Comunistas se despedaçam entre si e admitem: “Temos o inimigo morto, mas de tanto rir.”

Um cartaz em Holguín com um suposto erro ortográfico desencadeou risadas e revelou falhas na comunicação do governo cubano. A propaganda, em vez de persuadir, gera confusão e risadas, até mesmo dentro do próprio regime.

Francisco Rodríguez, vice-presidente da UPECFoto © Facebook Francisco Rodríguez / Ernesto Almaguer Díaz

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Um cartaz de propaganda em Holguín, com a palavra “Sorri” em vez de “Sorry”, provocou não apenas a zombaria de centenas de cubanos nas redes sociais, mas também um inesperado fogo cruzado entre comunistas que evidenciou a crise de comunicação política do regime.

O detonante foi uma publicação no Facebook de Ernesto Almaguer Díaz, com uma imagem do cartaz localizado na interseção da Carretera Central e da Avenida Los Álamos. A placa apresenta uma mensagem política "em inglês", que acabou gerando um debate linguístico e sobre a decadência do sistema educativo em Cuba.

Cartel em Holguín / Facebook Ernesto Almaguer Díaz

“Quando forem fazer um cartel comunista e em outro idioma, pelo menos façam com boa ortografia. É ‘Sorry’, não ‘Sorri’... Você vê que a educação grátis faz mal?”, escreveu Almaguer.

A publicação foi compartilhada dezenas de vezes e gerou uma onda de reações. Parecia mais um episódio de zombaria cidadã, mas o debate se intensificou quando o vice-presidente da União de Jornalistas de Cuba (UPEC), Francisco Rodríguez Cruz, decidiu intervir de forma sarcástica e presunçosa nas redes sociais.

Facebook Francisco Rodríguez Cruz

“Cairam na armadilha e replicaram nosso banner em seu panfleto! Que jumentos são! Obrigado por isso; nós j0dim0s, ‘sorri’...”, disse no Facebook, adicionando a postagem de CiberCuba onde se relata o debate nas redes sobre o mencionado cartaz publicitário.

O comentário de Rodríguez provocou risadas em seus fãs. Houve até quem aproveitou para destacar que "sorri" é uma palavra reconhecida no Dicionário de americanismos e é usada para pedir desculpas, portanto, o cartaz não contém erro de ortografia.

No entanto, entre os comentários de apoio também surgiu uma dura crítica que o vice-presidente da UPEC certamente não esperava, pois vem de suas próprias fileiras.

Facebook Francisco Rodríguez Cruz

O usuário Raúl Hernández Lima, jornalista da Jit, responsável pela imprensa da Associação de Futebol de Cuba, não hesitou em expor as profundas contradições da estratégia de comunicação do governo. Ele fez esse comentário na postagem do funcionário da UPEC:

Olha só, eu pensei que o departamento de propaganda investia dinheiro, muito dinheiro, em transmitir uma mensagem política clara, persuasiva e memorável, que influenciasse a opinião pública, que promovesse nossa ideologia e que denunciasse, neste caso, o cerco dos Estados Unidos ao nosso povo.

Pensei que o conteúdo daquelas faixas pretendia mobilizar emoções, apelando a sentimentos para gerar adesão à nossa posição e à nossa determinação de resistir ao bloqueio.

Eu, iludido, acreditava que esses fundos eram destinados a influenciar a percepção e o comportamento do nosso povo por meio de uma comunicação visual eficaz. Agora vejo que estava enganado, parece que estamos jogando escondidas com uma página sem graça que promove o oposto e, de quebra, ainda nos zomba por sermos ingênuos.

E vem o vice rindo como se tivesse ganho uma batalha. Se é assim que estão as altas esferas da comunicação, agora podemos nos fundir com o Centro Promotor do Humor. Enfim, temos o inimigo derrotado com a comunicação, mas com a risada...

“Temos o inimigo morto, mas de rir” resume o desastre nas estratégias de comunicação do governo. A propaganda que deveria persuadir acaba causando confusão e gargalhadas, mesmo dentro do bloco ideológico que supostamente a sustenta.

Este episódio conecta com palavras recentes de Miguel Díaz-Canel, que reconheceu que o governo da ilha chegou tarde às redes sociais, e tem o desafio de potenciar sua comunicação política em um contexto que não domina nem do ponto de vista informativo, nem do tecnológico.

Apesar disso, Díaz-Canel assegura que as instituições estão se preparando para lutar até "vencer" nos ambientes digitais e que conta com um grande poder: “a formação que têm os revolucionários cubanos que estão presentes nas redes sociais”.

Episódios como os do cartel de Holguín demonstram não apenas que as instituições cubanas não dominam a linguagem das redes, mas também que o governo perdeu seu poder de comunicação com os cartéis, não possui uma narrativa sólida, apresenta mensagens reiterativas, monótonas e não consegue se conectar emocionalmente com o povo.

Mais preocupante ainda: nem mesmo entre os defensores do regime há consenso sobre o que e como comunicar o que acontece em Cuba. "Sorri" mas... o que importa para os cubanos hoje, é informado pela imprensa independente.

Perguntas frequentes sobre a crise de comunicação do regime cubano e o cartaz "Sorri"

O que provocou a polêmica do cartaz "Sorri" em Holguín?

O cartaz com a palavra "Sorri" em vez de "Sorry" gerou zombarias e críticas nas redes sociais, evidenciando a decadência do sistema educacional em Cuba. A publicação de Ernesto Almaguer Díaz no Facebook gerou um debate sobre a qualidade da propaganda comunista e a ortografia, o que levou a um fogo cruzado entre defensores do regime.

Como o governo cubano reagiu às críticas ao cartaz "Sorri"?

Francisco Rodríguez Cruz, vice-presidente da UPEC, tentou zombar daqueles que criticaram a placa, destacando que "Sorri" é reconhecido no Dicionário de Americanismos. No entanto, esta reação não conseguiu abafar as críticas, pois até mesmo membros do próprio regime apontaram a ineficácia de sua estratégia de comunicação.

O que este incidente revela sobre a estratégia de comunicação do regime cubano?

O incidente do cartel "Sorri" evidencia as falhas na estratégia de comunicação do regime, mostrando que não consegue conectar-se emocionalmente com o povo nem transmitir mensagens claras e eficazes. A falta de consenso entre os defensores do regime sobre como comunicar suas ideias destaca a crise interna em sua propaganda política.

Por que é relevante a crítica de Raúl Hernández Lima ao cartaz?

Raúl Hernández Lima, jornalista do Jit e responsável pela imprensa da Associação de Futebol de Cuba, criticou publicamente a estratégia de comunicação do governo, apontando que a propaganda deveria ser clara e persuasiva, mas, ao invés disso, provoca zombaria e confusão. Esta crítica interna ressalta a falta de efetividade e coerência na mensagem do regime.

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Gretchen Sánchez

Redatora de Conteúdo Publicitário na CiberCuba. Doutora em Ciências pela Universidade de Alicante e Graduada em Estudos Socioculturais.