PEMEX se recusa a informar sobre o envio de petróleo a Cuba: "É um assunto privado"

A Pemex, por meio de sua filial privada Gasolinas Bienestar, intensificou os envios de petróleo a Cuba desde 2023, com uma falta de transparência nos pagamentos e nos detalhes dessas operações.


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A estatal Petróleos Mexicanos (Pemex) se negou a mostrar os comprovantes de pagamento de Cuba para o México pelos envios de petróleo que realiza desde julho de 2023.

Após um pedido de informação do jornal El Universal, a Pemex afirmou que os pagamentos a Cuba através da subsidiária Gasolinas Bienestar são assuntos privados.

“Gasolinas Bienestar, S.A. de C.V. é uma empresa subsidiária da Petróleos Mexicanos que, de acordo com o artigo 63 da Lei da Empresa Pública do Estado, Petróleos Mexicanos, está constituída como uma sociedade mercantil de direito privado e não configura uma entidade paraestatal, razão pela qual não pode ser considerada um sujeito obrigado em matéria de transparência nos termos do artigo 117 da Lei da Empresa Pública do Estado, Petróleos Mexicanos”, afirma a comunicação.

Gasolinas Bienestar foi criada pelo governo mexicano para evitar fazê-lo por meio da PMI, a subsidiária que negocia com os Estados Unidos, e assim não violar as leis do embargo.

A filial está constituída como sociedade privada e não é sujeita a obrigações em matéria de transparência.

A resposta da Pemex, segundo o diretor da Transparência Mexicana, Eduardo Bohórquez, contraria o conteúdo do artigo 6 da constituição, que afirma que os entes obrigados devem preservar seus documentos em arquivos administrativos atualizados e devem publicar informações completas e atualizadas sobre a utilização dos recursos públicos e os indicadores que permitam prestar contas do cumprimento de seus objetivos e dos resultados obtidos.

“Não é por seu caráter de empresa paraestatal ou privada que se deve entregar a informação, mas porque a razão social recebe ou exerce recursos públicos”, disse Bohórquez.

“A resposta da Pemex à solicitação do EL UNIVERSAL pode ser objeto de revisão pelos novos órgãos de transparência ou pelo Poder Judiciário. E muito provavelmente a empresa estaria obrigada a entregá-la. No entanto, a maior pressão deve ser social. Os contribuintes devem se importar com a administração de uma empresa que, em termos discursivos, é de todos os mexicanos”, acrescentou o diretor da Transparência Mexicana.

“Os tratados ou acordos que celebrar com outras nações podem afetar a segurança energética do país e, portanto, a segurança do Estado”, conclui.

Desde julho de 2023 até junho passado, a Pemex enviou de 19 mil a 23 mil barris diários de petróleo para Cuba, cujo valor total foi de 1,3 bilhões de dólares, representando 3,3% das exportações totais da Pemex.

O México continua o envio de grandes quantidades de petróleo para Cuba

O México intensificou os envios de hidrocarbonetos subsidiados para Cuba em 2025, com operações que superam amplamente as realizadas em anos anteriores.

Um reportagem de Mexicanos Contra a Corrupção e a Impunidade (MCCI) revelou que entre maio e junho deste ano a Pemex registrou 39 embarques para a ilha com um valor total de 850 milhões de dólares, equivalente a cerca de 16 bilhões de pesos.

O volume exportado nesse único mês —10,2 milhões de barris de petróleo e 132,5 milhões de litros de querosene, diesel e gasolina comum— quase iguala o valor dos envios acumulados nos dois anos anteriores, que totalizaram 1 bilhão de dólares entre julho de 2023 e setembro de 2024.

Segundo os registros de comércio exterior consultados pela MCCI, as operações foram realizadas por meio da Gasolinas del Bienestar S.A. de C.V., filial da Pemex criada para exportar hidrocarbonetos para a ilha, apesar de o Instituto Nacional de Transparência ter ordenado à companhia petrolífera que revelasse detalhes como quantidades, custos e responsáveis, após denúncias de falta de transparência.

