Cidade de Florida que se negava a colaborar com o ICE cede à pressão

A cidade decidiu reverter sua postura.

Agente do ICE (i) e Rond DeSantis (d)Foto © Collage Instagram/ICE - X/Ron DeSantis

A cidade de Key West, no condado de Monroe, nos Keys da Flórida, reverteu sua decisão de cortar laços com o Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE) e votou para retomar sua participação no programa federal 287(g), apenas uma semana após tê-lo anulado.

O mudança ocorreu após fortes pressões do governador, Ron DeSantis, e do procurador-geral da Flórida, James Uthmeier, que alertou sobre possíveis consequências legais e ameaçou destituir os comissionados se não restabelecessem o acordo.

Um rejeição inicial com forte apoio

No início de julho, a Comissão de Key West havia votado para anular seu acordo de colaboração com o ICE, com seis votos a favor e um contra.

Esta postura representava uma ruptura com o programa 287(g), um convenio federal que permite às polícias locais agir como agentes migratórios, incluindo a autoridade para interrogar, deter e prender pessoas por supostas violações das leis de imigração.

Os comissionados expressaram naquele momento sua preocupação com o impacto social do programa na comunidade migrante local, temendo que sua implementação alimentasse um “clima de medo” e desconfiança em relação às autoridades.

A resposta do estado: Advertências e ameaças

A reação de Tallahassee não se fez esperar.

O procurador-geral James Uthmeier acusou a cidade de violar a Seção 908.103 dos Estatutos da Flórida, que proíbe as chamadas “cidades santuário” e obriga as entidades locais a cooperar com a aplicação das leis de imigração federais.

“Espero que Key West escolha o caminho fácil e não o difícil”, advertiu Uthmeier em sua conta do X, antecipando uma resposta legal.

El 2 de julho, enviou uma carta à Comissão da cidade com um aviso ainda mais claro: reintegrar-se ao programa ou enfrentar a destituição.

Em palavras do promotor, “as municipalidades que não entrarem nesses acordos poderão violar a lei da Flórida”.

A reversão: Pressão estatal e votação dividida

Sob uma crescente pressão legal e política, a Comissão de Key West realizou uma nova sessão na noite de terça-feira, na qual reverteu sua decisão anterior com quatro votos a favor e dois contra.

A resolução aprovada indica que a cidade se expunha a sanções se mantivesse sua rejeição ao programa e justifica a colaboração como uma medida para cumprir a legislação estadual e “garantir a segurança de seus residentes”.

A votação ocorreu em um ambiente de tensão, com vaias do público presente, refletindo a divisão que a medida gera na comunidade.

Após o resultado, Uthmeier celebrou publicamente: “Ótima notícia ver que Key West atendeu ao nosso aviso e retomou sua participação no programa 287(g) do ICE!”

O que é o programa 287(g)?

O programa 287(g) foi estabelecido em 1996 e permite que agências locais e estaduais firmem convênios com o ICE para assumir funções próprias dessa agência federal. Através de memorandos de entendimento, o ICE treina policiais locais para:

-Interrogar pessoas detidas e determinar seu status migratório.

-Emitir ordens de detenção migratória.

- Colaborar na custódia e entrega de pessoas às autoridades federais.

- Assumir tarefas relacionadas à deportação de imigrantes com antecedentes criminais.

Este modelo de cooperação foi amplamente promovido durante a presidência de Donald Trump e tem sido criticado por organizações de direitos humanos que o consideram uma ferramenta de criminalização de comunidades migrantes.

Flórida e a linha dura migratória

A Flórida é atualmente o único estado dos Estados Unidos onde os 67 condados assinaram acordos 287(g).

A administração do governador Ron DeSantis consolidou uma política migratória rigorosa, processando legalmente cidades que tentam limitar sua colaboração com o ICE.

Municípios como Miami, Hialeah, Doral e outros já formalizaram sua adesão.

No caso de Miami, o acordo foi aprovado recentemente com o apoio da maioria na comissão, apesar da rejeição de alguns funcionários.

O comissionado Damián Pardo, um dos votos contrários, qualificou o programa como “tóxico para a comunidade imigrante” e advertiu que sua aplicação gerará repressão e medo entre pessoas que ainda estão em processo de regularização.

A su vez, o chefe da polícia de Miami, Manny Morales, tentou esclarecer o alcance do acordo assegurando que não serão perseguidos ativamente os imigrantes, mas que se limitarão a cooperar em casos específicos.

Argumentos de segurança e conformidade legal

A resolução aprovada por Key West afirma que o retorno ao programa 287(g) responde ao “melhor interesse da cidade para cumprir com as leis estaduais e federais”.

Também se argumenta que algumas das recentes prisões nos Cayos da Flórida envolvem imigrantes indocumentados acusados de crimes graves, como homicídio, agressão sexual ou tráfico de drogas.

Para os promotores do acordo, esta colaboração é necessária para garantir a segurança pública e evitar sanções ao governo local.

A comunidade local reagiu com decepção e preocupação. Diversas organizações de defesa dos direitos migratórios denunciaram a mudança de postura dos comissionados como uma capitulação à intimidação estatal.

Durante a sessão pública, muitos residentes expressaram seu descontentamento com a possibilidade de que os agentes locais se tornem extensões do aparato migratório federal.

Activistas temem que isso rompa o vínculo de confiança entre a comunidade e as autoridades locais, o que poderia resultar em uma menor notificação de crimes ou abusos por medo de represálias migratórias.

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