O Acopio deve mais de cinco milhões de pesos aos agricultores de Cienfuegos.

Os camponeses afetados queixam-se da impossibilidade de aumentar suas produções e rendimentos, da insustentabilidade de trabalhar a terra nessas condições e do deterioro de suas condições de vida.

Trabajador de la empresa estatal de Acopio © Granma / Alberto Borrego
Trabalhador da empresa estatal de Acopio.Foto © Granma / Alberto Borrego

A empresa estatal de Acopio de Cienfuegos deve mais de cinco milhões de pesos a produtores agropecuários dessa província, conforme divulgado na sexta-feira em reportagem do Noticiero Nacional de Televisión (NTV).

Centrado na visita governamental realizada "para corrigir distorções e impulsionar a economia" e nas palavras do primeiro-ministro Manuel Marrero Cruz, o relatório mencionou brevemente os "atrasos de cinco milhões de pesos aos camponeses".

O informativo não mencionou os responsáveis pelo não pagamento, nem os motivos para isso, nem as datas em que os atrasos serão corrigidos. A repórter apenas mencionou rapidamente esses dados e também falou sobre outros problemas que afetam os agricultores, "como o aumento do roubo e do abate que resulta em uma diminuição do rebanho".

As dívidas do Estado com os camponeses cubanos remontam a anos atrás. O abuso ao qual os produtores agropecuários são submetidos se manifesta na forma de não pagamentos, obrigações de entregar partes da colheita, pagamentos inferiores aos custos de produção, colheitas perdidas por falta de transporte e dificuldades para comprar combustível, ferramentas, maquinaria, fertilizantes ou sementes.

Os agricultores afetados por essas situações se queixam da impossibilidade de aumentar suas produções e rendimentos, da insustentabilidade de trabalhar no campo nessas condições e do declínio de suas condições de vida.

Em fevereiro de 2020, a organização não governamental (ONG) Observatório de Direitos Econômicos de Cuba estimava em bilhões de pesos a dívida do Estado com os agricultores privados.

Em junho de 2020, o governante Miguel Díaz-Canel anunciou que sua administração estava projetando uma política para comercializar produtos agropecuários localmente.

Eu continuo dizendo que o único mecanismo não pode ser a Acopio, é preciso criar outras estruturas. Um batey açucareiro, onde há estruturas produtivas, que vão produzir comida ali, ali o que é necessário é quatro ou cinco pessoas em uma estrutura pequena que serão responsáveis por gerenciar a compra com os produtores e colocá-la no mercado”, explicou em videoconferência com os governadores de todas as províncias.

Quatro anos depois, o campo cubano continua em grande parte sujeito às flutuações das políticas do governante designado pelo general Raúl Castro, desde as famosas e ineficazes "63 medidas para aumentar a produção de alimentos no país", até o funcionamento absurdo da economia planificada socialista e sua rede de empresas estatais, como a de Acopio.

Em janeiro de 2022, foi notícia que a Acopio de Ciego de Ávila fechou o mês com mais de 100 milhões de pesos em dívidas, sendo que 35 milhões eram de pagamentos em atraso a agricultores. As denúncias feitas por eles sobre as ineficiências do grupo empresarial iam desde os pagamentos em atraso até as toneladas de alimentos estragados devido à falta de transporte.

Um ano depois, o Ministro da Agricultura substituía o presidente do Grupo Empresarial de Acopio, Nelson Concepción de la Cruz, e afirmava que o dirigente havia "cumprido missões gigantescas".

"Culmina um ciclo e abrindo outro, encerra o processo de entrega e recebimento do cargo do Presidente de Acopio (...) chamando para um novo despertar das funções estatais e agradecendo aos que cumpriram missões gigantes nesta dura batalha de equilibrar a função estatal e a privada em benefício do povo cubano", disse o ministro Ydael Pérez Brito em suas redes sociais.

Em 2021, o Ministério da Agricultura (MINAGRI) chamou para "resolver de forma definitiva o problema dos atrasos de pagamento aos produtores agropecuários, para garantir um maior incentivo e evitar desequilíbrios financeiros. As formas de comercialização que não conseguirem resolver esse problema deverão desaparecer", destacou um agricultor cubano.

Leonel Capote denunciou que a empresa estatal de coleta continuava sem pagar uma dívida milionária aos produtores da província de Artemisa, no oeste de Cuba. Entre os afetados, Capote mencionou sua cooperativa, à qual a Empresa Agropecuária devia oito milhões de pesos.

O que são os chamados Centros de Acopio?

O Observatório Cubano de Conflitos (OCC) explicava em maio de 2020 que "em Cuba, todos os agricultores do país têm a obrigação de entregar os produtos colhidos nesses centros estatais, que lhes pagam uma miséria, os armazenam e depois os distribuem pouco a pouco, como podem".

Esse absurdo sistema centralizador é composto por uma maquinaria burocrático-comercial-interventora do Estado subordinada ao Conselho de Ministros, mas que de fato é dirigida pelo Partido Comunista em cada província e município. É composto por 13 empresas de Acopio com diferentes instalações em toda a ilha. Acopio é quem estabelece arbitrariamente os preços muito baixos pagos aos agricultores por seus produtos", explicou a ONG.

De acordo com o OCC, "uma das consequências mais graves do sistema de Acopio é que paga muito pouco pelos produtos aos agricultores e usuários de terras, que somam mais de 420.000 e geram quase 90% dos produtos agropecuários do país".

Este é um forte desestímulo para produzir mais com mais qualidade. Se os agricultores privados pudessem vender diretamente seus produtos pelo preço que eles fixassem, de acordo com as leis do mercado, haveria mais comida em Cuba", avaliaram os especialistas do Observatório.

Para o OCC, "é amplamente conhecido que todos os anos milhares e milhares de toneladas de produtos agrícolas da dieta básica cubana apodrecem nos armazéns de Acopio, por falta de caminhões suficientes ou porque estão quebrados".

Além disso, de uma forma geral, toda a infraestrutura técnica e operacional da Acopio é obsoleta e, sobretudo, insuficiente, para pretendernreceber e distribuir alimentos frescos em nível nacional, atendendo à grande necessidade da população, concluiu a ONG em seu estudo, no qual denunciaram que os Centros de Acopio agravavam a fome em Cuba.

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Iván León

Licenciado em jornalismo. Mestre em Diplomacia e Relações Internacionais pela Escola Diplomática de Madrid. Mestre em Relações Internacionais e Integração Europeia pela UAB.


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