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Durante uma visita à Ásia, o governante cubano Miguel Díaz-Canel recebeu nesta segunda-feira em Hanói uma doação simbólica de 15 milhões de dólares por parte do governo do Vietnã, recolhidos através de uma campanha lançada em meados de agosto pelo Partido Comunista vietnamita.
Segundo o chanceler Bruno Rodríguez Parrilla, a quantia foi reunida por dois milhões de cidadãos vietnamitas como parte da iniciativa "65 anos de amizade Vietnã-Cuba".
A entrega, com formalidades protocolares e abraços entre camaradas de partido, ocorreu enquanto em Cuba a crise econômica se agrava, com escassez crônica de alimentos, medicamentos e combustíveis, e apagões diários que sufocam a vida cotidiana de milhões de cubanos.
Embora a campanha se apresente como um ato de “solidariedade histórica”, é notável que um país com seus próprios desafios de desenvolvimento canalize milhões para uma ilha governada por uma elite que não demonstrou vontade real de reformar um modelo econômico fracassado.
Mais ainda, a entrega pública de fundos durante uma visita oficial, e com Díaz-Canel posando sorridente diante das câmeras, levanta questões sobre o uso e a transparência desses recursos.
Enquanto isso, em Cuba não foi detalhado como serão utilizados os 15 milhões, nem quais mecanismos garantirão que esse dinheiro beneficie diretamente a população e não acabe nos engrenagens ineficientes do aparelho estatal. A ausência de instituições independentes e auditorias públicas deixa uma ampla margem para a opacidade.
Durante o encontro, também foram firmados acordos para produzir arroz em Cuba entre 2025 e 2027, um objetivo ambicioso para um país que nem consegue estabilizar o fornecimento de energia elétrica ou abastecer sua rede de panificadoras.
O simbolismo revolucionário que ambos os regimes insistem em projetar perde força diante das realidades concretas: a solidariedade entre governos comunistas não alimenta o cubano comum, nem resolve as profundas distorções de um sistema que levou o país à sua pior crise em décadas, enquanto seus dirigentes continuam viajando e recebendo doações com solenidade e sem prestar contas.
Uma economia colapsada e aliados fatigados
A milionária doação vietnamita ocorre em um momento em que até os principais aliados do regime cubano estão expressando publicamente sua frustração.
Em julho, o chanceler vietnamita Bui Thanh Son pediu diretamente a Havana que eliminasse os obstáculos que impedem os investimentos de suas empresas na Ilha. Essa queixa se soma às que foram feitas anteriormente pela China e pela Rússia, dois parceiros tradicionais que hoje limitam seu compromisso financeiro diante da falta de reformas estruturais e da incapacidade de pagamento do regime.
China, por exemplo, cancelou a cota anual de importação de açúcar e mantém suspensos projetos devido a dívidas não pagas. E embora ainda mantenha certos intercâmbios comerciais, seus investimentos caíram drasticamente, enquanto Pequim processou o governo cubano por dívidas milionárias.
Vietnam, por sua vez, doou arroz, enviou fundos e apostou em setores-chave da economia cubana, como energia, agro e biotecnologia. Mas sua paciência parece estar se esgotando. Suas empresas enfrentam os mesmos obstáculos burocráticos, a lentidão institucional e a falta de transparência financeira que têm afastado outros investidores.
Según economistas cubanos do think tank 'Cuba Siglo XXI', a Ilha está à beira do calote (default) e se tornou um dos destinos de investimento mais arriscados do mundo, devido à sua dívida externa não paga, à falta de reformas legais e econômicas e à sua estrutura estatal controlada por conglomerados militares como GAESA.
A recente vitória judicial do fundo CRF I Limited em tribunais do Reino Unido, que permite a apreensão de ativos cubanos no exterior para cobrar dívidas, agrava ainda mais esse cenário.
Mendicância diplomática e cinismo oficial: O regime vive de doações enquanto oculta sua fortuna
A recepção do donativo vietnamita se inscreve em uma estratégia sistemática do regime cubano: a mendicância internacional institucionalizada.
Enquanto o país afunda na pior crise econômica das últimas décadas, com escolas sem professores ou materiais, hospitais sem medicamentos e famílias sem alimentos básicos, o governo vai de país em país suplicando solidariedade e exibindo cada gesto como se fosse uma conquista diplomática.
A exaltação oficialista da história de uma menina vietnamita que quebrou seu cofrinho para doar 200 dólares a Cuba resume de forma crua esse fenômeno.
O embaixador cubano no Vietnã e a própria imprensa estatal elevaram o gesto infantil à categoria de façanha, ignorando a realidade da infância cubana, marcada pela carência: crianças sem leite, sem medicamentos e sem sequer cofrinhos para quebrar.
Mas o contraste mais indignante surge quando se conhece —e é ocultado pelo poder— que o conglomerado militar GAESA, braço econômico das Forças Armadas, controla ativos que superam 18 bilhões de dólares, segundo investigações e fontes especializadas.
Este valor não recebeu nenhuma declaração oficial, nem explicações sobre sua origem, seu destino ou sua possível utilização em benefício da população.
Resulta escandaloso que um regime que deve bilhões aos seus credores, que não paga seus compromissos financeiros, que foi processado em tribunais internacionais e que não permite auditorias nem transparência, celebre sem pudor a doação de uma menor estrangeira, enquanto GAESA acumula riquezas que não se traduzem em bem-estar para os cidadãos.
Enquanto o povo cubano resiste à escassez e à miséria, a cúpula governante capitaliza cada dólar estrangeiro como se fosse uma conquista revolucionária.
Em vez de assumir sua responsabilidade e transformar um modelo econômico falido, prefere viver do lamento oxidado de sua narrativa internacionalista, usando a solidariedade alheia como um remendo propagandístico para ocultar seu próprio fracasso.
Em definitiva, a história da menina vietnamita é mais do que uma anedota emotiva: é um espelho do cinismo institucional de um sistema que exige sacrifícios do mundo enquanto esconde seus milhões e nega direitos fundamentais ao seu próprio povo.
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