
Quatro cubanos se uniram em uma música para defender a liberdade religiosa em Cuba e pleitear o respeito do governo por aqueles que praticam a fé cristã.
"Libres en fe" é o título da canção que foi lançada no YouTube e é interpretada por Dayani Lozano, Lian Marrero, Néstor Alejandro Cordero Tobar (Nesty The Producer) e Leo S.
O vídeo, dirigido por Carlos Jesús Martínez Chávez, transmite com imagens o que muitos crentes consideram uma falta de respeito, mas não denunciam por medo.
"A falta de liberdades é algo que os grupos religiosos da ilha sofrem, e a maioria dos cubanos não tem conhecimento disso", assegurou o jovem realizador à CiberCuba.
Nesty The Producer contou que o tema surgiu após debater entre o grupo, todos jovens cristãos, a importância de defender a verdade e denunciar o que consideram que está errado. Por isso, o encontro de Díaz-Canel em agosto com representantes religiosos foi visto por eles como uma pantomima.
“Deixamos isso bem claro na canção, o Conselho de Igrejas de Cuba não nos representa, não responde aos nossos interesses nem defende nossos problemas, que não são poucos. Algo não está certo desde o momento em que uma instituição que deveria representar uma crença responde apenas a ideologias políticas”, destacou.
O jovem cubano afirmou que desfrutou da experiência desde o início e que, ao ter claras as ideias que queria expressar, em poucos dias terminou de produzir a maquete do beat.
“Depois nos sentamos para organizar a estrutura e, em seguida, cada um escreveu sua parte e gravamos as vozes”, disse, enfatizando que a experiência foi uma bênção.
Ao ser questionado sobre o processo de criação artística pelo qual passou a equipe, Nesty considera impressionante o resultado final.
“Lembro que, quando Lian foi gravar sua parte, Dayani acabava de me enviar a dela: colocamos tudo junto na música e, ao ouvi-la, ele ficou arrepiado da cabeça aos pés e minha irmã chorou. Foi muito bonito ver como o que expressávamos tocava os sentimentos”, enfatizou.
Para Lian Marrero, não há palavras que possam descrever a experiência e a maneira como tantos sentimentos foram encontrados durante o processo de criação.
“Em Cuba, a igreja vive uma realidade que não é a que mostram na televisão. Sou cristão há mais de 15 anos e vivi de perto as convocações do Partido aos meus pastores e as ordens de despejo. Por isso, ter a oportunidade de levantar a voz foi para mim uma bênção, mesmo sabendo do risco que isso implica”, acrescentou.
Embora seja raro ouvir música cristã com uma abordagem de protesto social, questionamos os três jovens cubanos na CiberCuba se isso pode ser a semente de algo muito maior.
“Realmente não é comum e oramos para que este projeto ajude a tirar a venda de muitos. Se conseguirmos isso, dar maior visibilidade a todos os irmãos que sofrem assédio, ameaças e qualquer tipo de coação, estaremos alcançando nosso objetivo”, disse Marrero.
Por sua vez, Cordero Tobar deixou claro que não estão convidando a igreja a fazer algo específico, mas que apelam à consciência de cada um para que atue da maneira que considerar melhor.
"Acredito que a maior conquista seria que as pessoas se identificassem com o que dizemos e se unissem à nossa reivindicação, pois como bem diz o ditado, um pau só não faz monte, e denunciar o que está mal feito deve ser parte do nosso dia a dia", confessou.
Para este jovem, que também se dedica à profissão de barbeiro em Havana, as pessoas podem se tornar melhores se deixarem de lado o orgulho. Embora não seja comum ouvir temas cristãos nesse estilo, faz parte do chamado ao respeito mútuo.
"A Bíblia nos chama a rir com quem ri e a chorar com quem chora, e eu creio profundamente que isso faz parte da grande comissão; é impossível ficar em silêncio diante da injustiça. Se você vê seu irmão sofrendo, esse sofrimento é também seu."
Por sua parte, Martínez Chávez, ao dirigir o videoclipe, deixou claro que a mensagem é dirigida não apenas ao governo cubano, mas a uma nação que ignora as angústias da igreja e aos fiéis que precisam despertar.
“Não está mal exigir uma liberdade que te permita cumprir sua função na sociedade sem medo de que congelem suas contas bancárias, derrubem seu templo ou imponham regulamentos aos pastores, etc. Esperamos que outros encontrem a forma de mostrar a realidade cubana através de sua arte e do que está sendo sofrido. É hora de que a arte não seja apenas entretenimento, mas a representação de um povo amordaçado por temores, medos e ameaças”, concluiu.
Cada um deles, antes de apresentar a música, desenvolveu projetos pessoais nos quais se entrelaçam sua paixão por Cristo e o compromisso com a sociedade.
Martínez Chávez, junto com o jornalista independente Yoe Suárez, criou uma série de vídeos disponíveis no YouTube sobre a liberdade religiosa; assim surgiu a ideia e eles entraram em contato com os demais intérpretes para dar vida a este tema, que por enquanto já ultrapassa mil visualizações na internet.
Lian Marrero se dedicou, antes do surgimento da pandemia do coronavírus, a criar o podcast "La Descarga radioshow", resultado da falta de divulgação da arte cristã em Cuba, onde são realizadas entrevistas e debates para promover as questões dos crentes da ilha.
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