As Assembleia de Cineastas Cubanos despede-se de Carlos Massola.

A Assembleia de Cineastas de Cuba, entidade independente do ICAIC, recorreu a eufemismos em algumas ocasiões para caracterizar a rebeldia política do ator.

Carlos Massola © YouTube/screenshot/CubaNet
Carlos MassolaFoto © YouTube/captura de tela/CubaNet

Em meio ao silêncio oficialista predominante diante da morte de Carlos Massola, a Assembleia de Cineastas Cubanos publicou nesta quinta-feira, mais de 24 horas após o falecimento, um texto tímido no qual lamentou a morte do artista, ao mesmo tempo em que recorreu a eufemismos em algumas ocasiões para aludir à rebeldia política do ator.

No dia de ontem faleceu, aos 62 anos, nosso querido Carlos Massola, excelente ator de teatro, cinema e televisão, frequentemente excluído por sua postura cívica”, deslizou a entidade em eufemística referência à postura política do artista e à censura que tal atitude lhe acarretou.

A Assembleia de Cineastas, criada em 2022 e independente do ICAIC - embora seja conhecido que para os "independentes" existem limites em Cuba - enumerou a participação de Massola em filmes como Juan de los muertos, Pata Negra, Omega 3, Corazón azul, Agosto e Uma rosa de França, bem como em telenovelas e outros dramas da televisão cubana.

Muitos personagens carregaram a marca de seu talento, carisma e autenticidade. Ele se destacou por sua capacidade de interpretar vilões, em contraste com sua vida pessoal sempre comprometida com as causas que considerou justas", acrescentou a publicação em uma segunda dica sobre o posicionamento político do falecido, embora sempre falando de forma velada.

Próximo a muitos cineastas e artistas que compõem esta Assembleia, sentimos sua perda. Suas aparições na tela estarão lá por muito tempo para lembrá-lo. Enviamos nossas mais sinceras condolências aos familiares e amigos", conclui o texto.

Captura de Facebook/Asamblea de Cineastas Cubanos

Um grande ator discriminado por sua postura política, não cívica"; "Eu acho que demoraram demais para fazer esta publicação. Graças a Deus, o apoio nas redes tem sido impressionante"; responderam dois comentaristas que não ficaram satisfeitos com o texto da Assembleia, nem com o tom nem com o atraso da reação.

A Assembleia de Cineastas Cubanos é uma organização composta por profissionais do setor audiovisual em Cuba, surgida em resposta à necessidade de ter um espaço onde pudessem se reunir e debater sobre a situação do cinema na ilha, especialmente diante das restrições e desafios que enfrentam em seu trabalho.

Os objetivos incluem precisamente a defesa dos direitos trabalhistas e criativos dos cineastas cubanos, garantindo condições para desenvolver seu trabalho de forma livre e sem censura. Além disso, busca promover a produção de cinema independente, oferecendo um espaço para o desenvolvimento de projetos que reflitam a diversidade e a riqueza cultural do país.

A morte do ator Carlos Massola, que nos últimos anos levantou a sua voz inúmeras vezes contra o governo cubano, tem sido completamente ignorada pelas autoridades de Cultura nas últimas horas.

Até o momento, nenhuma instituição cultural oficial cubana fez menção da morte do ator em suas redes sociais.

Nem a União de Escritores e Artistas de Cuba (UNEAC), nem o Ministério da Cultura (MINCULT), nem o Instituto Cubano de Rádio e Televisão (ICRT), nem o Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográficos (ICAIC) se pronunciaram sobre a morte do artista.

Também não houve qualquer menção ao lamentável incidente nos telejornais culturais da televisão, nem na imprensa escrita.

Apesar disso, Massola não tem faltado, nas últimas horas, o reconhecimento e a homenagem espontânea de muitos de seus colegas, assim como o carinho do povo, que apreciou a coragem do ator em expressar, sem censura nem eufemismos, suas ideias políticas.

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