A maioria das remessas saiu da alfândega de Coatzacoalcos, Veracruz, enquanto uma partiu do porto de Tampico, Tamaulipas, com 6,8 milhões de litros de diesel.

Os envios continuaram em julho, conforme confirmam os rastreamentos por satélite.

De fato, no dia 11 de agosto, o petroleiro cubano Sandino permanecia ancorado em frente à terminal marítima da Pemex na Laguna de Pajaritos, Coatzacoalcos, de onde são abastecidos os carregamentos. O navio havia partido previamente de Havana no dia 27 de junho.

Como importadora dessas operações figura a estatal cubana Coreydan, S.A., domiciliada no edifício da Rua Amistad 552 em Centro Habana, sede também da CUPET (União Cuba-Petróleo), a empresa estatal que controla a indústria petrolífera da ilha, revela o relatório.

Em um envio de 19 de junho, com oito milhões de litros de gasolina, até mesmo foi registrada como importadora a Secretaria de Relações Exteriores do México (SRE), de acordo com os documentos aduaneiros.

Estes movimentos confirmam a estreita cooperação energética entre México e Cuba em um momento em que a ilha enfrenta uma grave crise econômica e energética, marcada por apagões prolongados e escassez de combustível.

Além disso, o México não atendeu às recomendações dos Estados Unidos, que em 2023 cancelou um empréstimo à PEMEX de 800 milhões de dólares após descobrir que o governo de Andrés Manuel López Obrador havia doado combustível ao regime de Cuba.

Em fevereiro, veio à tona que a PEMEX enfrentava uma dívida de mais de 300 milhões de dólares pelos envios de petróleo à ilha nos últimos dois anos.

Embora o México tenha negado que esteja doando combustível para a ilha, as remessas dispararam sem que fique claro como estão sendo pagas.

Perguntas frequentes sobre os envios de petróleo da Pemex para Cuba

Por que a Pemex se recusa a informar sobre os envios de petróleo para Cuba?

Pemex argumenta que os pagamentos a Cuba através de sua filiar Gasolinas Bienestar são um assunto privado, uma vez que essa filial está constituída como uma sociedade mercantil de direito privado e não como uma entidade paraestatal. Por isso, afirmam que não estão obrigados a fornecer informações de acordo com as leis de transparência. No entanto, essa postura é questionada por especialistas em transparência que apontam que os detalhes deveriam ser publicados devido ao fato de que são geridos recursos públicos.

Quanto petróleo o México enviou a Cuba e qual é o seu valor?

Desde julho de 2023 até junho de 2025, a Pemex enviou entre 19.000 e 23.000 barris diários de petróleo para Cuba. O valor total desses envios foi de aproximadamente 1.300 milhões de dólares, representando 3,3% das exportações totais da Pemex. No primeiro trimestre de 2025, foram enviados 19,6 mil barris diários, o que equivale a cerca de 166,5 milhões de dólares.

Como a dívida da Pemex afeta os envios de petróleo a Cuba?

Pemex enfrenta uma dívida significativa de mais de 300 milhões de dólares devido aos envios de petróleo para Cuba nos últimos dois anos. Esta dívida se soma aos compromissos financeiros de mais de 101.000 milhões de dólares da petrolera, o que gera questionamentos sobre a viabilidade financeira e a falta de transparência nessas operações. Apesar disso, os envios continuaram, o que pode colocar em risco a estabilidade econômica da Pemex.

Por que o México continua enviando petróleo a Cuba apesar das críticas?

México tem mantido os envios de petróleo para Cuba como parte de uma estreita cooperação energética, em um momento em que a ilha enfrenta uma grave crise econômica e energética. O governo mexicano, alinhado ideologicamente com o regime cubano, vê esses envios como uma estratégia política, apesar das críticas dos Estados Unidos e das preocupações sobre a transparência e o impacto financeiro dessas operações para a Pemex.

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