Justiça chilena desestima demanda de cubano agredido por Mijaín López nos Jogos Pan-americanos 2023

"Neste momento, no Chile, as pessoas indocumentadas não são uma prioridade nacional, e este rapaz é indocumentado. Para as autoridades, ele não é nada neste país”, explicou a advogada do jovem denunciante.

Mijaín López y Damián Montes de Oca © Panam Sports y Redes Sociales
Mijaín López e Damián Montes de OcaFoto © Panam Sports e Redes Sociais

A demanda de Damián Montes de Oca Iglesias, o cubano agredido por Mijaín López e outros integrantes da delegação cubana nos Jogos Pan-Americanos Santiago 2023, foi desconsiderada pela Fiscalia chilena, segundo revelou o Diario de Cuba citando como fonte o demandante e sua advogada.

Montes de Oca explicou que "a demanda foi encerrada supostamente por falta de provas. Assim funciona a Justiça neste país. Tudo muito rápido, na verdade, e as provas foram enviadas. Nem mesmo passaram dois meses e fecharam o caso na Promotoria".

O jovem apresentou vídeos da agressão como parte do arquivo probatório para estabelecer o caso. A denúncia foi apresentada aos Carabineros (instituição policial chilena), e foi tramitada pela Promotoria da Comuna de Maipú, a comuna onde está localizado o estádio de beisebol onde Damián foi agredido.

No entanto, a denúncia foi encerrada “à força, Maipú é a comuna que mais comunistas tem em Santiago do Chile", aponta Montes de Oca, insinuando um matiz político em seu caso.

Sua advogada Pía Balbontín Díaz, que o assessora durante este caso, acrescentou outros elementos que indicam que o contexto não favoreceu o cubano.

"Neste momento, no Chile, as pessoas indocumentadas não são prioridade nacional, e este rapaz é indocumentado. Para as autoridades, ele não é nada neste país. Agora há um tema de crise migratória muito forte aqui", explica.

“Eu estava no estádio quando Mijaín López deu o golpe nesse garoto, mas a polícia não intercedeu porque estava protegendo a delegação oficial cubana. O Ministério Público poderia ter dado continuidade à investigação, mas ele não foi verificar as lesões. Mijaín voltou para Cuba pouco depois. Então o Ministério Público não deu seguimento a essa denúncia, não deu prioridade ao ver os dados dele (de Montes de Oca)", descreve a também especialista em Direitos Humanos, Migrações e Refúgio.

De fato, a jurista recordou outro acontecimento ocorrido durante a citação esportiva continental, em que durante um torneio de vôlei "a Polícia removeu três cubanos das arquibancadas pelo comportamento que tinham".

Um agregado a todo este fato é exposto por Balbontín ao sentenciar que "a tudo o que foi dito anteriormente, devemos adicionar que estamos no Chile sob um governo comunista".

As esperanças do cubano Montes de Oca de fazer justiça diante do ato de violência vivido ficaram engavetadas nos escritórios da Procuradoria.

"Como mínimo esperaba uma sentença onde não deixassem Mijaín entrar mais no Chile, ou que ao entrar no território nacional ele tivesse que se apresentar por ter a causa aberta contra ele. Por parte das autoridades chilenas, elas não fizeram seu trabalho como deveria ser, isso foi muito ruim institucionalmente", disse.

Embora uma sanção sobre Mijaín fosse algo complicado, devido ao fato de que o Chile e Cuba não têm acordos de extradição assinados.

“Era bastante complicado que o imputassem aqui", conclui a advogada.

O jovem cubano havia registrado a denúncia perante os Carabineros em 26 de outubro de 2023, dois dias depois que Mijaín o agrediu na cara durante uma partida de beisebol dos Pan-Americanos.

"Preenchi o formulário onde relatei cada um dos detalhes que ocorreram. Principalmente denunciei também a inação dos Carabineros no estádio de beisebol ao não querer processar o caso, pois isso implicaria a detenção do próprio embaixador da marca Panam Sports (Mijaín López)", disse Damián naquela oportunidade.

Até aquele momento, o jovem villaclareño precisou que as autoridades cubanas não tinham tentado se comunicar com ele sobre o que aconteceu, e que "muito menos pediram desculpas públicas", também não o fez o agressor.

O lendário ex-jogador cubano José Ariel Contreras qualificou de "vergonha" a pancada do lutador ao manifestante e lamentou especialmente que ambos - ele e Mijaín - sejam pinareños.

Mijaín López, quatro vezes campeão olímpico de luta greco-romana, encontra-se nestas datas na França para participar dos Jogos Olímpicos de Paris, onde será o porta-bandeira da delegação cubana.

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