O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou a cidadania por nascimento, garantida pela 14ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos, e a chamou de "ridícula".
De acordo com esta disposição, qualquer pessoa nascida no território americano adquire automaticamente a cidadania, independentemente do status migratório dos pais. No entanto, Trump pretende acabar com isso, conforme reiterou neste domingo em entrevista com Kristen Welker para o programa da NBC, "Meet the Press".
"Precisamos acabar com isso", disse Trump, qualificando-a em seguida de "ridícula".
"Somos o único país que a tem, sabia?", acrescentou.
No entanto, meios de comunicação dos Estados Unidos nesta segunda-feira corrigem o presidente eleito e ressaltam que mais de 30 países concedem cidadania por direito de nascimento, incluindo o Canadá e o Brasil.
Trump sugeriu que tentará abolir esse direito por meio de uma ação executiva, uma medida que quase certamente enfrentará desafios legais nos tribunais.
Antecedentes
Donald Trump já fez uma ameaça semelhante em várias ocasiões durante sua administração anterior.
“Estamos avaliando isso de forma muito séria, o direito à cidadania por nascimento, onde alguém tem um bebê em nossa terra, cruza a fronteira, tem um bebê. Parabéns, o bebê agora é um cidadão americano (...) Francamente, é ridículo”, disse à imprensa nas proximidades da Casa Branca em 2019.
Durante uma entrevista com "Axios na HBO", lamentou que o simples fato de nascer em território norte-americano torne uma pessoa, automaticamente, um cidadão norte-americano.
“Somos o único país do mundo onde uma pessoa vem, tem um bebê, e o bebê é praticamente um cidadão dos Estados Unidos (...) com todos os seus benefícios. É ridículo. E isso tem que acabar,” disse naquele momento.
Ambas declarações anteriores confirmam que Trump tem há muitos anos os mesmos pensamentos sobre o que ele próprio qualificou como "bebês âncoras".
Famílias de estatus misto: "Não quero desestruturar famílias."
O tema das famílias com status migratório misto também foi abordado na entrevista deste domingo.
Welker perguntou sobre as aproximadamente quatro milhões de famílias nos Estados Unidos que têm um status migratório misto, ou seja, onde alguns membros são cidadãos legais e outros não.
Trump disse que evitará separar famílias, quer mantê-las unidas, mesmo que isso signifique deportar todos.
“Não quero separar as famílias. Portanto, a única forma de não separar a família é mantê-la unida e enviá-los todos de volta”, afirmou.
Diante da pergunta sobre se isso implicaria o retorno da política de "tolerância zero", aplicada em sua primeira administração, que separou famílias na fronteira como forma de dissuasão, Trump negou que fosse necessário.
“Não precisamos separar as famílias. Vamos enviar toda a família de uma maneira muito humana, de volta ao país de onde vieram”, disse.
No entanto, deixou uma exceção: “Se entrarem aqui ilegalmente, mas a família está aqui legalmente, então a família tem uma opção. A pessoa que entrou ilegalmente pode sair, ou todos podem sair juntos.”
Deportações em massa: "É preciso fazer"
Donald Trump reiterou que "teria que" deportar todos os imigrantes indocumentados.
“Acho que precisamos fazer isso”, ressaltou.
Disse que as deportações começariam com aqueles imigrantes que tenham cometido crimes e depois se ampliariam para “pessoas que não sejam criminosas”.
No entanto, evitou detalhar quais delitos seriam considerados nessa política, limitando-se a afirmar que é necessário ter "regras, regulamentos, leis" para abordar o problema.
“Entraram ilegalmente. Você sabe, as pessoas que foram tratadas de maneira muito injusta são aquelas que estão na fila há 10 anos para entrar no país”, argumentou Trump.
Ele acrescentou que é necessário começar pelos criminosos: “Precisamos tirar os criminosos do nosso país. Mas estamos começando pelos criminosos, e depois veremos como as coisas vão.”
Quando foi pressionado sobre quem seriam os próximos na lista, Trump respondeu de forma vaga: “Os outros são pessoas diferentes dos criminosos”.
O endurecimento das restrições fronteiriças tem sido um pilar da campanha presidencial de Trump, tanto em 2016 quanto em sua recente vitória.
Durante sua primeira administração, ele destacou os atos de violência cometidos por imigrantes indocumentados como um argumento para justificar suas políticas.
No entanto, estudos recentes, como um do Instituto Nacional de Justiça, mostram que os imigrantes indocumentados são presos por crimes violentos a taxas significativamente mais baixas do que os cidadãos nativos americanos.
O retorno de Trump à Casa Branca parece sinalizar um endurecimento das políticas migratórias que marcaram seu primeiro mandato.
Seus comentários sobre a deportação em massa e a eliminação da cidadania por nascimento ressaltam sua intenção de cumprir com as promessas de campanha, embora essas medidas enfrentem sérios desafios legais e humanitários.
Nas próximas semanas, espera-se que Trump anuncie mais detalhes sobre sua agenda migratória, enquanto crescem as preocupações sobre o impacto que essas medidas podem ter nas famílias e comunidades imigrantes em todo os Estados Unidos.
Perguntas frequentes sobre o plano de imigração de Donald Trump e a cidadania por nascimento.
O que é a cidadania por direito de nascimento nos Estados Unidos?
A cidadania por direito de nascimento é um princípio estabelecido pela 14ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que concede cidadania automática a qualquer pessoa nascida em território americano, independentemente do status migratório de seus pais. Donald Trump qualificou essa disposição como "ridícula" e expressou sua intenção de aboli-la por meio de uma ação executiva.
Quais medidas Donald Trump planeja tomar para acabar com a cidadania por nascimento?
Trump sugeriu que tentará eliminar a cidadania por nascimento por meio de uma ação executiva, embora tal medida certamente enfrente desafios legais nos tribunais, já que a cidadania por nascimento está protegida constitucionalmente pela 14ª Emenda.
Quais são os planos de deportação em massa de Donald Trump?
Donald Trump anunciou um plano para realizar a maior deportação da história dos Estados Unidos. Esse plano inclui a deportação de imigrantes indocumentados, começando por aqueles com antecedentes criminais, e pode se estender a outros grupos. Também estão previstas medidas como a suspensão de vistos para países que não cooperarem com as deportações.
Quantos países concedem a cidadania por direito de nascimento?
Ao contrário das afirmações de Trump, mais de 30 nações concedem cidadania por direito de nascimento, incluindo países como o Canadá e o Brasil, o que desmente a ideia de que os Estados Unidos sejam o único país com essa disposição.
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