Exdiplomático da Coreia do Norte em Cuba traficava charutos com a China.

Ri Il Kyu é o funcionário de mais alto escalão que se sabe ter desertado da Coreia do Norte desde 2016.

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Ri Il Kyu, um ex-diplomata norcoreano de 52 anos que era responsável por assuntos políticos na Embaixada da Coreia do Norte em Havana até que em novembro escapou para a Coreia do Sul da ilha, admite que se dedicou ao tráfico ilegal de charutos para a China para sustentar sua família.

Com um salário de 500 dólares por mês que não era suficiente em Cuba, Ri se virou para contrabandear charutos cubanos para a China para complementar sua renda em Havana, conforme revelou em uma recente entrevista à rede britânica BBC, embora não tenha fornecido mais detalhes sobre o modus operandi de suas operações, nem sobre como os charutos chegavam até ele.

Ri Il Kyu é o funcionário de mais alto escalão que desertou da Coreia do Norte desde 2016.

Em sua primeira entrevista com uma imprensa ocidental, Ri revelou detalhes sobre o regime de Kim Jong-un e as complexas relações internacionais da Coreia do Norte.

Ri admitiu que quando conheceu Kim Jong Un, estava "tremendo de nervos", mas garante que após as sete reuniões que teve com o líder norte-coreano pode descrevê-lo, pelo menos em aparência, como alguém "sorridente e de bom humor".

No entanto, Ri não tem dúvidas de que Kim é capaz de qualquer coisa para garantir sua sobrevivência, mesmo à custa de seu próprio povo. "Ele poderia ter sido uma pessoa maravilhosa e um pai, mas moldaram-no até torná-lo um monstro", disse.

Coreia do Norte e Donald Trump

Segundo Ri, a Coreia do Norte vê o possível retorno de Donald Trump à Casa Branca como "uma oportunidade única em mil anos" para negociar em relação ao seu programa nuclear, apesar de que as conversas entre Trump e Kim fracassaram em 2019.

Ri garante que qualquer tentativa de congelar o programa nuclear da Coreia do Norte em troca de uma suspensão das sanções seria um "enganoso a cem por cento" e apenas fortaleceria o regime.

A erosão da lealdade a Kim Jong-un

Ri afirmou que a lealdade genuína para com Kim Jong-un diminuiu consideravelmente na Coreia do Norte, com uma população cada vez mais consciente das diferenças entre seu país e o próspero sul.

Embora o regime tenha intensificado as leis contra o consumo de conteúdos sul-coreanos, Ri não acredita que isso possa deter o crescente descontentamento da população norte-coreana.

A perigosa fuga

Foi em meados de julho que foi divulgada a fuga de Ri Il-gyu de Havana em direção à Coreia do Sul, embora a fuga acompanhada de sua esposa e de seu filho tenha ocorrido no início de novembro de 2023.

Interrogado sobre os motivos que o levaram a contemplar a deserção como uma saída, o ex-diplomata disse que foram vários os fatores, entre eles a avaliação injusta de seus esforços, assim como a exigência de suborno por parte do Ministério das Relações Exteriores de seu país.

A isso se soma que tanto seus pais quanto seus sogros haviam falecido na Coreia do Norte e não tinham família direta que pudesse ser vítima de represálias.

A última gota foi que pediu permissão para ir ao México receber um tratamento médico ao qual em Cuba não era possível acessar, e lhe foi negado.

O ex-diplomata contou que, em meados de 2023, considerou “seriamente a possibilidade de desertar” e que perdeu sete quilos em três meses de puro estresse. Finalmente, seis horas antes da fuga, foi quando ele disse à sua esposa e ao seu filho que mudariam de país.

Ri Il-gyu não implicou até agora nenhuma entidade da ilha em sua fuga, embora seja impossível acreditar que não houvesse participação de cubanos em seu plano de fuga.

Entre as funções de Ri na embaixada estava a de impedir que a Coreia do Sul e Cuba estabelecessem relações diplomáticas. Curiosamente, apenas três meses depois, em fevereiro deste ano, a nação sul-coreana e o Governo cubano restabeleceram relações diplomáticas e neste momento estão em vias de abrir embaixadas em ambas as nações.

Ri ingressou no Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte em 1999 e chegou a receber elogios de Kim Jong-un por negociar com sucesso com o Panamá para levantar a detenção de um navio norte-coreano que foi apreendido transportando armas de Cuba em 2013.

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