O ministro da Economia cubano, Joaquín Alonso Vázquez, confirmou nesta segunda-feira que a economia cubana recuou quase 2% (1,9%) no final de 2023, apesar do governo ter previsto um crescimento de 3%. O pior é que as previsões para este ano não são favoráveis.
Segundo o Cubadebate, Alonso Vázquez explicou na Comissão de Assuntos Económicos da Assembleia Nacional que este ano mantém-se "o cenário complexo", marcado por um alto déficit fiscal e "emissões monetárias acima do recomendável". Algo semelhante ao do exercício anterior, que obrigou o próprio Governo a admitir em dezembro passado que suas previsões de crescimento não se concretizaram. No entanto, em nenhum momento admitiram um retrocesso no PIB e falaram o tempo todo em "estagnação".
O ministro não disse nada que não fosse conhecido antes de se expor perante o parlamento, onde falou sobre receitas em moeda estrangeira "insuficientes" e baixa recuperação da produção nacional. A isso deve-se acrescentar as "limitações com combustível e energia", uma "inflação elevada e persistente" e um "alto endividamento externo".
Para que se entenda, a única coisa que Cuba tem são dívidas, escassez e muito dinheiro em circulação, com a agravante de que o Governo não controla a taxa de câmbio e, portanto, não consegue reduzir a inflação, que havia aumentado 31% em termos interanuais no encerramento de maio, conforme avançado pela vice-ministra das Finanças e Preços, Lourdes Rodríguez Ruiz, em uma reunião recente com representantes de micro, pequenas e médias empresas (Mipymes), a quem anunciou a decisão do Governo de fixar os preços de seis produtos básicos no ranking de consumo dos cubanos: frango, óleo de soja, detergente, salsichas, massas de trigo e leite em pó.
Sobre a inflação, o ministro disse que, embora mostre sinais de desaceleração em 2023, está resistindo a cair abaixo dos cerca de 30%, o que significa que os preços continuam a subir, embora a um ritmo menor do que poderiam fazê-lo.
Na linguagem do Partido Comunista, Alonso Vázquez apontou que, atualmente, são observadas "insuficientes conexões produtivas entre os atores da economia". Ou seja, há uma desconexão entre a empresa estatal e o setor privado.
Entre as más notícias que o Ministério da Economia levou à Assembleia Nacional está o não cumprimento do plano estabelecido de receitas, embora assevere que se ultrapassou o montante recebido no ano passado. Desta forma, deixaram-se de receber este ano 222 MM de USD, mas em comparação com 2023, foram recebidos 249 MM a mais. Cubadebate não explica qual é o objetivo de arrecadação para saber a que distância ficou o alcançado em relação ao previsto.
Exportação "favorável" de serviços médicos
Segundo o ministro da Economia, observa-se um comportamento "favorável" na exportação de serviços médicos, tabaco, carvão vegetal, enguia e lagosta e produtos biofarmacêuticos, mas não se estão a atingir as receitas previstas com a venda externa de níquel, açúcar, rum, mel, camarões marinhos, serviços turísticos e telecomunicações. E, nesse ponto, também influencia "a má gestão" na cobrança de faturas no exterior, que acumula um índice de morosidade de 6,4% no primeiro semestre deste ano.
Na essência, a indústria turística em Cuba não se recupera e, embora o número de turistas tenha aumentado ligeiramente (1,8%) este ano em comparação com 2023, o país ainda está a meio (51,6%) dos números pré-pandemia de 2019. Os principais mercados emissores de visitantes são o Canadá, a Rússia, os cubanos residentes no exterior e a Alemanha, nessa ordem.
Em relação às importações, apenas 58% foram cumpridas, apesar de ter sido dada prioridade à compra de alimentos, medicamentos, combustíveis e insumos médicos, o que claramente é insuficiente, considerando a escassez de alimentos e a precariedade da saúde em Cuba.
Um dado interessante fornecido pelo ministro é que as importações do setor privado totalizaram 900 bilhões de dólares, dos quais a maior parte (622 bilhões de dólares) corresponde às Micro, Pequenas e Médias Empresas (Mipymes).
É surpreendente, além disso, que ao longo de todo o semestre apenas 12 novos projetos de investimento estrangeiro tenham sido aprovados, um número muito discreto em um mundo globalizado e em um mercado virgem como o cubano. Destes, apenas um foi para a Zona de Desenvolvimento Especial de Mariel, que estava destinada a se tornar o principal polo de atração de investimentos do país.
Tal como pode ser visto da rua, o ministro confirmou que a maioria das produções agrícolas não foram cumpridas, devido à escassez de fertilizantes, pesticidas, fungicidas, combustíveis e alimentos para animais.
Riscos e desafios do sistema elétrico.
O ministro Joaquín Alonso Vázquez também apontou o que ninguém gostaria de ouvir nas ruas de Cuba: que o sistema elétrico nacional enfrenta "riscos e desafios" devido à falta de combustível. Isso se traduz em mais e mais quedas de energia, e a única proposta para mitigar isso foi a realização de obras para alcançar 2.000 MW de energia solar e a manutenção das usinas termoelétricas, mas o Cubadebate não fornece detalhes a esse respeito.
Ulises Guilarte de Nacimiento, líder sindical da Central de Trabalhadores de Cuba, avançou que o segundo semestre do ano será "complexo" e alertou que ainda existem empresas estatais com números negativos em setores-chave como o agrícola, o açucareiro e o das indústrias alimentares.
De modo geral, o debate centrou-se em afirmar o que todos sabem: que há graves problemas de escassez de alimentos e combustíveis, mas não foram apresentadas soluções. Houve sim notáveis alertas, como o feito por Jorge Luis Broche Lorenzo, membro do Comitê Central do Partido Comunista, que falou sobre o "excesso de pagamento" do setor estatal para o privado.
A economia cubana já ficou aquém das expectativas do governo em 2022, crescendo 1,8%, uma cifra muito abaixo dos 4% programados pelo governo no início daquele ano e inferior à meta ajustada de 2% no final daquele exercício.
Em 2022, o PIB real de Cuba cresceu cerca de 2%, em comparação com 1.3% em 2021. A CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) previa que a economia cubana crescesse 2% em 2023 e diminuísse em 2024. No entanto, a realidade tem sido muito pior. Houve um recuo de quase 2% no ano passado e não são esperadas melhorias neste ano.
O que você acha?
Ver Comentários (2)Arquivado em: