Padre cubano denuncia que a polícia ignora seu alerta sobre um possível assassinato

"Se você for fazer algo contra o governo, a resposta rápida aparece no momento, mas para a comunidade não."


Um padre cubano, identificado nas redes sociais como Noel Darromán, denunciou publicamente a inação da polícia diante da grave situação de seu filho, que, sob efeitos de drogas, tentava agredir e matar seu padrasto. Segundo seu testemunho, apesar de ter ido várias vezes à unidade policial de El Capri, em Matanzas, não obteve uma resposta efetiva por parte das autoridades.

Em um vídeo publicado em sua conta no Facebook, Darromán afirmou: "Estou falando em frente à unidade de El Capri, aqui onde venho reportar o caso de que meu filho consome drogas e devido a isso quer agredir e matar pessoas. Já vim mais de quatro vezes aqui a esta unidade e sempre me dizem a mesma coisa". Diante da falta de resposta policial, garantiu ter contatado a promotoria para solicitar ajuda, mas encontrou entraves burocráticos. "Liguei para a promotoria e expus o problema (...). Agora mesmo, duas pessoas estão tentando se matar e eles têm que esperar, ligar para o 106, seguir um protocolo e, enquanto isso, esperar para ver se aprovam o envio de uma viatura, enquanto estão se matando", expressou em sua denúncia, publicada há dois dias em seu perfil no Facebook, embora o vídeo atualmente já não esteja disponível.

O pai também criticou o uso dos recursos policiais, apontando que presenciou uma patrulha transportando dois jovens, enquanto seu pedido de ajuda era ignorado. "Aqui agora mesmo eu vi sair de uma viatura e colocaram duas meninas de bom corpo, parece que foram levá-las até suas casas. Então a viatura é para levar as garotas que eles acham conveniente para casa, a namorada, talvez a amante, não sei quem. Não pode a viatura ir onde está o caso de que meu filho está drogado", reclamou.

Também lamentou que as autoridades só ajam de forma imediata em casos relacionados à proteção de bens estatais. "Se você vai fazer algo contra o governo, a resposta rápida vem na hora. Mas para a comunidade, não. Ou seja, para nós, cubanos comuns, isso não funciona. Precisamos seguir um protocolo, dar mil voltas (...). Se vão quebrar uma loja e você avisa, eles correm na hora, porque essa é a moeda deles, que precisam proteger. Isso sim precisa ser cuidado. A integridade pessoal, nem a juventude, nada disso", lamentou.

Nos últimos dias, intensificou-se o debate sobre a segurança cidadã em Cuba, com um foco crescente na violência policial e no narcotráfico. O consumo da droga sintética conhecida como "El Químico" alcançou níveis alarmantes, gerando cenas impactantes de jovens em estado de intoxicação severa em plena via pública. Em La Habana Vieja, um vídeo viral mostrou um jovem convulsionando sob os efeitos dessa substância, o que reacendeu o debate sobre o controle de drogas na ilha. A crescente popularidade desse narcótico e seu fácil acesso provocaram apelos urgentes por uma resposta estatal mais eficaz.

As autoridades, por sua vez, aumentaram as operações antidrogas em vários municípios de Havana. Em recentes apreensões, foram confiscadas grandes quantidades de drogas, como cocaína e "El Químico", além de quantias significativas em dinheiro vivo.

Ao longo de 2024, o Ministério do Interior reportou a apreensão de mais de uma tonelada de drogas e a detenção de 1.157 pessoas vinculadas ao tráfico de entorpecentes. No entanto, a percepção de muitos cidadãos é a de que esses esforços são insuficientes ou que a polícia prioriza seus recursos em questões políticas em vez de na segurança pública.

O debate sobre o papel da polícia cubana se intensificou com a recente divulgação de imagens de abuso policial em Havana. Em um vídeo que circula nas redes sociais, é possível ver agentes agredindo brutalmente um jovem pedreiro, sem que ele oferecesse resistência. Este incidente gerou uma onda de indignação, com inúmeras denúncias sobre a impunidade com que atua a Polícia Nacional Revolucionária e a falta de respostas oficiais diante desses acontecimentos.

O contraste entre a ineficácia policial diante de problemas comunitários e sua ação violenta contra cidadãos comuns reforça a percepção de que as autoridades priorizam a proteção dos interesses do Estado sobre o bem-estar da população. Enquanto são implementadas medidas como a criação do Observatório Nacional de Drogas, persistem as dúvidas sobre a capacidade do governo cubano para enfrentar o problema do narcotráfico sem afetar os direitos dos cidadãos.

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