O líder do dueto Buena Fe e fervoroso defensor do regime cubano, Israel Rojas, voltou a acusar o “império” estadunidense pela crise sistêmica que o país enfrenta e pelo maior êxodo de sua história, que levou quase dois milhões de pessoas a escapar da Ilha, fugindo da fome, da repressão, da pobreza e da falta de oportunidades.
Em entrevista para a La Iguana TV, conduzida pelo comunicador e deputado da Assembleia Nacional da Venezuela, Alberto Alvarado, o cantor e oficial do ministério do Interior cubano (MININT) voltou a responsabilizar o governo dos Estados Unidos pelo fracasso econômico e social dos regimes de Havana e Caracas.
A entrevista, exibida no final de novembro - e com apenas 1.798 visualizações até o momento no YouTube - serviu para que ambos os defensores de seus respectivos regimes autoritários e violentos celebrassem os ditadores Fidel Castro e Hugo Chávez, e lamentassem suas “dores comuns”, infligidas, segundo eles, pelas políticas “imperiais” dos Estados Unidos.
"Temos dores comuns. O tema da emigração para Cuba e para a Venezuela tem sido muito doloroso, tem sido uma estratégia para nos desarraigar, para romper famílias, para nos levar ao limite, para que a carência e a pobreza se tornem ferramentas de guerra. Isso é brutal. Eu não sei como o mundo atual, no pleno século XXI, pode permitir uma coisa assim", disse Rojas na entrevista.
Segundo o trovador panfletário do Palácio, os Estados Unidos continuam “utilizando medidas econômicas para matar um povo, desindustrializá-lo e sufocá-lo para que o povo se revolte”.
“Não contra seus governantes, mas sim que se rebela a favor daqueles que mais estão trabalhando para desenvolvê-lo. Para que esse mesmo povo confuso, sem identidade, abrace aqueles que mais lhes fazem mal, seus homens e mulheres mais esclarecidos para que se desenvolva. Isso é horrível!” (sic), disse o músico de forma incoerente e com grandes gestos.
Além do lapso ou disparate de “rebelar-se a favor dos que mais trabalham para desenvolvê-lo”, a preocupação de Rojas com “a confusão” do povo levou-o a explicar a lógica que, supostamente, está subjacente ao imperialismo norte-americano.
“É um discurso tão imperialista e tão egocêntrico que tudo aquilo bonito do que falam - o progressismo e a democracia - é para eles. Para você não; o que te cabe é colher batata-doce, o que te cabe é cultivar tomates, o que te cabe é me dar os seus recursos”, explicou o autor de Catalejo, um privilegiado do regime cubano que não se curva para os capatazes do “império”, nem colhe batata-doce para “os donos da fazenda”.
Comprovada a sintonia entre Rojas e Alvarado, o letrista do regime cubano não quis deixar o assunto sem acrescentar mais um verso à sua visão maniqueísta e parcial do mundo, e convocou à concórdia universal com uma imagem típica de pioneiro comunista e vanguarda do ensino doutrinado que canta na manhã.
Recordando seus tempos felizes, quando beijava o lenço vermelho e cantava "A Roda" de Digna Guerra (aquele panfleto melífluo que dizia “todas as crianças do mundo vamos fazer uma roda”), Rojas concluiu afirmando: “Eu quero que todo mundo ande de mãos dadas” e continuou denunciando o imperialismo americano com a mesma sinceridade de uma criança vestida com um short vermelho, emocionada em sua tribuna e lançando slogans simplórios para os poucos que seguem a La Iguana.
Israel Rojas: Líder de Buena Fe, provocador, "amante do amor" e figura controversa
Israel Rojas é o líder e vocalista do duo Buena Fe, fundado em 1999 junto a Yoel Martínez na província de Guantánamo. Além do aspecto musical, sua carreira não tem sido isenta de polêmicas.
Em maio de 2023, negou a existência de presos políticos em Cuba, afirmando: “Que eu saiba, não há”. Essas declarações geraram críticas contundentes, especialmente por parte de familiares de pessoas detidas durante os protests de 11 de julho de 2021, que o apontaram por sua aparente insensibilidade e sua cumplicidade com o regime cubano.
Em setembro de 2023, diversos concertos de Buena Fe na Espanha foram cancelados em meio a um contexto de tensão política. Embora não tenham sido dadas explicações oficiais, especulou-se que as suspensões estivessem relacionadas ao apoio de Rojas ao governo cubano e às manifestações de grupos exilados contra sua presença.
Em abril de 2024, o músico voltou ao centro da controvérsia após a filtragem de fotos ao lado do apresentador de televisão e porta-voz do regime cubano, Humberto López, enquanto desfrutavam de uma festa do ex-ministro da Economia, Alejandro Gil Fernández.
"É preciso almejar a inteligência, almejar o amor, isso se conquista com amor", disse Rojas em uma entrevista de 2020 para o meio oficialista Escambray.
Vendedor ambulante do "amor à revolução e seus líderes", Rojas não hesita em chamar de "anormais digitais" os ativistas cubanos por mudanças, denegrir a sociedade civil independente e cobrar 3.000 pesos por pessoa por um jantar-concerto de Natal em um país cujo regime estabeleceu o salário mínimo em 2.100 pesos cubanos.
Perguntas Frequentes sobre as Declarações de Israel Rojas e a Situação em Cuba
O que Israel Rojas argumenta sobre a crise em Cuba?
Israel Rojas responsabiliza o "império" americano pela crise econômica e social em Cuba, acusando os Estados Unidos de utilizar medidas econômicas para desindustrializar e sufocar o povo cubano, resultando no maior êxodo da história da ilha.
Como a comunidade internacional reagiu às acusações de Israel Rojas?
A comunidade internacional, especialmente os críticos do regime cubano, tem apontado que o governo cubano utiliza as sanções e políticas dos Estados Unidos como desculpas para seus próprios fracassos econômicos e políticos. No Congresso dos EUA, alguns políticos defendem o endurecimento das sanções, enquanto outros sugerem que o embargo não conseguiu melhorar as condições do povo cubano.
Qual tem sido a resposta de figuras culturais cubanas à situação atual em Cuba?
Artistas como Silvio Rodríguez começaram a criticar abertamente as políticas econômicas do governo cubano, exigindo mudanças urgentes. Por outro lado, músicos como Al2 El Aldeano e El B têm utilizado sua arte para denunciar as carências e a repressão em Cuba, clamando por liberdade e pelo fim da ditadura.
O que disse o regime cubano sobre o êxodo em massa de cubanos?
O regime cubano tem tentado minimizar o êxodo em massa, classificando-o como um "novo cenário demográfico e social" sem conotação política. No entanto, estima-se que um milhão e trezentos mil cubanos mantenham residência em Cuba, mas vivam no exterior, o que reflete a magnitude da crise migratória.
Arquivado em: