Lembrete oficialista da primeira Noite de Natal com Fidel Castro desencadeia críticas: "De que serviu a revolução?"

O Cubadebate decidiu se deixar levar pelo espírito natalino e acabou se empanturrando com o jantar do dia 24 de dezembro de 1959

Cubadebate © Fidel celebrandomelas la Nochebuena de 1959
CubadebateFoto © Fidel celebrando la Nochebuena de 1959

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A imprensa oficialista tentou se colocar em clima natalino e acabou engasgada com o banquete da Véspera de Natal de 1959. O portal Cubadebate compartilhou no Facebook uma foto de Fidel Castro convivendo com famílias da Ciénaga de Zapata, a maioria delas dedicada ao carvão, no Natal de 1959, que, segundo eles, foi percebido como a "Noite da liberdade". No entanto, naquele final de ano, após a aprovação da Reforma Agrária, muitos cubanos carregavam a dor de ter perdido boa parte de suas terras.

O tempo demonstrou que muitas dessas terras nunca mais foram cultivadas e que o que, até a chegada dos comunistas, produzia como propriedade privada, como propriedade coletiva se encheu de marabú. A dor foi em vão.

Conta o Cubadebate que no jantar de véspera de Natal da Ciénaga de Zapata em 1959 participaram Fidel Castro e Celia Sánchez, juntamente com o ministro da Agricultura, Pedro Miret, e o capitão Antonio Núñez Jiménez, diretor do Instituto Nacional de Reforma Agrária (INRA), ambos acompanhados por suas esposas.

Assim que chegaram à Ciénaga de Zapata, os novos dirigentes se sentaram sob uma árvore para observar como assavam um porco ao estilo local. Um dos vizinhos comentou sobre a diferença em relação aos amarillos de Batista, que um ano antes haviam invadido para roubar a leitoa e, de passagem, mataram um sobrinho, cuja sepultura nunca foi descoberta.

Os comentários ao post do Cubadebate não demoraram a aparecer e o que a meca do oficialismo interpretou como uma revisão da hemeroteca, os internautas encararam como uma piada macabra, em meio à terrível escassez e à escuridão que a Ilha enfrenta.

Um usuário do Facebook que se identifica como Dioelis Rivera lamenta que "agora nem a Noite de Natal existe. Tudo é ruim, (o país) mergulhado na escuridão dos apagões. De que serviu a 'revolução' se agora se vive pior do que antes?", questiona.

"Jornalista, você sabia que hoje, 24 de dezembro, véspera de Natal, a província de Matanzas amanheceu às escuras? Apenas alguns poucos circuitos estão com eletricidade", retrucou a internauta Patricia Llera, que recebeu várias respostas ao seu post, entre elas a de Osmel Barnat, afirmando que em Mayabeque a situação é a mesma. "Que desastre tudo", escreveu.

Mayita Díaz, por sua vez, afirmou que Cuba é o único país do mundo em que o Natal não é celebrado. "Esse senhor só trouxe tristeza para o povo", comentou, referindo-se a Fidel Castro.

Pablo Álvarez esclareceu que em 1959 ainda restavam vestígios do capitalismo. "Alguns anos após a implementação do socialismo, chegaram a fome, a pobreza generalizada e a falta de liberdades individuais e econômicas, estabelecendo as bases do que é a Cuba de hoje; mergulhada na escuridão, com mais de 1/4 de sua população fugindo do socialismo dirigido pelo PCC", apontou.

Suárez Jorge reagiu de forma mais negativa e chamou a atenção da jornalista que assina o artigo por lembrar uma Noitebuena de Fidel Castro, depois que ele pôs fim a essa celebração católica em Cuba. "É uma falta de respeito dessa jornalista para com o povo, que há anos não sabe o que é um Natal ou uma Noitebuena. Eles acabaram com todas as tradições dos cubanos."

É muito difícil encontrar um único comentário em apoio ao reportagens de Natal do Cubadebate. Roman Hernández resume essa Nochebuena de Fidel Castro na Ciénaga de Zapata como o último jantar em família. "Todos os outros foram horrendos, chegou o comunismo e a felicidade do povo cubano acabou."

Um dos comentários mais aplaudidos foi o de María del Carmen Álvarez. "Que pena! Tantos mortos por isso", disse, e recebeu 12 curtidas.

Na mesma linha, Ibet Díaz de Celis Curbelo lembrou que "hoje, 24 de dezembro, mas de 2024, se come no escuro", dentro de Cuba.

Yuneil Cepena Gijón chamou a atenção para o fato de que na mesa servida a Fidel Castro em 1959 na Ciénaga de Zapata havia mais comida "do que na mesa de milhões de cubanos hoje".

Por último, Aylén López resumiu o sentimento geral: "Para mim, este é o pior 24 de dezembro. Sem eletricidade, sem comida e sem alegria. Não vejo nenhum desejo de comemorar", disse.

Fidel Castro eliminou o feriado de Natal em dezembro de 1969, obcecado pela safra dos 10 milhões, que nunca foi alcançada. Ele restabeleceu o feriado em 1998 durante a visita do Papa João Paulo II a Havana. Desde então, o 25 de dezembro é feriado em Cuba, mas o que não conseguiu reverter foi a tradição de um jantar em família. A grande emigração deixou os ninhos vazios em Cuba.

A autora do reportagem que indignou os cubanos é Francisca López Civeira, Prêmio Nacional de História (2008), Prêmio Nacional de Ciências Sociais (2022) e Prêmio Félix Varela, entre muitos outros prêmios desse tipo concedidos pelo regime.

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Tania Costa

(Nascido em La Habana, 1973) vive na Espanha. Dirigiu o jornal espanhol El Faro de Melilla e a FaroTV Melilla. Foi chefe da edição murciana do 20 minutos e assessora de Comunicação da Vice-Presidência do Governo da Murcia (Espanha)