Cubanos reagem a nova armadilha contra Hammer: “O povo escolheu Revolução? Façam um referendo!”

“Se estão tão certos de que o povo escolheu Revolução, façam um referendo sem ameaças, sem chantagens e sem medo”, disse uma cubana. Outra insistiu: “Querem saber o que o povo pensa? Coloquem as urnas, sem medo, e com vigilância internacional. Vamos ver quem decide o quê!”.

Sujeitos interpõem-se a Mike Hammer em VaraderoFoto © Captura de vídeo Facebook / La Tía Carmen

A publicação de CiberCuba sobre o vídeo em que o diplomata americano Mike Hammer foi abordado em Varadero por indivíduos que afirmaram que "o povo escolheu a Revolução" gerou uma avalanche de comentários de cubanos dentro e fora da ilha.

As reações, expressas principalmente no Facebook (mais de 1.100 comentários e quase 2.500 reações em menos de 24 horas), refletem uma maioria crítica em relação à manipulação do governo e cética quanto à suposta espontaneidade do encontro.

Com milhares de interações, o sentimento dominante entre os leitores foi de apoio a Hammer, rejeição à montagem e discordância com a ideia de que o povo cubano tenha escolhido a chamada "Revolução", como afirmavam os interlocutores do vídeo.

“Se estão tão seguros de que o povo escolheu Revolução, façam um referendo sem ameaças, sem chantagens e sem medo”, escreveu uma usuária de Cuba, recebendo dezenas de respostas e reações positivas. Essa frase, replicada por vários internautas, se tornou o lema mais citado nos comentários.

Desmontando a “espontaneidade”

Muitos usuários questionaram abertamente o caráter supostamente civil do grupo que abordou Hammer. "Esses não são espontâneos, isso é teatro político da Segurança do Estado. Os atores são ruins, mas a intenção é clara: gravá-lo, manipulá-lo e desacreditá-lo", opina um usuário em um comentário com mais de 300 curtidas.

A maioria das reações concordou que o vídeo divulgado pela página oficialista “” foi cuidadosamente preparado, com interlocutores que usaram uma linguagem técnica e alinhada à narrativa governamental. “Quem fala em ‘lista de países patrocinadores do terrorismo’ assim, sem ser instruído? Nem em um telejornal!”, ironizou outro usuário.

O tom teatral e pouco natural do encontro também foi destacado: “Não há como isso não ter sido uma emboscada. O cara não consegue nem andar com a família sem que o cercem para repetir o roteiro do MININT”, comentou uma usuária ativa nas redes.

Apoio a Hammer e crítica ao regime

Longe de gerar rejeição ao diplomata, o vídeo provocou uma onda de solidariedade em relação a Hammer, que muitos elogiaram por sua serenidade, sua disposição ao diálogo e sua resposta incisiva, mas calma.

“Que tipo de resposta!: ‘E os que nasceram depois de 59?’”, escreveu um internauta. “Esse é o ponto. O povo não pode decidir nada. Por isso o assediam, porque ele lhes lembra que o povo ainda não escolheu”.

Os comentários também criticaram que se tente usar a figura de Hammer como bode expiatório para desviar a atenção dos problemas reais do país. “Falam de ingerência, mas não dizem nada sobre a fome, a inflação nem sobre os apagões”, comentou outro leitor. “O diplomata não pode nem falar com ninguém sem que o rodeiem como se fosse um inimigo de guerra!”.

Vários usuários lembraram que Hammer tem sido um dos poucos representantes internacionais que percorreu zonas vulneráveis, visitou comunidades religiosas, conversou com famílias de prisioneiros políticos e denunciou as armações contra opositores. “Que se dediquem a governar bem em vez de filmar shows mal atuados”, disse um cubano residente em Holguín.

Humor como forma de crítica

O sarcasmo e o humor não faltaram nos comentários, especialmente dirigidos ao perfil "La Tía Carmen", que publicou o vídeo acompanhado de zombarias sobre o diplomata. "Na sua paranoia, só lhe faltou insinuar que havia uma base russa secreta em algum hotel", dizia a postagem original, à qual muitos responderam com ironia.

“Se me pagassem por cada russo em Varadero, já não teria que fazer filas para o frango”, escreveu um usuário em tom de brincadeira. “Paranoia não, realidade: os turistas russos estão por toda parte e isso não é segredo”, acrescentou outro.

Também foram feitos memes e comentários engraçados sobre o momento em que Hammer se despede dizendo "vamos ver se comemos em Varadero". "O homem tem a paciência de um santo. Eu os deixaria falando sozinhos na areia desde a segunda frase", brincou um leitor.

Chamados à legitimidade democrática

Um dos argumentos mais repetidos nas reações foi a falta de legitimidade democrática do modelo cubano atual. A afirmação do interlocutor de Hammer de que “o povo já decidiu, decidiu Revolução” foi duramente criticada por numerosos leitores.

“Quando decidiu o povo? Foi em 76? E desde então, o que? Nunca mais? Não contam os que nasceram nos anos 80, 90, 2000?”, escreveu uma usuária de Camagüey. “Essa frase é insultante. Como se não houvesse gerações completas que nunca puderam votar em nada”.

Os apelos para a realização de um referendo popular livre, sem pressões, e sob supervisão de organismos internacionais surgiram repetidamente. “Querem saber o que pensa o povo? Coloque as urnas, sem medo, e com vigilância internacional. Vamos ver quem decide o quê”, comentou um jovem de Havana.

A publicação do vídeo por parte da Segurança do Estado não conseguiu alcançar o objetivo desejado pelo governo: deslegitimar Mike Hammer.

Por outro lado, reativou a conversa pública sobre a falta de participação política real, o controle do discurso oficial e a necessidade de uma consulta democrática em Cuba. A resposta do povo, pelo menos nas redes, foi clara: o povo ainda não decidiu.

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