A UNE justifica os apagões: "Unidades com mais de 40 anos, sem receber ciclos de manutenção."

A União Elétrica atribui os apagões ao envelhecimento das centrais térmicas, enquanto cresce o descontentamento da população pela falta de soluções reais.

Operário em Felton 1 (imagem de referência)Foto © Facebook / UNE

A Unión Eléctrica (UNE) de Cuba justificou esta semana os apagões prolongados em todo o país ao apontar que muitas centrais térmicas estão em operação há mais de 40 anos sem ter recebido os ciclos de manutenção capital necessários.

Segundo explicou o diretor-geral da UNE, engenheiro Alfredo López Valdés, o envelhecimento extremo das unidades complicou seriamente as intervenções técnicas, provocando atrasos e falhas imprevistas.

Facebook / UNE

“É muito difícil prever com exatidão o tempo que levará para ser reparado, porque quando você começa a desmontar, começa a encontrar problemas que não previu originalmente,” declarou López Valdés em uma intervenção divulgada pelo meio oficialista Canal Caribe.

O funcionário explicou que as unidades Santa Cruz 2 e Céspedes 4, que deveriam ser incorporadas ao sistema elétrico nos meses de verão, não conseguiram se sincronizar devido à complexidade técnica das reparações. Além disso, foram identificados defeitos ocultos em componentes fabricados em 2019 e 2020, apesar de terem obtido certificações na época.

“Não estamos realizando a manutenção adequada como deveria. Não tivemos a possibilidade financeira de resolver 100 por cento dos problemas”, reconheceu o diretor da UNE.

Por sua vez, o engenheiro Lázaro Guerra Hernández, diretor geral de Eletricidade do Ministério de Energia e Minas, destacou os avanços no macroprograma de investimentos solares, que inclui 51 parques fotovoltaicos e quatro sistemas de armazenamento de energia por baterias, com um investimento anunciado de mil milhões de dólares em 2025.

Uma crise prolongada e sem solução

As justificaçőes da UNE chegam em meio a uma crise energética sem precedentes que o próprio governo classificou como “dura”, após um apagão massivo que afetou todo o leste do país esta mesma semana. As autoridades confirmaram ainda que a termoelétrica Antonio Guiteras, a mais potente do país, terá que parar em breve para receber manutenção.

O colapso do sistema elétrico não é algo novo. Nos últimos meses, falhas na geração térmica se acumularam, houve descumprimentos na entrega de gás liquefeito e a saída de operação de várias centrais flutuantes. Enquanto isso, os cubanos enfrentam apagões de até 40 horas, em meio a um crescente desgaste social.

“Isso não é vida”: O povo, no limite

A publicação das declarações oficiais gerou uma onda de indignação cidadã. Comentários como “Isso se tornou uma tortura psicológica”, “Já não é viver, é sobreviver” ou “Que nos matam já, porque estão nos matando em vida” resumem o sentimento generalizado de desesperança.

Incluso figuras próximas ao oficialismo, como a jornalista Yirmara Torres Hernández, denunciaram publicamente a situação. “Como se vive com 28 horas de apagão por 2 de eletricidade? […] Não se vive”, escreveu em seu perfil no Facebook.

O mal-estar se intensifica diante da percepção de uma profunda desigualdade. Muitos cidadãos denunciam que, enquanto eles sobrevivem sem eletricidade nem alimentos, os dirigentes desfrutam de geradores, gasolina e comodidades.

Recursos há, mas não para o povo

O descontentamento se agudiza após a divulgação de que o conglomerado militar GAESA administra mais de 18.000 milhões de dólares em ativos líquidos, uma cifra que contrasta brutalmente com a falta de recursos alegada pela UNE para justificar a ausência de manutenção capital nas termoelétricas.

Investigaciones jornalísticas revelam que o regime tem continuado a priorizar investimentos em hotéis e turismo de luxo —com níveis de ocupação mínimos—, enquanto a população enfrenta escassez de alimentos, apagões intermináveis e um sistema de saúde colapsado.

“Não vão usar os milhões que a GAESA tem para consertar as termoelétricas porque preferem continuar roubando e construindo hotéis”, reclama um usuário nas redes. Outro acrescenta: “Eles têm plantas, gasolina, comida. E ao povo, que resista.”

Para muitos cubanos, a raiz do problema não é apenas técnica, mas política e estrutural. A institucionalização da desigualdade em benefício de uma elite militar normalizou a pobreza extrema como parte do modelo de governo.

“Que não digam mais que o povo resiste, o povo sobrevive. E isso, nessas condições, é uma condenação”, escreveu outro internauta. Na Cuba de 2025, a escuridão não é só a que os apagões deixam, mas a de um sistema que não oferece saída nem esperança.

Perguntas frequentes sobre a crise energética em Cuba e a situação da União Elétrica

Por que estão ocorrendo apagões prolongados em Cuba?

Os apagões prolongados em Cuba devem-se ao envelhecimento extremo das centrais elétricas, que estão em operação há mais de 40 anos sem receber os ciclos de manutenção necessários. Além disso, há um déficit de combustível e problemas técnicos nas plantas, o que agrava a crise energética. A União Elétrica (UNE) apontou que a falta de financiamento impede a realização da manutenção capital necessária.

Quais medidas o governo cubano está tomando para melhorar o sistema elétrico?

O governo cubano anunciou um macroprograma de investimentos em energia solar, que inclui a construção de 51 parques fotovoltaicos e sistemas de armazenamento de energia. No entanto, essas medidas ainda não são suficientes para eliminar os apagões, uma vez que a geração solar é intermitente e não substitui a base térmica deteriorada.

Qual é o papel da termoelétrica Antonio Guiteras na crise energética de Cuba?

A termoelétrica Antonio Guiteras, a mais potente do país, é fundamental para o sistema elétrico cubano. No entanto, devido à sua obsolescência e falta de manutenção, seu funcionamento tem sido instável, agravaando a crise. Recentemente, a planta teve que parar para receber manutenção, o que aumentou os apagões.

Como a crise energética afeta a população cubana?

A crise energética afeta gravemente a população cubana, que enfrenta apagões de até 40 horas. Isso gera um crescente mal-estar social, uma vez que os apagões afetam a qualidade de vida, paralisam hospitais, interrompem a produção de alimentos e danificam eletrodomésticos. A percepção de desigualdade também aumenta, já que se denuncia que os dirigentes desfrutam de comodidades enquanto o povo sofre.

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