Um grupo multidisciplinar de cientistas cubanos e canadenses investiga desde o início deste mês novas descobertas no cemitério aborígine de Canímar Abajo, em Matanzas, considerado um sítio arqueológico das Antilhas único por sua antiguidade e pela quantidade de restos humanos encontrados.
A nova campanha de escavações no local começou no dia 1 de abril e se estenderá por várias semanas, e faz parte de duas iniciativas científicas: "Povoamento precoce da bacia hidrográfica do rio Canímar" e "O Caribe dinâmico: vestígios da interação entre as comunidades indígenas", informou o meteorólogo matancero Henry Delgado Manzor através da página no Facebook "Canímar Abajo Matanzas Cuba".

"O site continua a revelar, através de suas descobertas, sua importância para a arqueologia e a história de Cuba desde seu descobrimento, há mais de 40 anos", indicou Delgado em outra publicação neste domingo.
A pesquisa conta com a participação de especialistas do Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento da Direção Provincial de Cultura de Matanzas, do Grupo Carlos de la Torre do Comitê Espeleológico local, do Museu Memorial El Morrillo (Matanzas), além de especialistas do Departamento de Antropologia da Universidade de Winnipeg (Canadá) e do Departamento Centro Oriental de Arqueologia de Holguín, precisou.
Sítio de importância regional
Canímar Abajo, a quatro quilômetros a leste da cidade de Matanzas, localiza-se nas instalações da base de campismo homônima, às margens do rio que lhe dá nome.
Descoberto em 1984, é considerado o local de sepultamento aborígene mais antigo na maior das Antilhas, e de acordo com datação por radiocarbono, tem mais de 3.000 anos de antiguidade.
Es, assim, o sítio com o maior número de indivíduos exumados na região -mais de 230 restos aborígines-, e é um local-chave para entender as migrações pré-colombianas.
Canímar Abajo revelou ser um lugar único, não apenas dentro dos interesses locais, e até mesmo nacionais, mas já para toda a área do Caribe insular, destaca o livro Estudos paleopatológicos em Canímar Abajo, publicado em março de 2025 pela Aspha Edições.
Seu autor, o médico, espeleólogo, antropólogo e historiador da cidade de Matanzas Ercilio Vento Canosa, explica que as descobertas feitas lá no que diz respeito às formas de vida e usos econômicos transformaram muitos critérios já estabelecidos e sancionados para a pré-história cubana em grupos não tribais.
Segundo o especialista, a partir das primeiras escavações ficou evidente que alguns dos indivíduos exumados apresentavam alterações patológicas como consequência de diferentes processos mórbidos sofridos em vida, e ele avalia o estudo desses processos em comparação com outros sítios arqueológicos do país e da região.
Conexões pré-colombianas
Diversas investigações explicam que os primeiros habitantes do arquipélago cubano aparentemente chegaram provenientes do nordeste da América do Sul, em rústicos barcos ou canoas, através das ilhas do arco das Antilhas Menores, até Porto Rico, Hispaniola e finalmente até as costas de Cuba.
Chama a atenção a semelhança existente entre determinados tipos de artefatos de pedra encontrados em locais como o Rio Canímar e os encontrados no delta do rio Mississippi, nos Estados Unidos.
Igualmente, a tipologia de certas ferramentas de concha localizadas no ocidente de Cuba concorda com a de objetos semelhantes do norte de Yucatán, o que evidencia a possibilidade de uso de outras vias de conexão marinhas através do Golfo do México ou a partir da Flórida.
Além de coletores, pescadores e caçadores, como se pensava até agora, os primeiros habitantes da Ilha também foram agricultores, conforme revelam as descobertas arqueológicas de vários esqueletos humanos, instrumentos rudimentares e outros objetos.
Até o presente, em Cuba foram identificados mais de 3.200 sítios arqueológicos, quantidade que evidencia o valor patrimonial do país para a região do Caribe neste campo.
O Museu Chorro de Maíta, localizado no cerro de Yaguajay, muito próximo à famosa praia Guardalavaca - o terceiro destino turístico mais importante de Cuba, na província oriental de Holguín - é considerado um dos mais reveladores da arqueologia aborígene cubana e foi declarado Patrimônio Nacional em 1991.
O cemitério foi descoberto em 1986 e nele foram encontrados mais de 108 sepultamentos, dos quais 62 estão expostos ao público no museu.
Os historiadores asseguram que esta zona montanhosa pertenceu à cultura agroalfarueira e foi um assentamento de alta concentração demográfica de aborígenes, onde se praticou a agricultura, a cerâmica, a coleta, a pesca e a caça.
Perguntas frequentes sobre o cemitério aborígene de Canímar Abajo em Matanzas
Por que é importante o cemitério aborígene de Canímar Abajo em Matanzas?
O cemitério indígena de Canímar Abajo é considerado o local de sepultamento indígena mais antigo da maior das Antilhas, com mais de três mil anos de antiguidade. Sua importância reside tanto em sua antiguidade quanto na quantidade de restos humanos encontrados, o que o torna um local-chave para entender as migrações pré-colombianas e a vida dos primeiros habitantes do Caribe Insular.
Que investigações estão sendo realizadas em Canímar Abajo?
Atualmente, estão sendo desenvolvidas duas iniciativas científicas no cemitério de Canímar Abajo: "Povoamento precoce da bacia hidrográfica do rio Canímar" e "O Caribe dinâmico: vestígios da interação entre as comunidades indígenas". Estas pesquisas buscam compreender melhor a história dos primeiros habitantes da região, suas migrações e suas interações com outras comunidades indígenas do Caribe.
Quais descobertas os arqueólogos fizeram em Canímar Abajo?
Os arqueólogos encontraram mais de 230 restos aborígenes no local, tornando-se o sítio com o maior número de indivíduos exumados na região. As descobertas transformaram critérios pré-existentes sobre a pré-história cubana.
Como contribuem as descobertas de Canímar Abajo para a compreensão das migrações pré-colombianas?
As descobertas em Canímar Abajo podem fornecer novas evidências sobre as possíveis rotas de migração dos primeiros habitantes do arquipélago cubano e revelar possíveis conexões marítimas e culturais na pré-história do Caribe.
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