Por que o acordo entre o ICE e a polícia de Orlando está gerando polêmica?

A falta de transparência e o medo de deportações em massa elevam a tensão em uma cidade com forte presença latina.


Um recente acordo de cooperação entre o Departamento de Polícia de Orlando (OPD) e o Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês) gerou uma forte controvérsia entre líderes comunitários, organizações defensoras dos direitos humanos e imigrantes que residem na cidade.

O convênio, assinado no final de março pelo chefe da polícia de Orlando, Eric D. Smith, e pelo diretor do ICE em Orlando, Todd M. Lyons, inclui, entre outras coisas, treinamentos por parte da agência federal para os funcionários do OPD.

Embora as autoridades locais insistam que a colaboração visa combater crimes graves e melhorar a segurança pública, setores críticos alertam sobre o impacto negativo que isso poderia ter nas comunidades de imigrantes e na relação entre essas comunidades e a polícia local.

Por isso, organizações a favor da imigração estiveram presentes nesta segunda-feira na Comissão da Cidade, onde expressaram seu veemente descontentamento com o acordo. A sessão foi palco de diversas intervenções cidadãs que denunciavam a falta de transparência e criticavam que o pacto foi assinado sem o conhecimento prévio dos próprios comissionados, segundo reportou Telemundo 31.

"Com a Comissão, é óbvio que eles não estão interessados em participar disso, então isso é o que nossa comunidade precisa ouvir, e agora é verificar quais ações podem ser tomadas para protegê-los," afirmou Ericka Gómez Tejeda, representante do Hope Community Center, uma das organizações mais ativas na defesa dos direitos dos imigrantes na Flórida Central.

A falta de comunicação sobre o acordo gerou até mesmo desconforto entre alguns funcionários municipais. Vários comissionados admitiram ter assinado o pacto apenas momentos antes da sessão, o que alimentou ainda mais as suspeitas sobre seu contexto e abrangência.

El comissionado Tony Ortiz questionou abertamente a necessidade e a legitimidade do convênio. “Quando assinamos um convênio, o primeiro que quero descobrir é se este convênio tem raízes sólidas, se isso foi uma ordem do governo federal, assinada por um juiz, então seria onde acatamos, mas se não for assim e for apenas um convênio, por quê?, essa é a minha pergunta, por que temos que nos envolver com isso?", expressou Ortiz, visivelmente incomodado com a forma como o assunto foi tratado.

Ortiz também ressaltou as consequências econômicas de criminalizar ou expulsar os migrantes da cidade. “Com a inflação que temos, os problemas econômicos que enfrentamos, se deixarmos que todos esses migrantes vão embora, teremos grandes problemas econômicos”, advertiu, acrescentando que “o impacto econômico que os migrantes trazem para o nosso estado e para a nossa nação é enorme, estamos falando de milhões de dólares”.

Suas palavras ressaltaram não apenas a dimensão humanitária do problema, mas também a importância estrutural que a força de trabalho migrante representa para a economia local e estadual.

Diversas organizações lembraram que o convenio assinado vai contra o espírito da Lei de Confiança de Orlando, aprovada em 2018 para limitar a colaboração entre agências locais e federais em assuntos migratórios.

"Este acordo não é obrigatório. O que eles estão dizendo é que assinam porque têm medo de perder, porque parece que Ron DeSantis tem tanto poder que pode controlar tudo", denunciou Sister Ann Kendrick, também do Hope Community Center.

A referência ao governador republicano da Flórida não é casual: muitas das recentes políticas migratórias no estado foram impulsionadas por sua administração, caracterizadas por uma abordagem punitiva em relação aos imigrantes indocumentados e por promover a cooperação entre as polícias locais e as autoridades migratórias.

No condado de Orange, onde se encontra Orlando, foram relatadas aproximadamente 10.000 ordens de deportação. Além disso, pelo menos 17 funcionários correccionais do condado estão programados para receber treinamento por parte do ICE.

Em uma cidade onde mais de 30% da população é de origem latina, as implicações deste acordo acenderam alarmes. As organizações sociais temem que a desconfiança em relação à polícia se intensifique, gerando um clima de medo que pode impedir que vítimas ou testemunhas de crimes procurem as autoridades por receio de serem deportadas.

Por sua vez, grupos como ACLU e o Southern Poverty Law Center solicitaram acesso aos termos completos do acordo por meio de pedidos de transparência e não descartam a possibilidade de iniciar ações legais caso se comprove que viola direitos constitucionais.

Perguntas frequentes sobre o acordo entre a polícia de Orlando e o ICE

Em que consiste o acordo entre a polícia de Orlando e o ICE?

O acordo entre o Departamento de Polícia de Orlando (OPD) e o Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE) inclui a cooperação para combater crimes graves por meio de treinamentos fornecidos pelo ICE aos funcionários do OPD. No entanto, gerou críticas por seu possível impacto negativo nas comunidades imigrantes.

Por que o acordo com o ICE gera controvérsia em Orlando?

A controvérsia surge porque os críticos do acordo temem que aumente a desconfiança em relação à polícia e afete as comunidades imigrantes. Além disso, apontam a falta de transparência na sua assinatura e o fato de que foi assinado sem o conhecimento prévio dos comissários municipais.

Qual é o impacto econômico das políticas migratórias na Flórida?

As políticas migratórias restritivas podem ter um impacto econômico significativo. O comissário Tony Ortiz ressaltou que a expulsão de migrantes poderia provocar sérios problemas econômicos, uma vez que a força de trabalho migrante é crucial para a economia local e estadual, contribuindo com milhões de dólares.

O que é o programa 287(g) e como ele se relaciona com o acordo em Orlando?

O programa 287(g) permite que as forças de segurança locais colaborem com o ICE na identificação e detenção de imigrantes indocumentados. Esse tipo de acordo, como o assinado em Orlando, está alinhado com as políticas do governador Ron DeSantis para reforçar as leis de imigração e não permitir "cidades santuário" na Flórida.

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