Desespero no banco de Jovellanos: multidão de trabalhadores sem acesso total a seus salários

Em Jovellanos, Cuba, trabalhadores enfrentam longas filas e restrições para acessar seus salários em dinheiro devido à crise de liquidez e à bancarização forçada, o que gera descontentamento e caos.


A situação no banco do município de Jovellanos gerou descontentamento entre a população, especialmente entre os trabalhadores que, após longas jornadas de trabalho, se veem obrigados a esperar por horas em filas para conseguir acessar apenas uma fração de seu salário. A cena, que se tornou comum em várias partes do país, reflete a crise de liquidez e a imposição do sistema de bancarização, que acabou dificultando ainda mais o acesso ao dinheiro em espécie.

Mais de 150 pessoas, na sua maioria trabalhadores e aposentados, se concentraram em frente à agência bancária de Jovellanos, onde, segundo denunciaram, só é permitido receber uma parte do seu salário. "O banco só paga às terças e quintas-feiras, o que faz com que muitos de nós tenhamos que faltar ao trabalho para poder receber", relatou um dos afetados. Essa medida, longe de beneficiar os usuários, gerou caos, longas esperas e indignação entre a população.

Os testemunhos indicam que, dos 4.000 pesos que um trabalhador poderia receber, apenas é permitido retirar 2.000. Para agravar ainda mais a situação, o dinheiro é entregue em notas de baixa denominação, como as de 5, 10 ou 20 pesos. Isso gera um grande desconforto, uma vez que muitas MiPymes (micro, pequenas e médias empresas) não aceitam essas notas para pagamentos, forçando as pessoas a buscar alternativas para trocá-las, o que aumenta ainda mais a desesperança.

"Estamos tão modernos que agora temos cartão, mas não há energia nem dinheiro suficiente", observou um cidadão com evidente ironia e frustração. Esse comentário reflete o contraste entre o discurso oficial sobre a modernização do sistema bancário e a dura realidade enfrentada pela população diariamente.

Os problemas para acessar dinheiro em espécie não são exclusivos de Jovellanos. Em diversas cidades do país, os cubanos enfrentam longas filas, limites na quantidade de dinheiro que podem retirar e notas de baixa denominação, o que agrava o acesso aos bens de consumo. Em Santiago de Cuba, as pessoas fazem fila desde a madrugada para conseguir retirar suas pensões ou salários. Os trabalhadores têm que confrontar essa situação mês após mês, o que gerou denúncias sobre as condições desumanas que enfrentam, especialmente os idosos, muitos dos quais passam a noite na rua na esperança de conseguir seu dinheiro. Segundo testemunhas, “a maioria nem sequer tem esperanças de conseguir dinheiro”, já que os bancos não conseguem atender à demanda da população.

O processo de bancarização em Cuba, impulsionado de forma acelerada e obrigatória pelo governo, tem sido apontado como uma das principais causas da atual crise de liquidez. A ministra presidente do Banco Central de Cuba (BCC), Juana Lilia Delgado Portal, reconheceu que "no país há mais dinheiro do que nunca", mas admitiu que o fluxo de caixa se inverteu, gerando dificuldades para atender à demanda da população. A situação levou o Banco de Crédito e Comércio (BANDEC) em Sancti Spíritus a suspender a recarga de caixas eletrônicos, obrigando os cidadãos a retirar o dinheiro nas agências, o que, por sua vez, tem aumentado as filas e o descontentamento social.

As medidas governamentais, como a recomendação de utilizar o serviço de "Caja Extra" em armazéns e lojas estatais, também não resolveram o problema. As reclamações dos cidadãos são frequentes, uma vez que muitas dessas entidades não estão preparadas para oferecer esse serviço. Enquanto isso, as longas filas nos caixas eletrônicos e bancos de todo o país refletem a incapacidade do sistema bancário em atender à demanda por dinheiro, com situações críticas em localidades como Santiago de Cuba, Bayamo, Havana e Las Tunas. As queixas da população concentram-se na falta de soluções reais por parte do governo, que não conseguiu reverter a situação, apesar das numerosas reclamações públicas.

Perguntas frequentes sobre a crise de liquidez em Cuba e o acesso a salários.

Por que os trabalhadores em Jovellanos não conseguem acessar seus salários completos?

A crise de liquidez em Cuba e a imposição do sistema de bancarização têm feito com que os trabalhadores em Jovellanos consigam acessar apenas uma fração de seus salários. Os bancos permitem apenas o saque de uma parte dos salários, e os dias de pagamento estão restritos a determinados dias da semana, o que resulta em longas filas e faltas ao trabalho para conseguir o dinheiro.

Quais problemas os aposentados enfrentam em Cuba para receber suas pensões?

Os aposentados enfrentam longas filas desde a madrugada para receber suas pensões devido à falta de dinheiro nos bancos e caixas eletrônicos. A situação é especialmente difícil para os idosos, que muitas vezes precisam passar a noite na rua para garantir um lugar na fila. Além disso, as pensões mínimas são insuficientes para cobrir as necessidades básicas, o que agrava sua situação econômica.

Quais medidas o governo cubano tomou para resolver a crise de liquidez nos bancos?

O governo tem promovido a obrigatoriedade da bancarização e recomendado o uso do serviço "Caja Extra" em lojas estatais. No entanto, essas medidas não resolveram o problema, uma vez que muitas entidades ainda não estão preparadas para oferecer esse serviço e a falta de dinheiro em espécie persiste. A situação resultou em um aumento nas reclamações e no descontentamento social.

Como a falta de dinheiro afeta as pequenas empresas e comércios em Cuba?

A falta de dinheiro em espécie afeta gravemente as micro, pequenas e médias empresas (MiPymes) em Cuba, uma vez que muitas delas não aceitam notas de menor valor e preferem pagamentos em dinheiro. Isso dificulta as transações e obriga os cidadãos a procurar alternativas para trocar suas notas, aumentando a frustração e a desesperança entre a população.

O que disse o Banco Central de Cuba sobre a disponibilidade de dinheiro no país?

A ministra presidenta do Banco Central de Cuba reconheceu que há mais dinheiro do que nunca no país, mas que o fluxo de caixa se inverteu, gerando dificuldades para atender à demanda da população. O dinheiro se concentra em poucas mãos, e o governo indicou que é necessário agir para que os recursos voltem ao sistema bancário, embora não tenha detalhado como planejam alcançar isso.

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Luis Flores

CEO e cofundador do CiberCuba.com. Quando tenho tempo, escrevo artigos de opinião sobre a realidade cubana sob a perspectiva de um emigrante.