Cubanos correm atrás de um caminhão de água em Santiago de Cuba

Vizinhos de Santiago correm atrás de caminhões-pipa em meio a uma grave escassez. Alguns bairros estão sem serviço há mais de 60 dias.

Santiaguenses "correteiam" um barril com águaFoto © Collage Facebook / Yosmany Mayeta

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A desesperação por conseguir água potável transformou as ruas de Santiago de Cuba em cenários de caos cotidiano: mães com crianças nos braços, idosos e homens com tanques sobre os ombros correm atrás de um caminhão-pipa como se fosse uma ambulância em plena emergência.

Em uma cidade onde abrir a torneira se tornou um luxo, o acesso à água já não é um direito básico, mas uma corrida pela sobrevivência.

A denúncia foi feita no Facebook nesta quinta-feira pelo jornalista independente Yosmany Mayeta Labrada, que descreveu a cena desgarradora como parte da “realidade agonizante” que milhares de santiaguenses vivem a cada dia.

Captura Facebook / Yosmany Mayeta Labrada

“Corretear uma pipa ou morrer de sede”, escreveu Mayeta em seu perfil, resumindo assim a gravidade de uma crise que o regime tenta silenciar enquanto o povo a sofre na pele.

Bairros como Sueño, Altamira, Micro 9, Agüero, San Pedrito e Mariana de la Torre relataram mais de 20 dias consecutivos sem receber uma única gota de água.

A única "solução" visível são os caminhões-tanque, que não avisam, não alcançam e também não garantem o acesso justo: não sobem prédios, não priorizam os vulneráveis e, muitas vezes, são distribuídos segundo critérios políticos ou favoritismos.

Os prédios altos se transformaram em prisões do desespero: pessoas idosas, grávidas ou com mobilidade reduzida precisam carregar baldes pelas escadas escuras e perigosas, se expondo a acidentes por falta de infraestrutura adequada.

As cisternas estão secas, as bombas quebradas e as autoridades ausentes, resumiu o comunicador, uma das vozes críticas do regime que habitualmente ecoa as desgraças do santiaguero.

A isso se soma o perigo sanitário, pois sem alternativas viáveis, a água que é armazenada muitas vezes o é em baldes de tinta usados, tanques enferrujados, garrafas plásticas abertas e outros recipientes inadequados, o que resultou em casos de doenças intestinais, surtos de dengue, leptospirose e outras condições já relatadas em centros médicos locais.

“Isso não é seca nem casualidade, isso é crime por negligência”, acusou Mayeta, que também denunciou o contraste entre a miséria do povo e os privilégios dos dirigentes: “Santiago se seca, mas os chefes se banham. O povo adoece, mas eles brindam.”

Em meio ao caos, uma frase gritada por uma mulher resume o sentimento de muitos na cidade oriental: “Aumente, Mayeta, que se a água não corre, pelo menos que a verdade corra”.

Uma verdade que o regime esconde, mas que corre, como as pessoas atrás de uma mangueira. Porque hoje em Santiago de Cuba não se vive: corre-se atrás da água, da dignidade e da verdade.

A província de Santiago de Cuba enfrenta uma das piores secas dos últimos anos, com impactos graves no fornecimento de água, especialmente no município sede, onde amplos setores acumulam mais de dois meses sem receber o líquido vital.

A situação foi exposta pelo jornal oficialista Sierra Maestra, que coletou declarações de Ludmila Rodríguez Barroso, diretora geral de Aguas Santiago, que reconheceu que “não há água e não há previsão” de quando o serviço poderá se estabilizar.

Segundo explicou, o sistema Quintero —responsável pelo fornecimento de mais de 80% da cidade— reduziu consideravelmente sua capacidade devido à queda do fluxo nas fontes principais, entre elas Gota Blanca e Gilbert.

Desde 7 de julho, a estação Gota Blanca parou de funcionar completamente, e a Gilbert diminuiu sua entrega, provocando que apenas uma das cinco condutoras do sistema Quintero esteja operativa.

Isto limitou a entrada de água a apenas 900 ou 1.000 litros por segundo, muito abaixo do necessário para manter um ciclo de distribuição estável.

Setores como Altamira, Van Van, Versalles, El Caney, Boniato e El Cristo estão entre os mais afetados.

Algumas áreas acumulam mais de 60 dias sem receber serviço de tubulação, dependendo exclusivamente de caminhões-pipa.

Rodríguez Barroso destacou que, mesmo com esses reforços, não é possível garantir o acesso regular a toda a população: “Estamos acima de 20 dias e as áreas mais críticas ultrapassam 60 dias”.

No entanto, o problema da seca e do abastecimento de água, longe de ser algo local, afeta um milhão de pessoas em todo o país.

O presidente do Instituto Nacional de Recursos Hídricos (INRH), Antonio Rodríguez Rodríguez, reconheceu que esse problema tem suas causas na crise energética, na falta de recursos materiais e em uma seca persistente.

Perguntas frequentes sobre a crise da água em Santiago de Cuba

Qual é a situação atual do abastecimento de água em Santiago de Cuba?

A crise da água em Santiago de Cuba é severa, com muitas áreas enfrentando mais de dois meses sem fornecimento regular. Os problemas são causados por uma forte seca, falhas no sistema de abastecimento e uma infraestrutura deteriorada. Muitas comunidades dependem de caminhões-pipa, que são insuficientes para atender à demanda.

Quais medidas foram tomadas pelas autoridades para enfrentar a crise da água?

As autoridades implementaram medidas de emergência, como o uso de equipamentos de bombeamento com energia solar e a reparação de sistemas danificados. No entanto, essas ações não conseguiram resolver efetivamente a crise, e o acesso à água continua limitado. Carros-pipa foram ativados, mas não são suficientes para atender à necessidade geral.

Quais são as consequências sanitárias da falta de água em Santiago de Cuba?

A falta de água potável resultou em graves problemas de saúde pública, incluindo surtos de doenças intestinais, dengue e leptospirose. O armazenamento em recipientes inadequados, como baldes de tinta e tanques enferrujados, aumenta o risco de contaminação e propagação de doenças.

Como a crise da água está afetando a vida diária dos santiaguenses?

A escassez de água transformou a vida cotidiana em uma luta constante pelo acesso a esse recurso essencial. Os habitantes devem correr atrás de caminhões-pipa para conseguir água, e aqueles em prédios altos enfrentam dificuldades extremas para transportar o líquido. A situação também afetou a higiene pessoal e a saúde pública.

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