Terremotos expõem a vulnerabilidade das habitações em Cuba: É urgente a construção de imóveis seguros

Os recentes terremotos no sudeste da província de Granma reacenderam o debate sobre se as construções em Cuba estão em conformidade com as normas sísmicas vigentes desde 2017.

Daños ocasionados por los terremotos © Facebook / CMKX Radio Bayamo
Danos causados pelos terremotosFoto © Facebook / CMKX Rádio Bayamo

Os recentes terremotos na região oriental de Cuba revelaram uma realidade alarmante: a alta vulnerabilidade de muitos edifícios no país diante de eventos sísmicos de magnitude moderada ou grande.

Essa situação, que afeta não apenas Granma, mas também outras províncias suscetíveis a movimentos telúricos, revela a necessidade urgente de melhorar a qualidade e a segurança nas construções, evitando práticas que comprometam a resistência estrutural.

Eberto Hernández Suros, engenheiro geólogo e coordenador do Centro Nacional de Investigações Sismológicas (CENAIS) na província de Granma, destacou que as deficiências na qualidade de muitas edificações são, em grande medida, consequência de violações ao código sísmico vigente em Cuba desde 2017.

Este regulamento estabelece as características de resistência sísmica que todos os edifícios devem cumprir no território nacional, mas o seu não cumprimento deixou muitas estruturas vulneráveis aos sismos.

Segundo o especialista, além do código sísmico, cada obra também deve ser realizada considerando parâmetros relacionados à qualidade, ao uso de materiais adequados e ao cumprimento das normas de construção, reportou o jornal oficial Granma.

"Lamentavelmente, muitas vezes essas questões são violadas. E sabemos que isso compete com necessidades materiais, urgências das pessoas para construir suas moradias e até prazos de conclusão de determinadas obras; mas, no final, o resultado é uma edificação vulnerável a esse tipo de evento sísmico", alertou o cientista.

A situação se agrava quando algumas obras, inicialmente bem construídas, recebem adaptações estruturais que acabam enfraquecendo a resistência a sismos.

Essas modificações, feitas sem considerar os parâmetros de resistência sísmica, deixam os edifícios expostos e colocam as pessoas em risco, apontou o especialista.

Em territórios como Granma, o problema da vulnerabilidade estrutural é particularmente evidente nas construções realizadas pelo esforço próprio, onde, devido à escassez de recursos, são utilizados materiais de baixa qualidade e práticas construtivas que nem sempre atendem aos padrões de segurança.

“Constrói-se com o que se tem e com o que é possível, mas raramente como se deve”, comentou Hernández, e acrescentou que a fabricação de elementos de construção sem a devida certificação de qualidade aumenta ainda mais o risco sísmico nessas áreas.

Segundo o especialista, no território de Granma, entre as construções vulneráveis, destacam-se as habitações antigas, com muitos anos de uso e sem a manutenção adequada, o que as torna extremamente frágeis diante de um sismo.

Além disso, “estão listadas construções nas quais, durante sua edificação, não foi verificada a qualidade da obra”. Segundo o engenheiro Hernández, também há exemplos de uso de sistemas construtivos inadequados para regiões sísmicas que “apresentavam níveis de vulnerabilidade bastante altos”, aumentando o risco para os seus ocupantes.

Hernández também iniciou um debate sobre um tema polêmico, que é a adequada certificação dos materiais fabricados pelos chamados “novos atores econômicos”, pois “nem sempre têm a qualidade de seus produtos certificada, o que eleva os níveis de vulnerabilidade sísmica”.

"A produção local de materiais é uma necessidade. Não é um capricho de ninguém. Nossa reivindicação é que tudo o que for feito precisa ser seguro, para tentar evitar danos maiores em caso de um evento sísmico. Por isso, é importante que as produções sejam certificadas, que se controle a qualidade das construções e que se trabalhe de forma integrada entre todos os órgãos que intervêm nesse processo", disse, por fim, o sismólogo.

As declarações do especialista são especialmente pertinentes no contexto da atual atividade sísmica na região oriental, onde, até esta quinta-feira, foram registradas um total de 2.665 réplicas após os terremotos de domingo ao sudeste de Pilón, na província de Granma.

"Foi registrado um total de 2665 réplicas após os terremotos de 6.0 e 6.7, ocorridos no dia 10 de novembro, das quais provavelmente 90 foram perceptíveis", indicou o boletim publicado pelo CENAIS em seu site.

As principais afetacões causadas por esta atividade sísmica concentram-se na província de Granma, onde pelo menos 3.518 residências apresentaram algum tipo de dano.

Luis Roja Yero, subdiretor técnico da Direção Provincial de Habitação em Granma, informou ao jornal La Demajagua que foram contabilizados 513 desabamentos parciais, dos quais 54 correspondem a desabamentos totais, 38 a quedas completas de telhado e 313 a desabamentos parciais de coberturas.

Indicou que o município de Pilón apresenta o maior número de residências afetadas, com um total de 830, seguido por Campechuela com 759, Bartolomé Masó com 663, Buey Arriba com 445, Media Luna com 337 e Manzanillo com 248 casas danificadas. Nas demais localidades, o número de afetados é menor.

“De acordo com arquitetos e especialistas, estão sendo realizados estudos nas zonas costeiras para determinar a viabilidade dos solos na construção de residências e o grau de perigosidade das mesmas quando ocorrem fenômenos como os do dia 10 de novembro passado”, destacou o portal de notícias.

Um dos imóveis estatais gravemente afetados foi a escola secundária básica Juan Vitalio Acuña, no município de Pilón, Granma, que se viu obrigada a fechar suas portas após os graves danos causados pelos fortes tremores de terra que atingiram a localidade na manhã do último domingo.

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