O meio de comunicação independente elToque, que desde 2019 documenta os altos e baixos dos preços das moedas de referência em Cuba no mercado informal, deu sua opinião sobre o acentuado declínio que o valor do dólar, euro e MLC têm experimentado na última semana.
O anúncio do restabelecimento dos serviços de remessas para a ilha através da Western Union (em 9 de maio) e a proximidade de um valor fixo (400 CUP por 1 USD) podem ter influenciado as expectativas, o chamado 'sentimento de mercado', destacou primeiramente o economista Pavel Vidal Alejandro em um extenso artigo publicado nesta terça-feira.
O economista destacou que foi estabelecido um "novo equilíbrio no consenso e na atitude dos participantes de mercado".
Ou seja, "um número crescente de pessoas começou a considerar que o preço das moedas estava excessivamente alto e optou por vender antes de uma possível queda", o que impulsionou a oferta.
Esse ponto de vista também foi sugerido nesta semana por Pedro Monreal ao ser interrogado no Twitter sobre o assunto.
Pavel Vidal afirmou que a partir de meados de maio - coincidindo com o início da queda das três moedas de referência - houve um aumento significativo na oferta de moedas estrangeiras na amostra monitorada em espaços virtuais.
Por outro lado, ElToque apontou que é natural ocorrerem "correções temporárias após um longo período de alta no mercado".
Ele explicou que desde 2022 ocorreram seis quedas pronunciadas e consecutivas nos valores das moedas, que em alguns casos duraram semanas, mas depois se recuperaram.
Está o peso cubano se valorizando realmente nestes dias?
Pavel Vidal Alejandro considera que os fatores fundamentais que explicam os desequilíbrios internos e externos da economia cubana não mudaram e, portanto, "a inversão atual da taxa não deve ser associada a uma mudança na tendência".
Durante os últimos quatro anos, o valor do peso cubano tem apresentado uma tendência permanente de desvalorização que é consistente com o elevado déficit fiscal, a excessiva emissão de pesos cubanos, a contração da produção nacional e das exportações, a crescente dependência de produtos e insumos importados, a dolarização, a emigração e a inflação generalizada e persistente nos mercados. Ou seja, a crise continua e não há motivo para que o peso mude sua tendência de desvalorização.
E há mais, o crescimento do turismo desacelerou, as exportações de bens ficaram aquém do esperado e a safra açucareira continua sem conseguir estabilizar a produção. Como se não bastasse, no final de fevereiro deste ano, o desequilíbrio no orçamento do Estado acumulou mais de 20.000 milhões de pesos.
Por outro lado, encontra-se "o déficit crônico de dólares em face da expansão constante e volumosa da quantidade de pesos cubanos em circulação", o que consolida a tendência de alta na trajetória da taxa de câmbio paralela.
É possível saber com certeza o que vai acontecer? Isso também é o que complica o Toque porque considera que "são muitas as lacunas de informação que dificultam medir com maior precisão a magnitude e a evolução da crise atual".
Muito menos se entende a estratégia do Governo para reativar e estabilizar a economia. Com tanta opacidade nos dados econômicos e políticas, torna-se mais complexo aproximar o valor de equilíbrio do mercado. Não deve surpreender que a taxa de câmbio informal, em seu curso, seja vítima da incerteza desnecessária.
ElToque aproveitou para deixar claro que a queda das moedas ocorreu sem a necessidade de interromper a publicação do boletim, o que confirma "a autonomia e aleatoriedade com que o valor informal do peso se move".
"Apenas o Governo possui ferramentas de política econômica (principalmente fiscal e monetária) e pode implementar reformas para estabilizar e alterar o rumo da taxa de câmbio. Enquanto não o fizer, a taxa de câmbio continuará refletindo o preço da imobilidade, da continuidade e da incerteza", concluíram.
Outra perspectiva sobre o colapso das moedas em Cuba.
O economista cubano Emilio Morales afirmou esta semana em uma entrevista concedida ao CiberCuba que é "impossível" que o peso cubano tenha se valorizado sozinho, ganhando terreno em relação ao dólar, como aconteceu nos últimos dias, e atribuiu a queda do preço informal das moedas a manobras dos ciberclarias da UCI (Universidade de Ciências da Computação) da ilha.
Na opinião de Emilio Morales, a única notícia que pode valorizar por si só o peso é "que o Governo caiu", e isso porque finalmente se abriria uma esperança de uma mudança de sistema.
Morales também descartou que a queda nos preços do dólar, euro e MLC em Cuba seja devido a uma suposta injeção de divisas no mercado informal.
"De onde vão tirar as divisas se têm apagões todos os dias porque não têm dinheiro para comprar petróleo? Teria que ser uma injeção bilionária e eles não têm", questionou.
À pergunta se pode existir algum mecanismo que não seja a intervenção das claras para controlar a inflação esta semana, o economista respondeu com firmeza.
Isso é mentira. Cuba não produz. Onde está o suporte produtivo para que isso ocorra? Provavelmente esse quadro será retomado e ultrapassará a barreira dos 400 pesos", afirmou.
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