Jovem cubano Isauri Aguilar Leyva, assassinado em Holguín em uma briga que ele não começou.

Tinha 20 anos e recebeu uma facada no peito. O assassino, de 19 anos, foi detido. A investigação segue seu curso dois meses depois. Não há data para o julgamento.


Isauri Aguilar Leyva era o único filho e o mataram aos 20 anos em uma briga em Holguín que ele não começou. "Ele foi defender um colega. Não estava armado nem nada. Era um menino tranquilo e muito nobre", conta uma pessoa do entorno do falecido. Dois meses após o ocorrido, ainda não há data para o julgamento. O assassino foi identificado e está na prisão, mas a justiça ainda não foi feita.

Aguilar Leyva vivia no bairro holguinero Reparto Harlem, mais conhecido como El Guarro, e praticamente não saía de casa. Quem o conheceu o descreve como uma pessoa tranquila, que passava o dia jogando com seu celular.

No dia 5 de junho, a mãe de Isauri Aguilar Leyva foi trabalhar, como de costume, em um restaurante de Holguín, onde é funcionária. Às nove da noite, ela recebeu uma ligação, avisando que era urgente ir ao hospital porque seu filho tinha tido um problema. Quando chegou, encontrou-o morto. Ela não sabia o que havia acontecido.

No dia seguinte, a família soube que por volta das 17h44 do dia 5 de junho, a avó de Isauri Aguilar ouviu seu neto conversando ao telefone. A mulher perguntou o que estava acontecendo, mas o jovem se recusou a lhe dizer qualquer coisa. Ele respondeu que "era privado". Pouco depois, às 18h, como de costume, a luz acabou. A avó, que nunca toma banho cedo, naquele dia o fez antes do apagão.

Sempre que a luz ia embora, Isauri Aguilar Leyva se sentava com uma amiguinha em um parque que há em frente à sua casa. Ali, encontrava-se com um garoto do bairro, que também costumava ir a essa área diariamente. Não eram amigos, mas se conheciam. Foi ele quem o chamou pelo celular, quando o falecido não quis contar à avó o que estava acontecendo. Nessa chamada, pediu que o defendesse de outro jovem, "do Viña". Aguilar Leyva, mais prudente, disse que o deixasse. Seu "amigo" procurou outro e uma arma. Foi então que a briga começou no parquinho.

Ao ver Aguilar Leyva, disseram-lhe que se não se juntasse à briga "era um covarde". Pressionado, ele se uniu. Um vizinho que o viu dá testemunho disso e tentou impedir que o jovem se juntasse à luta. Ele disse: "Vem cá, não te metas em problemas que não são teus". Aguilar Leyva respondeu que não ia se meter, que só ia chegar até a esquina, mas o certo é que junto com os outros, foram até o bairro do agressor e lá apareceram vários rapazes com paus, ferros e armas brancas.

Isauri Aguilar e outro jovem começaram a correr ao ver tanta gente atrás deles. Nesse momento, passou uma patrulha que chegou para dissolver a briga, embora fontes próximas à Polícia política aleguem que foram ao bairro por outro motivo. Ao ver os agentes, o rapaz que acabou falecendo e o que o acompanhava correram e acabaram presos em um beco sem saída. Eles estavam com medo e entraram na casa. O dono, ao ver dois estranhos dentro de sua casa, os obrigou a sair, mas se deu conta de que estavam sendo perseguidos e tentou conversar com o assassino, que tem apenas 19 anos, e estava acompanhado de mais dois.

Isauri Aguilar Leyva implorou a seu assassino que o deixasse ir. "Duas vezes ergueu o 'pulôver' para provar que não estava armado. O assassino fez de conta que ia embora e nesse momento, Isauri, sem sair do portal da casa onde estava protegido, se inclinou para ver se realmente tinha ido, mas nesse momento, o assassino lhe cravou a faca no peito. Ele fez isso pressionado por outro que lhe repreendeu por como ele iria embora sem feri-lo.

Isauri Aguilar Leyva chegou já cadáver ao hospital. Sua mãe e sua avó estão devastadas. A investigação segue seu curso, mas não há data para a celebração do julgamento. O jovem nobre e tranquilo que passava os dias jogando com seu celular está morto. O assassino, com 19 anos, está na prisão. Sabe-se que se chama José Ramón Ramírez Martínez, que tinha "uma péssima conduta" e que se espera que caia sobre ele todo o peso da lei. No entanto, este julgamento não foi celebrado com a celeridade com que se julgam delitos políticos em Cuba.

Nada devolverá a Isauri Aguilar Leyva a seus familiares, mas seu entorno está convencido de que a violência que há em Cuba "tem que parar". Julgamentos exemplares podem ajudar nisso para evitar que ocorra como com o jovem de Camagüey, Usielito Quesada Florat, que faleceu de uma facada nas costas esta semana. Ele foi morto por um jovem que estava em liberdade condicional, por ter assassinado outra pessoa.

Também esta semana, as autoridades cubanas estão investigando a morte de um jovem de 20 anos em Baracoa, que foi encontrado morto enquanto estava de serviço em uma prisão de Guantánamo, onde cumpria o Serviço Militar. A família duvida que seja verdade que ele se enforcou com um cinto, tendo uma AKM em mãos e podendo se dar um tiro.

Na sexta-feira passada, em Sancti Spíritus, um jovem identificado como Hansel foi assassinado, embora ainda não tenham surgido detalhes do crime que acontece em meio a uma escalada da violência em Cuba. Somente em julho, o Observatório Cubano de Conflitos contabilizou extraoficialmente 18 mortes violentas no país.

Mais assassinatos, agressões e roubos

O think tank Cuba Siglo XXI identificou 2023 como o ano em que o regime reconheceu a criminalidade como um problema na Ilha, sendo os meses de julho e junho os mais violentos. "Dos 649 crimes relatados, 265 foram roubos, 199 pessoas foram assassinadas em 197 incidentes e 124 pessoas sofreram assaltos", aponta o relatório ao qual a CiberCuba teve acesso.

Segundo o Observatório Cubano de Auditoria Cidadã (OCAC), entre janeiro e junho de 2024 foram registrados um total de 432 crimes, o que representa uma média diária de 2,37 crimes, marcando um aumento de 152% em comparação com o mesmo período de 2023 (1,82 crimes diários em 2023). A análise mostra um "preocupante aumento" em delitos violentos no primeiro semestre deste ano, destacando um crescimento de 111% nos homicídios, 290% nas agressões e 208% nos roubos no primeiro semestre de 2024.

O OCAC atribui esse aumento da criminalidade à descapitalização e desprofissionalização da Polícia; a mudanças nos valores sociais e culturais, e a "uma crescente percepção de impunidade e corrupção dentro do sistema judicial cubano". Diante dessa situação, "faz um apelo urgente às autoridades cubanas para abordar de forma transparente essa preocupante situação".

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Tania Costa

(La Habana, 1973) vive na Espanha. Dirigiu o jornal espanhol El Faro de Melilla e FaroTV Melilla. Foi chefe da edição murciana de 20 minutos e assessora de Comunicação da Vice-Presidência do Governo da Murcia (Espanha).


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