores, vivem em precariedade?
Em Cuba, os profissionais qualificados recebem salários muito baixos, o que faz com que não consigam cobrir suas necessidades básicas. Apesar de sua formação e dedicação, aqueles que trabalham em setores como a educação e a saúde enfrentam dificuldades econômicas significativas em contraste com aqueles que se beneficiam de negócios privados ou remessas do exterior.
Como a economia cubana afeta a vida diária de seus cidadãos?
A economia cubana se caracteriza por salários insuficientes e uma alta inflação, o que dificulta a compra de alimentos e produtos básicos. Os cidadãos enfrentam longas filas para adquirir bens escassos, e muitos dependem de remessas enviadas do exterior para sobreviver.
Quais setores econômicos oferecem melhores oportunidades em Cuba?
Os negócios privados e as mipymes são setores que oferecem melhores oportunidades econômicas em Cuba. Em contraste com os empregos estatais, esses negócios permitem obter rendimentos mais altos e uma maior qualidade de vida, embora nem todos os cidadãos tenham acesso a esses setores.
Que papel desempenham as remessas na economia das famílias cubanas?
As remessas são fundamentais para a subsistência de muitas famílias cubanas. Dado que os salários locais não são suficientes para cobrir as necessidades básicas, o dinheiro enviado do exterior se torna um recurso essencial que permite às famílias acessarem alimentos, roupas e outros bens de consumo.
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